Numa conversa recente com o jornalista Jorge Polydoro, do Instituto Amanhã, que atua entre RS e SP, ouvi dele uma abordagem reveladora sobre o abismo cultural entre o extremo sul e os estados acima de SP/Rio, desde Minas Gerais e Bahia até o nordeste.
Segundo Polydoro, o Rio e SP ocupariam uma posição centralizadora das culturas regionais, sem chances de intercâmbio direto entre esses vários estados. Quer dizer, só sabemos do que ocorre culturalmente no nordeste pelo que ecoa na mídia carioca e paulista, pelo que ela decide filtrar.
Assim como os nordestinos só tomam conhecimento do que produzem gaúchos, catarinenses e paranaenses através desse mesmo eco e filtro. Por aí se pode calcular a extensão do desconhecimento que temos uns dos outros.
Não é o caso, claro, de responsabilizar a imprensa; o que interessa é questionar esse nó no meio do caminho, que atrapalha, talvez até impeça, a promoção das artes (música, llteratura, cinema, folclore, artes visuais etc) com eventos lá e cá, criados por iniciativas locais, e não sob o domínio cultural do centro do país.
O que separa Chiclete com Banana (música de autoria de Gordurinha e Almira Castilho), gravada por Jackson do Pandeiro em 1959, e, por exemplo, Coração de Luto, do Teixeirinha, não é somente a quilometragem. Inclui o cacoete midiático – premeditado ou não – que jornais, rádios e tvs acabaram por estabelecer no miolo do país. Isso precisa mudar: as identidades regionais devem se aproximar sem intermediação alguma.
O vídeo que ilustra este post, uma homenagem a Jackson do Pandeiro, faz parte do projeto Cidade do Samba, que valoriza a MPB em shows com duplas ímpares. Veja outros vídeos aqui.
Para conhecer melhor o irrequieto paraibano Jackson do Pandeiro, só indo virtualmente até a Paraíba: acesse o ótimo blog em homenagem ao artista, criado e mantido por Clotilde Tavares.