Clientes de ao menos dois escritórios de advocacia de Gravataí foram alvos do ‘golpe dos precatórios’. A partir de quatro ocorrências registradas nos primeiros dias de fevereiro na 1ª Delegacia de Polícia Civil o delegado Marcio Zachello vai abrir inquérito para investigar o esquema que pede depósitos para liberação do dinheiro devido por governos a pessoas físicas e jurídicas.
Para se ter uma ideia do potencial do golpe, só a Prefeitura de Gravataí tem R$ 66 milhões em precatórios inscritos em 2019. No Rio Grande do Sul, o estoque ficou em R$ 12,7 bilhões no ano passado.
Os precatórios são dívidas trabalhistas ou cíveis, com condenação judicial definitiva ou irrecorrível, já inscritas no orçamento público para pagamento.
Credor de R$ 86 mil em precatório municipal caiu no golpe. Ele recebeu uma ligação, com código 51 no celular, de suposto advogado, com sotaque gaúcho, pedindo em nome do escritório responsável pelo ganho da causa, um depósito de R$ 3,8 mil para o pagamento de taxas judiciais necessárias para a liberação do dinheiro.
No mesmo dia 2 de fevereiro, o funcionário público aposentado fez o depósito em uma conta da Caixa Econômica Federal – agência 0751, de Maranguape, Ceará – e só após receber nova ligação, agora pedindo R$ 8,8 mil, fez contato com seu advogado de Gravataí, que informou não trabalhar com nenhum tipo de cobrança para liberação do precatório.
Ao pesquisar a origem da dívida, o profissional, que trabalha com uma causa estadual da vítima, observou que o precatório era municipal e ligado a outro escritório da cidade, que também negou qualquer cobrança extra.
Suspeitando de um golpe, já que dados sobre precatórios podem ser consultados em portais de transparência de governo e em processos nos tribunais de justiça, os advogados dos dois escritórios orientaram o cliente a registrar ocorrência policial e dispararam mensagens de WhatsApp avisando clientes.
Três outros casos foram relatados, mas em nenhum deles credores fizeram os depósitos. Em uma das tentativas de fraude, esposa tinha sido avisada pelo marido, que tinha recebido o alerta do escritório com o qual seu precatório tem ligação.
– O procedimento é tentar identificar os beneficiários desses valores que foram pagos de forma indevida, os titulares das contas bancárias utilizadas (que em geral são de ‘laranjas’, que emprestam seus dados) e aí podemos chegar aos verdadeiros golpistas – projeta o delegado.
Com a experiência de quem já está com pedido de aposentadoria encaminhado, Marcio Zachello alerta que, em muitos casos, são utilizados documentos falsos para abertura das contas.
– É aí que fica difícil a investigação. Mas tentaremos identificar os golpistas.
A orientação é de que quem for procurado rejeite propostas e procure a Polícia Civil. Outra recomendação é não fornecer dados pessoais a terceiros, já que essas informações podem ser utilizadas para fins ilícitos.
Para preservar as vítimas, o Seguinte: não divulga o nome das pessoas lesadas e nem dos escritórios, mas os dados e documentos apurados pela reportagem, como o nome do advogado e a conta usada para receber o depósito já foram repassados ao delegado.
O celular usado pelos golpistas resta desligado desde quinta.