Jones Martins recebeu o troféu personalidade política do ano, no Prêmio Destaques da Aldeia 2016, da Câmara de Vereadores. O Seguinte: conta mais sobre o deputado federal de Gravataí e suas posições polêmicas
O colégio Tuiuti foi uma incubadora do PT na metade dos anos 80. Inspirados nos professores Daniel Bordignon e Tânia Ferreira, uma geração de petistas mitou ali Lênin e Lula. Nos bancos carcomidos da escola da Bonsucesso sentaram políticos como o ex-prefeito e ex-deputado estadual Sérgio Stasinski e o vereador Márcio Souza.
Um adolescente, que também seguiu a política, não se guiou pela estrela vermelha.
– Me salvei – sorri Jones Martins (PMDB).
– Inclusive rodei na oitava série e sempre digo quando encontro a Tânia que foi perseguição política – brinca o hoje deputado federal, que foi a personalidade política do ano do Prêmio Destaques da Aldeia, entregue quinta-feira pela Câmara de Vereadores.
Lado, Jones sempre teve. Vereador entre 2000 e 2008, estreou fazendo uma oposição quase solitária ao governo de Daniel Bordignon, quando o ex-professor vivia, entre o afago e a mão de ferro, o auge da popularidade e era cotado até para concorrer ao Governo do Estado.
Poucos lembram, mas partiu de Jones e dos vereadores Vail Correa e Alexandre Bittencourt a denúncia de contratação de mais de mil funcionários para a Prefeitura que neste mês, após 11 anos de processo e depois de tirá-lo de duas eleições e encrencá-lo na de outubro último, condenou Bordignon a suspensão dos direitos políticos por cinco anos.
– Dia 20 faço 45 anos de vida e 27 de PMDB, meu único partido – recorda, lembrando que teve a ficha abonada pelo vereador Jarbas Tavares da Silva.
O irmão de Jones, Juacir, tinha sido eleito vereador em 89 pelo PDT de José Mota e, após um desacerto que devastou a bancada trabalhista, se filiou ao PMDB.
: Jones recebe troféu Destaque da Aldeia das mãos do vereador Alan Vieira (PMDB)
A parceria com Marco
O ouvido ligado nas conversas dos políticos e as idas à Câmara despertaram no irmão do Juacir a admiração por outro vereador, Marco Alba, com quem Jones tem até hoje uma relação de altos e alguns baixos.
– Ele nos pilhou para recriar a Juventude do PMDB. Eu, o Dilamar (Soares, hoje vereador pelo PSD) e o Joel (Machado, funcionário concursado da Câmara).
Era uma época onde o PMDB também buscava a reconstrução, após a saída do ex-prefeito Abílio dos Santos para o PTB. Que, naquele momento, representava algo como a desfiliação de Bordignon do PT, em maio deste ano.
Com Jones entre os poucos que seguravam a bandeira, Marco concorreu a prefeito em 92. Com 5.564 votos, ficou em último na eleição ganha por Edir Oliveira (PTB), que era vice e assumiu a candidatura após uma renúncia de Abílio, ameaçado de cassação do registro.
Da Freeway ao número 1
Poucos dias após a eleição, chegou pela Freeway personagem que ajudou a reacender a chama peemedebista: Eliseu Padilha, hoje ministro-chefe da Casa Civil, o número 1 do presidente Michel Temer. Vinha de Tramandaí, onde encerrava a gestão frente à Prefeitura e queria voar a Brasília.
– Apoiamos a eleição dele para deputado federal em 94.
Antônio Britto ganhou a eleição ao Governo do Estado, Padilha foi nomeado secretário do Trabalho e a afinidade – e os 3.879 votos feitos pelo deputado em Gravataí – renderam a Marco um convite para ser o chefe de gabinete.
Foi o novo ‘padrinho’ quem Jones consultou sobre os caminhos para chegar à presidência da juventude estadual do partido.
– Ele me deu uns conselhos e fui secretário-geral, entre 95 e 97. O presidente foi o Edson Brum, hoje deputado estadual.
: Jones em reunião com o 'padrinho' Padilha, hoje todo poderoso em Brasília
O advogado vereador
Em 96, a turma de malucos se aventurou em uma nova candidatura de Marco.
– Sem nenhuma estrutura, pagamos um mico, com menos votos, mas fizemos bancada – lembra ele, que não ocupou cargos e ficou quatro anos apenas na militância partidária.
Se formou em Direito pela Ulbra de Gravataí e foi advogar em um escritório junto ao professor Ricardo Breier – eleito este ano presidente da OAB gaúcha. Nos anos seguintes, fez pós-graduação em Direito Comercial pela Unisinos até Marco convidá-lo a concorrer a vereador em 2000.
– Me sentia devedor do partido. Aceitei. Fui eleito com 1.145 votos – recorda, lembrando que dois anos depois Marco, suplente, assumiu como deputado estadual com a vitória de Germano Rigotto ao governo gaúcho.
– Ali começamos a nos reerguer.
Em 2004, Jones foi reeleito com 2.511 votos e Marco perdeu a Prefeitura para a polarização entre Stasinski, à época o ‘aluno de Bordignon’ e eleito prefeito, e um Abílio deputado estadual em segundo mandato.
: Jones Alexandre Martins em uma das poucas fotos quando criança
Memórias
Durante a segunda vereança, concluiu uma pós-graduação em Direito do Estado tributário, constitucional e administrativo pela Ufrgs.
– Foi o ano que a mãe morreu… – lamenta o menino que veio de Meleiros, Santa Catarina, com oito meses e morou até os quatro em Cachoeirinha, até se mudar com a família para a Jorge da Costa, no São Geraldo, em Gravataí.
– Minha primeira lembrança é o caminhão desembarcando madeiras que meu avô João tinha nos dado para construir a casa. No dia seguinte, tinham roubado tudo – lembra, contando que o pai, Pedro, era operário da construção civil e ergueu a moradia no improviso pois, para pagar o terreno, precisava sair do aluguel.
– Era tanta fresta que entrava vento e chuva. Mas a gente era feliz – sorri, hoje bem de vida, morador da Paragem Verdes Campos, pai da Bruna, 22, da Luana, 17 e da Helena, de 10 meses, filha da atual esposa Cristina.
Caçula da família, além do irmão mais velho Juacir, era cuidado pelas irmãs Soneli, Suenir, Sivonete e Sidineia.
– Me cuidavam e cuidavam umas das outras. Eram meninas. A mais velha tinha 10 anos. E a mãe trabalhava na Icotron e o meu irmão capinava pátios e vendia sonhos que a mãe assava.
: Com a esposa Cristina e as três filhas (uma estava na barriga, ainda)
O sonho de ser prefeito
Memórias à parte, um sonho que Jones alimenta até hoje começou a ser sonhado em 2006, quando Marco foi eleito deputado estadual e recebeu da governadora eleita Yeda Crusius (PSDB) o convite para ser secretário de Habitação e Infraestrutura.
– Um dia de 2007, entre um chope e outro, o Rodrigo Becker (jornalista do Seguinte:) previu que o Marco não deixaria a Secretaria para ser candidato a prefeito. Eu comecei a me fardar.
Candidato, Jones fez 50.776 votos em 2008. Ficou em segundo. A eleita foi Rita Sanco (PT), na eleição em que Bordignon foi impugnado a menos de uma semana da votação e ainda aparecia nas urnas eletrônicas quando o eleitor digitava o confirma no 13.
Após encerrar o mandato como vereador, Jones advogou entre 2009 e 2010 em um escritório com representação em Brasília. E por lá ficou, a convite de Padilha, para chefiar o gabinete da Secretaria de Atenção a Saúde, no Ministério da Saúde, que estava na cota do PMDB no governo Dilma Roussef (PT) e Michel Temer.
– Em 2010 o pai faleceu…
: Parceria com Marco, junto a ele em festa nesta campanha, vem desde 1990
O número 2
Em 2012, Jones baixou para aldeia para coordenar a campanha vitoriosa de Marco à Prefeitura. Pelo tamanho político – é sempre apontado como o número 2 do partido, depois de Marco – e as conexões com Brasília, assumiu a Secretaria da Saúde, onde ficou até concorrer a deputado federal em 2014.
– Sabia que era difícil. Mas cumpri os dois objetivos, que era ser o mais votado da cidade e só perder para os candidatos de 100 mil votos, o (José) Fogaça e o Mauro Pereira. Foi o que aconteceu.
Ele ficou na terceira suplência, com 17.749 votos, à frente em Gravataí de Anabel Lorenzi (PSB), que tinha feito 40 mil votos para a Prefeitura em 2012 e já se colocava como candidata a prefeita em 2016.
– Considero uma vitória importante – comemora.
A sorte que “Deus botou no caminho” apareceu com a eleição da zebra José Ivo Sartori ao Governo do Estado, em 2014, e o impeachment de Dilma, em 2016. Deputados foram chamados para os governos estadual e federal e Jones assumiu o mandato em maio deste ano.
Até quando, nem pensa.
– Trabalho um dia por vez, com toda disposição. Procuro abrir portas para a cidade e auxiliar com a relação que já tinha da época do Ministério da Saúde – diz o integrante das comissões de Seguridade Social, Trânsito e Transportes, Minas e Energia, além de secretarias a Frente Parlamentar de Defesa da Mídia Regional e participar de outras mistas entre a Câmara e o Senado para análise de Medidas Provisórias.
– Vou me virando nos 30.
Estudioso dos projetos do governo Temer e da situação do país, Jones aonde vai defende a PEC 241 – que congela os gastos públicos por 20 anos.
Escalado por Padilha, dizem. De seu jeito impetuoso, o deputado discorda.
– Escalado é coisa do PT. Defendo porque acredito!
Uma prova dessa paixão aconteceu durante seu discurso ao receber a premiação de personalidade política do ano, na Câmara. Jones não escondeu o lado, defendeu a PEC e provocou murmúrios e até vaias de alguns professores que assistiam à cerimônia.
– O Brasil é um paciente com câncer em metástase, que precisa muita quimioterapia, e sofre os efeitos colaterais, fica indisposto, perde cabelo, enjoa, mas depois voltará a vida normal – compara.
– Estamos dando um cavalo de pau na beira do precipício.
: No juramento de posse como deputado em maio deste ano
O que pensa o Jones
Confira mais sobre o que pensa Jones sobre a PEC e outros temas nacionais e aqui da aldeia.
PEC 241
“É um remédio amargo, necessário e importante neste momento em que o país vive. O presidente Temer pegou o Brasil falido. Sem um freio no gasto público, viraríamos uma Venezuela, com seu bolivarianismo e gasto público desenfreado”.
“O déficit público é de R$ 170 bilhões. Pagamos R$ 400 bilhões de juros. Nenhum centavo disso é do governo Temer. É preciso agir. Temos 12 milhões de desempregados, juro alto, o mercado não tem confiança. Os economistas que prestam consultoria aos investidores analisam esses números. O Brasil passou a ser um país inconfiável. Precisamos devolver a expectativa positiva para o mercado retormar os investimentos. E quem investe não olha para amanhã, olha para cinco, dez anos na frente”.
“A grande maioria das pessoas sequer leu a PEC. Há muita bobagem sendo dita. Não é verdade que haverá corte de recursos da saúde. O orçamento para 2020 estamos antecipando para o ano que vem”.
“Também é mentira que a Educação será afetada. Inclusive o governo Temer começou a pagar os repasses que o PT não cumpria, como para o Fies”.
“A PEC congela o orçamento global por 20 anos e isso pode ser revisto em 10. Além disso, o Congresso Nacional pode fazer o remanejo de rubricas e aumentar os recursos na saúde ou na educação. Sem falar que com a economia se recuperando, crescendo, teremos mais dinheiro, o orçamento cresce”.
“Estão fazendo da PEC uma bandeira política. É legítimo. Em Gravataí também, onde um contingente de petistas se alojou em vários partidos, trocaram de cor, vestiram pele de cordeiro. É a velha retórica fácil e sem responsabilidade que quebrou o país e quebrou Gravataí”.
: Com o presidente Michel Temer em jantar onde o presidente recebeu deputados
PREVIDÊNCIA
“A reforma da Previdência é uma venda casada, tão importante quanto a PEC. São R$ 200 bilhões de déficit. E o delicado é que mesmo com a reforma isso não gera efeitos imediatos. É coisa para 30 anos. Mas alguém tem que ter coragem e fazer”.
“O projeto já está esboçado pelo governo Temer e, antes que as mentiras comecem a aparecer, asseguro que não vai mexer em direitos adquiridos ou com quem está próximo a se aposentar. Não vai reduzir salários. Mas é necessária para que possamos pagar os aposentados”.
“A Grécia levou na brincadeira e precisou reduzir os benefícios dos aposentados em 25%, além de aumentar o tempo de serviço. As coisas hoje são diferentes, o tipo de trabalho mudou, as pessoas estão vivendo mais. Do jeito que está, a conta não fecha”.
“É preciso debate com transparência e responsabilidade, não só discurso para agradar ao eleitor. Ou os jovens que estão entrando no sistema não receberão suas aposentadorias”.
CRÍTICA AO PT
“O PT ficou 13 anos no poder e não promoveu nenhuma reforma estrutural. O governo Lula experimentou um crescimento de bolha, não sustentável, baseado no consumo, na facilitação do crédito. Mas não fez as necessárias reformas trabalhista, política e previdenciária, não investiu em estradas, portos e aeroportos. Apostou no mercado interno ao custo do aumento do gasto público”.
“O PT fala em sobretaxar grandes fortunas. Sou a favor. Mas porque não fizeram? Não seria porque não é simples de fazer? Agora que está na oposição, voltou a ser bandeira. São um no governo, outro na oposição”.
PRÉ-SAL
“Temos um tesouro que é o pré-sal. Nem sabemos quanto, mas é espetacular. Só que tomaram a Petrobrás de assalto, com todos seus tesoureiros presos. A cotação de mercado caiu 10 vezes, quebraram a empresa e não há como explorar essa fortuna no fundo do mar”.
“Adianta ter um carro na garagem sem poder sair? A Petrobras não tem condições a curto e médio prazo de explorar. Quebramos o monopólio, então a Petrobras pode, onde não consegue fazer investimento, firmar parcerias, como fez com a Shell e vão entrar R$ 10 bilhões em investimentos. Qual o mal disso? Onde enxergam o mal? Ah, mas é soberania nacional, discursam. Mas então vamos deixar essa riqueza lá no fundo do poço por mais 50 anos? As pessoas querem emprego, querem viver melhor”.
O IMPEACHMENT DE DILMA
“Dilma caiu por ser irresponsável na gestão do orçamento. É sempre mais fácil identificar a corrupção, o roubo e criminalizá-lo. Mas o crime dela é de muita responsabilidade. Ela maquiou o orçamento, para gastar mais irresponsavelmente e sem respaldo orçamentário. Tudo para garantir a reeleição. É como usar o cartão de crédito e o cheque especial. Começou a chegar a cobrança. O país está no Serasa. Não dava para continuar assim”.
BOLSA FAMÍLIA
“O governo Temer está fazendo um recadastramento. Aí dizem que o governo não tem sentimentos, que é contra os pobres. Mas estão sendo identificados beneficiários com CNPJ, doadores de campanha. Querem deixar seguir a falcatrua, então?”.
“É como no INSS, onde começamos uma revisão. Havia gente encostada há 10 anos, e trabalhando em outras atividades, por falta de perícia. O governo ofereceu uma gratificação aos peritos, que em mutirão estão identificando uma série de absurdos. Mais de 80% das pessoas afastadas estão em condições de trabalhar”.
LAVA JATO
“Ninguém fala abertamente sobre isso em Brasília, é um tabu. Mas sou a favor de prender quem for culpado, seja do partido que for”.
O GOVERNO MARCO
“Em janeiro de 2013 o prefeito Marco reuniu o secretariado, botou o orçamento na mesa e disse “vamos trabalhar com com isso aqui”, com regime de caixa. É uma tentação para quem é político inventar ideias para gastar dinheiro, contratar, construir. Resolvemos só gastar o que fosse arrecadado”.
“O prefeito e os vereadores tiveram coragem de rever questões essenciais na relação trabalhista. Muita economia foi feita cortando distorções na folha. Havia até licença para cuidar de parente doente”.
“Se o prefeito esperasse a crise nacional explodir, Gravataí estaria no caos, com salários atrasados… Mesmo com todo ajuste e responsabilidade com que o Marco governou, a crise nos atinge. Temer encontrou o país assim. Gastavam e não pensavam no futuro. Era o piquenique na beira do vulcão preste a entrar em erupção”.
A ELEIÇÃO QUE NÃO TERMINA EM GRAVATAÍ
"Não vou falar sobre isso. Digo apenas que estamos do lado do bom Direito, então temos tranquilidade que será feita justiça. É por isso que sou um apaixonado pela minha profissão".
DA REDAÇÃO: Jones não confirma, mas é notório que está trabalhando, e muito, por Marco Alba nos bastidores de Brasília.