A empresa paranaense Brink Mobil, líder de um consórcio com contrato de R$ 41 milhões para fornecer uniformes escolares à rede estadual do Rio Grande do Sul – e responsável por atrasos nas entregas de kits em escolas de Gravataí, Canoas e Porto Alegre –, opera em endereços que na realidade abrigam uma oficina mecânica, uma transportadora e uma loja de pneus.
A descoberta é parte de uma investigação da RBS TV, que em reportagem de Giovani Grizotti, Gunther Scholer e Ana Capellari expõe inconsistências no cadastro da fornecedora, alvo de sanções em outros estados e agora de apuração da Polícia Civil gaúcha.
A reportagem visitou o endereço cadastrado pela Brink Mobil em Sananduva (RS), onde deveria funcionar uma filial. No local, encontrou apenas uma oficina mecânica. O proprietário, Oscar Spiller, afirmou à equipe da RBS TV nunca ter ouvido falar na empresa. Confrontado, o diretor da Brink, Valdemar Ábila, inicialmente insistiu no endereço, mas minutos depois alegou que a sede regional seria em Nova Santa Rita. Ao checar o novo local, a equipe da RBS TV encontrou uma transportadora e uma loja de pneus. O dono do imóvel negou qualquer vínculo com a Brink.
Ainda conforme o GDI, grupo de investigação da RBS, a situação reflete um padrão: em Uberlândia (MG), a Brink está impedida de licitar após descumprir prazos em contrato similar, recebendo multa de R$ 524 mil.
O contrato com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) abrange as regiões de Gravataí, Canoas e Porto Alegre, com entrega prevista para fevereiro. Até agora, 25 das 2.196 escolas estaduais seguem sem receber os uniformes. A Seduc atribui o atraso à “alta demanda e volume de peças”, mas pais e professores cobram soluções.
Investigação criminal
A Brink também é investigada pela Polícia Civil do RS por suspeitas de fraude em contratos com a prefeitura de Porto Alegre. O delegado Augusto Zenon Rocha apura compras “sem planejamento e com direcionamento” após a enchente de 2024. Materiais pedagógicos da empresa foram encontrados abandonados em um depósito.
O especialista em licitações José Luiz Blaszak alertou à RBS: “Endereço falso contamina toda a licitação. Cabia à comissão verificar isso”. A Seduc, no entanto, defende-se afirmando que a Brink cumpriu exigências legais e que “a localização física não compromete a capacidade técnica”. A empresa foi notificada a esclarecer as inconsistências, mas seu diretor evitou novos contatos com a reportagem.
Em nota, a Secretaria de Educação reiterou que o processo seguiu a Lei de Licitações (14.133/2021), que prioriza documentação comprobatória sobre estrutura física. A regionalização em nove lotes, segundo a pasta, visou “celeridade e eficiência”.