Pois é, nunca me senti tão identificada com um personagem de cinema quanto com o Inspetor Closeau, da série A Pantera Cor de Rosa, interpretado pelo Peter Sellers. Ele era todo atrapalhado, não tinha um pingo de coordenação motora, mas era sortudo e, em geral, seus casos acabavam bem, e ele saia ileso.
Comigo é bem assim. Esta semana, falei pro meu editor que não estava inspirada e que não ia sair coluna. E ele respondeu: “Fala dos casos do ferro elétrico e da garrafa térmica!”.
E me pus a pensar em todas as vezes em que me coloquei em risco, por fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo ou por não prestar atenção ao que não me parece interessante…
E me veio à cabeça uma cena que ocorreu comigo lá em Guayaquil, na Costa do Equador, em 1980. Eu havia sido enviada pela Embaixada do Brasil em Quito, onde fazia estágio no Setor de Promoção Comercial, para trabalhar no Pavilhão Brasileiro em uma feira internacional.
Havia máquinas agroindustriais de todos os tipos possíveis, e eu, encantada, perguntava para que serviam, qual era sua capacidade de produção, quanto custavam, estas coisas que jornalistas gostam de saber.
De repente, eu me aproximei de uma delas e, antes que pudessem me dizer que não devia ultrapassar a faixa amarela, pintada no chão, aquela máquina antropófaga me puxou pela barra do vestido indiano que usava e, não fosse a agilidade do técnico encarregado, teria me debulhado, como a vi, fazer, mais tarde, com vários tipos de grãos.
Lembro da gritaria do povo em volta de mim e que, em seguida, me deram uma toalha de mesa para que que usasse como saia, pois tinham cortado a parte engolida do vestido, e me levaram ao hotel, para trocar de roupa.
Agora dá pra rir, mas lhes conto que, na hora, não foi nada engraçado.
Histórias com ferros de passar tenho várias. Mas conto uma só, a pedido do meu editor.
Sou de uma geração que foi à escola com a camisa do uniforme engomada até que, em 1961, surgiram as benditas Volta ao Mundo, feitas de tecido de fibra de nycron produzido pela Sudamtex.
Eu observava a função que era a lavanderia daquela casa cheia de crianças e ficava apavorada. As roupas brancas eram deixadas de molho com anil, fervidas em um fogareiro de carvão, ensaboadas, quaradas (colocadas ao sol), esfregadas e enxaguadas no tanque antes de serem penduradas no varal.
Depois, várias peças eram engomadas e outras apenas passadas à ferro. E eu achava aquilo uma tortura chinesa e jurava que, quando tivesse minha própria casa, tudo ia ser diferente.
Então, faz muitos anos que compro basicamente roupas que não precisam ser passadas. Mas eis que, no último verão, em um dia super quente, decidi pôr uma blusa de algodão que adoro.
Então, armei a tábua de passar, esquentei o ferro, passei a blusa no maior capricho e, enquanto a levava até o meu quarto, pensei: “Esta mania de passar roupa pelada ainda vai acabar mal. Qualquer dia queimo a barriga com o ferro.”
Depois de alguns minutos, voltei à cozinha, para guardá-lo, mas, quando toquei na tábua de passar, ela desmontou, e vi o ferro vindo na minha direção. O que fariam vocês nessas circunstâncias? Eu, instintivamente, levantei a perna direita dobrada e o aparei com a parte dianteira da coxa.
E, já que meu editor pediu, conto, rapidinho, para encerrar esta coluna, o caso da garrafa térmica.
Anos atrás, cheguei na Secretaria de Educação de Cachoeirinha, para participar de uma reunião, e tive de atravessar uma sala onde várias professoras trabalhavam, compartilhando o chimarrão. De repente, uma delas gritou: “Oi, Sônia!”. E eu me virei, rapidamente, para ver quem era, e, com uma bundada, fiz voar a garrafa térmica que estava em uma mesinha alta.
Depois da reunião, voltei em casa e peguei uma garrafa linda, que havia comprado uns dias antes, no BIG, e ainda não tínhamos usado, e a levei à Smed, para repor a que tinha quebrado.
E, desde então, vira e mexe tenho de aguentar meu filho Bruno recontando esta história…