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José Paulo da Rosa e a ‘missão Feevale’: o novo reitor e os desafios do ensino superior

José Paulo da Rosa, ex-diretor do SENAC e ex-secretário de Educação de Porto Alegre, assumiu na sexta-feira, 28, como novo reitor da Feevale. Foto: Andrieli Siqueira/ Universidade Feevale

Posse na sexta, 28, marca início de uma nova jornada na vida do ex-aluno de Química do Dom Feliciano que se tornou educador e nunca mais se desligou da Educação

Chamar José Paulo da Rosa de ‘gravataiense’ virou reducionismo: o homem que adotou Gravataí como lar não é mais o menino que aos sete anos deixou sua terra natal, Torres, no Litoral Norte gaúcho, junto a família para se estabelecer na Vila Branca. Há muito José Paulo da Rosa é um cidadão do mundo, com perdão do clichê; mestre e doutor em Educação, cursando o pós-doutorado, ex-secretário de Educação de Porto Alegre e líder do maior processo de expansão do EAD que se tem notícia no período em que dirigiu o SENAC, na sexta-feira, 28, ele assumiu oficialmente o mais novo desafio de sua carreira: o de reitor da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo.

O homem não para.

“Eu fui contactado em outubro do ano passado, ainda na Secretaria de Educação de Porto Alegre, por uma empresa de consultoria para a qual o meu nome havia sido indicado para o processo de seleção do novo reitor da Feevale”, conta José Paulo. “Em princípio, não era minha intenção deixar a secretaria, mas a informação era a de que o processo seria longo e só terminaria na metade de 2024”.

José Paulo da Rosa com o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, em visita a uma escola da capital: secretário atuou por quase 11 meses à frente da Educação. Foto: Divulgação/PMPA

José Paulo aceitou participar. Seria a primeira vez que Feevale, uma universidade que em 2024 completou 55 anos de atividade, admitiria um reitor ‘de fora’; até então, os reitores eram escolhidos em processos internos. Cleber Prodanov, que antecedeu José Paulo, por exemplo, é professor da instituição desde 1995. “Fiz testes, participei de entrevistas, uma série de etapas. E em maio fui comunicado de que meu nome havia sido o escolhido”, resume.

O momento não poderia ser o mais inesperado. Em maio, Porto Alegre vivia o pior momento da enchente sem precedentes que atingiu 460 dos 497 municípios gaúchos. A capital tinha bairros inteiros literalmente embaixo d’água, inclusive o centro histórico. Como secretário de Educação, José Paulo havia determinado junto com o prefeito Sebastião Melo a suspensão das aulas, o recebimento de desabrigados em escolas não atingidas e preparava um plano para recuperação das unidades que tinham sido submersas pela cheia do Guaíba e seus montantes. Para se ter uma ideia do estrago, 25 das 99 escolas da rede própria tiveram danos parciais ou totais com a enchente — e 65 das 219 da rede conveniada vivem o mesmo drama.

Em 20 de maio, José Paulo da Rosa participou do anúncio de retomada das aulas em escolas não afetadas pela calamidade. O plano da prefeitura era que pelo menos 50% dos alunos pudessem voltar à normalidade enquanto as demais estruturas pudessem ser recuperadas e servidores atingidos pudessem, também, ter assistência. No dia seguinte, 21, conversou com o prefeito Sebastião Melo sobre o convite para ser reitor da Feevale.

“Ele me disse que entendia e desejou boa sorte. Já havia acontecido antes com alguns secretários que receberam convites para projetos desafiadores e é difícil para o poder público competir com isso”, revela.

No dia seguinte, José Paulo da Rosa já estava dando expediente em uma sala da reitoria no 7º andar no prédio Lilás do Campus I da Feevale.

Nos tempos do SENAC: José Paulo em palestra na CIC, de Caxias do Sul. Foto: Arquivo

A ‘missão Feevale’

A Universidade Feevale foi criada em 1969 na esteira do crescimento da região do Vale dos Sinos sobretudo em função da produção de couro e calçados. Havia uma necessidade de formação de mão-de-obra e de gestores para o setor e, na sequência, para as demais funções que a região exigia. 

A indústria e seus empregos com melhor renda permitiu a expansão dos cursos de graduação ao longo das décadas seguintes. Hoje, a Feevale dispõe de 62 cursos superiores e mais de 13 mil alunos. São 30 cursos de especialização e MBA, 10 de mestrado e 5 de doutorado; mais de 150 projetos em 35 grupos de pesquisa, e um parque de inovação com 75 empresas instaladas.

Então, qual o desafio de José Paulo da Rosa?

“Fortalecer o vínculo da instituição com a comunidade, ampliar o número de polos. Temos uma atuação importante na pesquisa e uma vocação para formação de formadores”, conta o novo reitor. “Faz parte do plano estratégico da universidade atuar com mais ênfase nas áreas de Saúde, Tecnologia e Inovação e Empreendedorismo”, adianta.

De forma mais imediata, a Feevale estará no Parque Assis Brasil, em Esteio, onde no final de agosto acontece a Expointer. A universidade terá, assim, um braço de apoio à produção e ao homem do campo. “O agro é um ramo muito importante da economia gaúcha e o ensino e a pesquisa tem muito a contribuir com essa aproximação”, estima José Paulo.

Para Gravataí e Canoas, onde a Feevale já teve polos funcionais, o plano de expansão deve ser retomado a partir de avaliações que serão feitas no segundo semestre de 2024. “Vamos estudar a ampliação de polos, mas esses mercados nos interessam. Temos nove atualmente, mas com capacidade para muito mais”.

As palavras do novo reitor devem ser encaradas como profecia. José Paulo da Rosa já comandou mais 400 polos de ensino na época em que dirigiu o SENAC. Foi o grande responsável pela expansão dos cursos à distância voltados aos negócios locais numa época pré-pandemia. E vê em universidades como a Feevale, com uma estrutura de primeira linha e capacidade de se capitalizar, um protagonista estratégico para expansão do ensino e da pesquisa. “Unir as possibilidades que o ensino à distância oferece com a capacidade de integração e convivência de um campus universitário, esse é um dos desafios. Nossa biblioteca aqui, por exemplo, é fantástica. A experiência de conviver com isso dificilmente será a mesma à distância”, comenta. “O melhor caminho é unir o que de melhor oferece o EAD com o que de melhor tem o presencial”.

José Paulo da Rosa, definitivamente, não para.

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