Venceu quem teve mais ambição, equilíbrio e iniciativa. Num duelo digno do maior clássico do Planeta Bola, o Inter de Coudet confirmou o favoritismo, ganhou confiança para a sequência da temporada e consolidou a melhor campanha da primeira fase no Gauchão 2024 — abrindo cinco pontos do tradicional adversário.
Renato reconheceu o melhor momento dos mandantes e dispôs a equipe com quatro volantes tendo o modelo 4-1-4-1 como desenho base. Dodi aberto à direita foi a maior surpresa do comandante para o duelo.
Eduardo Coudet apostou na mecânica, na sequência, na continuidade. A volta de Maurício devolveu naturalidade ao 4-1-3-2. O camisa 27 fez a primeira partida como titular no ano e justificou o retorno com um gol e uma assistência. Enxergo o canhoto como um dos mais titulares, mesmo se Borré formar dupla com Valência no segundo semestre.
Na primeira necessidade do jogo, o tricolor foi relativamente bem: negar espaços ao adversário. O time povoou o meio, tentou explorar os contragolpes e jogou no erro do rival. Pragmatismo Futebol Clube! Postura coroada pelo bisonho gol contra de Renê. Discordo, porém, da ausência de Pavón entre os titulares. Seria punição por ter estreado com um gol e duas assistências na semana passada? Menos mal que o garoto Gustavo Nunes teve jornada digna de um veterano e, mesmo isoladamente, garantiu algum “respiro” à equipe.
No primeiro duelo contra um time da Série A na temporada, o Internacional teve uma prévia do que, talvez seja o maior desafio de 2024: superar equipes com proposta defensiva. O time precisa ser mais rápido na troca de passes, principalmente na transição defesa-meio. Dois centroavantes ou apenas um. A variação foi decisiva para o triunfo e ilustra repertório do time de Coudet. Ideal que ao longo do ano o desenho ganhe mais alternativas.
Embora o relativo mérito defensivo, o Grêmio pecou pela “covardia”, principalmente quando Villasanti aproveitou-se de rara troca de passes do time e colocou o tricolor novamente em vantagem (1 x 2), calando momentaneamente o Beira-Rio. Na área técnica, Renato já conversava com Pavón para reequilibrar a equipe. Entretanto, voltou atrás e dobrou-se à ditadura do resultado. Naturalmente, o Inter cederia ainda mais espaços. Seria a chance de liquidar do duelo, sem perder o equilíbrio, já que abriu mão apenas de Dodi, não desfazendo a trinca de volantes em nenhum momento. O castigo aos “azuis” veio no último lance da partida.
No Inter, ao contrário, saiu Bruno Henrique e ingressou o centroavante Lucas Alário. Resposta em tempo recorde. Falha de Marchesín, bola na rede e Caíque, talvez, renascendo no imaginário tricolor. Confronto igualado uma vez mais. Num lance patético, Bustos praticamente tirou Valência do clássico. Um carrinho no aquecimento fez o camisa 13 jogar visivelmente “descontado e desconfortável”.
Depois do empate, Pavón e Gustavo Nunes (e depois Nathan Fernandes) deixaram o Grêmio com postura minimamente condizente com a sua grandeza. Nesse ponto, o Inter ilustrou que ambição é diferente de desequilíbrio. Os volantes Rômulo e Bruno Gomes entraram em campo representando os cuidados defensivos.
Para o Grêmio, o empate estava de bom tamanho. Para o Inter estaria mais ainda, levando em conta a vantagem na pontuação. Mas Coudet tentou a última cartada e, aproveitando-se da postura do rival, voltou a apostar numa dupla ofensiva: Lucca e Alário.
Com mais jogadores no último terço de campo, o alvirrubro desencaixou novamente a marcação tricolor e criou terreno para o lance crucial — assim como ocorrera no primeiro empate com gol de Maurício. No entrelinhas, perto da meia-lua, no habitat natural daqueles que são diferentes, decisivos, imprevisíveis.
Alan Patrick! Um camisa 10 de fato e de direito. Sofreu pênalti “polêmico” de Kannemann e converteu com maestria! De quebra, ainda igualou-se a dois capitães emblemáticos na história do clube com 4 gols em Gre-Nais: Figueroa e Fernandão.
Falando em polêmica, a ausência do VAR era a crônica do fracasso anunciado. E não deu noutra! Uma pena “desperdiçarmos” grande parte dos debates com as decisões e condutas da arbitragem. Nos primeiros lances, por exemplo, Daronco se omitiu ao não “amarelar” Rodrigo Ely e Bustos. No primeiro gol do Inter e no pênalti… polêmica aberta e interminável.
A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) precisa viabilizar a tecnologia para todos os jogos em 2025. Existem estádios que não comportam? Que os times atuem em outras praças, algo do gênero.
Enfim, voltando ao jogo propriamente dito…
Nem sempre é assim, mas ao menos dia 25 de fevereiro de 2024, os deuses da bola dobraram-se ao Futebol Além do Resultado que busca o resultado. Futebol nunca foi e jamais será apenas um ato defensivo.
Parabéns à Nação Alvirrubra e alerta aos “azuis”.