doença silenciosa

Júlia, o suicídio além do laço colorido

Depois de três tentativas de suicídio, Júlia, há um ano em tratamento após ser diagnosticada com transtorno bipolar, diz que quer ajudar outras pessoas que têm o problema

Confira estes dados da Organização Mundial da Saúde, a OMS!

 

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A Organização Mundial da Saúde (OMS)  estima que 1 milhão de pessoas morre anualmente vítimas de suicídio (uma a cada 40 segundos), o que equivale a 1,4 por cento dos óbitos totais.

 

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Cerca de 75 por cento ocorrem em países de rendimento médio e baixo e a maior parte dos países não possui estratégia nacional de combate à morte voluntária.

 

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A agência das Nações Unidas indica que o suicídio é a 13ª causa de morte no mundo, sendo uma das principais entre adolescentes e adultos até aos 35 anos.

 

No Brasil

 

Enquanto ocorria a audiência pública (sobre o assunto) na manhã de 25 de maio na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal, três pessoas cometeram suicídio no Brasil e 199 pessoas se suicidaram no mundo.

O dado de que um suicídio ocorre a cada 40 segundos no mundo e a cada 45 minutos no Brasil foi apresentado pelos participantes com o objetivo de instruir os senadores para oferecerem um projeto de lei criando a Semana Nacional de Valorização da Vida.

Entre 2000 e 2012 houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes, sendo mais de 30% em jovens. E se estima que, até 2020, haverá um incremento de até 50% no número anual de mortes por suicídios.

 

No Rio Grande do Sul

 

: A cada 100 mil habitantes, 10,14 morreram por suicídio no Rio Grande do Sul em 2015.

: O número é quase duas vezes maior que a média nacional, que é de 5,4 óbitos por suicídio a cada 100 mil habitantes.

: Cerca de mil pessoas cometem suicídio, em média, a cada ano, em território gaúcho.

 

E em Gravataí?

 

Aqui na aldeia dos anjos não há números que revelem a taxa de suicídios praticados em qualquer período. Há, entretanto, um serviço de apoio às pessoas com problemas que podem provocar o ato, como distúrbios de personalidade, bipolaridade e crises depressivas.

São os chamados Grupos de Saúde Mental que funcionam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Saúde da Família (USFs). (Veja as unidades e quando se reúnem os grupos, abaixo).

E tem o Caps, que é o Centro de Apoio Piscossocial, que é onde Júlia Beatriz da Silva tem atendimento.

Mas, quem é Júlia?

É uma assistente administrativa de 20 anos, desempregada, que mora com a mãe e o padrasto na rua Alfredo Jung, aliás, sobrenome sugestivo. O mesmo de Carl  Jung, psiquiatra e psicanalista suíço, criador da psicologia analítica.

Mas esse é outro papo!

Júlia, aos olhos de quem não convive com ela no cotidiano, é uma pessoa absolutamente normal, que não enfrenta nenhum problema de saúde. Mas não é bem assim. Ela mesmo se diz anormal e doente, portadora da portadora da bipolaridade.

A jovem conta que em maio do ano passado sofreu no seu primeiro surto psicótico e acabou indo parar no Pronto Atendimento 24 Horas, onde acabou diagnosticada bipolar e já saiu com um pacote de 10 medicamentos para ingerir, todos os dias.

Já nesta internação foi recomendada a ter acompanhamento no Centro de Apoio Pisicossocial (Caps) onde, entretanto, a avaliação inicial não indicava um caso com gravidade suficiente para justificar o atendimento a Júlia.

Ela só foi receber atenção no Caps, que frequenta até hoje, depois de três tentativas de suicídio entre agosto e setembro do ano passado. Nos três casos, num período de tempo de três semanas, Júlia passou uma corda pelo pescoço e tentou o que seria um sufocamento.

Não teve sucesso porque, segundo ela mesma diz, “apagou” enquanto atentava contra a própria vida, em seu quarto.

— Não lembro de detalhes, eu dormi — fala, referindo-se ao “apagão”.

Mais recentemente, há cerca de duas semanas, teve outra de suas crises. Mais amena, e a tentativa de cortar os pulsos não passou de ferimentos já cicatrizados.

 

Uma vida normal

 

Até ser diagnosticada com bipolaridade em agosto de 2016, Júlia diz que levava uma vida normal, porém com altos e baixos. Enfrentava momentos de muita angústia, agonia e tristeza profunda.

— Eu achava que era uma pessoa normal. O que eu tinha de diferente era gastar demais, comprava muito, o que podia. E tinha compulsão por comida — conta, explicando que essas são atitudes sintomáticas da doença, mas que a faziam ficar psicologicamente equilibrada, estabilizada.

O ‘antes’ das tentativas de suicídio é um momento delicado, segundo ela.

— A gente acaba se isolando das pessoas, sejam parentes ou amigos. Passa um monte de pensamentos ruins pela cabeça da gente, como se matar, porque parece que a vida não tem mais sentido — conta.

Portadora do tipo 1 da bipolaridade, o mais grave, que alterna momentos de euforia com depressão e agudiza as manias da pessoa doente, Júlia Beatriz afirma que não observou melhoras no seu quadro clínico depois de um ano de tratamento no Caps.

Se contradiz, entretanto.

— Não senti melhora a não ser no esforço para manter o equilíbrio emocional.

Mas isso já não é uma melhora que pode ser atribuída ao tratamento, questiona a reportagem?

— Ah, é sim. Com certeza. Olhando por esse lado é sim.

 

Exposição pública

 

A reportagem do Seguinte: procurou Júlia para produzir uma reportagem sobre o Setembro Amarelo, período em que as autoridades ligadas à área dão ênfase à prevenção ao suicídio, justamente porque ela se dispõe a falar sobre seu problema abertamente, sem barreiras, contando como é a vida além do laço amarelo.

Até porque conhece várias pessoas diagnosticadas com a Síndrome de Borderline, que tem traço da bipolaridade e outros sintomas, mas que, igualmente, pode levar a pessoa à prática do suicídio.

— É uma forma de ajudar as pessoas que têm problema e não sabem. Transtorno bipolar e depressão não é frescura, é real. Eu, quando fiquei sabendo que a bipolaridade é o que mais causa suicídio levei um susto e resolvi que deveria falar, uma tentativa de ajudar quem precisa — explica.

E vai adiante.

— O Setembro Amarelo é uma ação importante, com certeza, porque o suicídio é uma realidade e acontece mesmo quando a pessoa aparenta normalidade. Por fora a pessoa mostra que está bem mas, por dentro está vivendo um verdadeiro caos.

 

EU CONVIVO, SIM, COM AMIGOS QUE TÊM BIPOLARIDADE. UMA ATÉ JÁ TENTOU O SUICÍDIO. NA REAL EU NÃO PERDI AMIGOS CHEGADOS, MAS CONHECIDOS SIM. UM CASO BEM RECENTE ATÉ, DE UM GURI DE CACHOEIRINHA NO DIA 1º DE AGOSTO.

 

Assista ao vídeo!

 

 

Drama da mãe

 

A dona de casa Neli Terezinha da Silva é quem, literalmente, segura “o rojão” como se diz popularmente. E a expressão é dela. Conviver com a filha que adotou quando tinha 12 dias é uma incógnita permanente, rojão que pode explodir a qualquer momento.

Daí a necessidade de estar sempre vigilante. Quando a filha fica muito tempo no quarto, em um horário que não é exatamente para dormir, a mãe bate à porta. Dá a volta na casa e espia pela janela.

Quando Júlia se demora mais do que o normal no banho, a preocupação é a mesma. É normal Neli bater e perguntar a Júlia se está tudo bem.

— É uma situação dificílima de conviver. Tem dias que eu não sei o que fazer e até já perdi a paciência algumas vezes porque acaba acontecendo um problema de comunicação nos momentos de crise — diz Neli.

A mãe, que não quer mostrar o rosto na produção de vídeo do Seguinte:, admite que existem preconceito em relação à filha. As pessoas se afastam, e as amizades acabam mostrando que não são tão amigas, segundo Neli.

— A primeira atitude é o afastamento, por ignorância. Mas é aquela ignorância por desconhecimento, porque não entendem o que é a doença. Tem quem acha que é um exagero, que é coisa de guria mimada…

E continua:

— Mas ela (Júlia) teve uma criação normal, eu ensinei valores a ela como, por exemplo, que ter roupa de marca ou tênis caro não iria fazer ela ser mais inteligente ou melhor que as outras pessoas.

 

A JÚLIA SEMPRE FOI UMA CRIANÇA ALEGRE E FELIZ. NA ESCOLA NUNCA DEU TRABALHO E NUNCA TEVE PROBLEMAS. PELO CONTRÁRIO, EU SEMPRE RECEBIA SÓ ELOGIDOS DELA, DE TODOS OS PROFESSORES.

 

Síndrome de Borderline

 

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A Síndrome de Borderline, também chamada de transtorno de personalidade limítrofe, é caracterizada pelas mudanças súbitas de humor, medo de ser abandonado pelos amigos e comportamentos impulsivos, como gastar dinheiro descontroladamente ou comer compulsivamente, por exemplo.

 

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Geralmente, as pessoas com Síndrome de Borderline têm momentos em que estão estáveis, que alternam com surtos psicóticos, manifestando comportamentos descontrolados. Esses sintomas começam a se manifestar na adolescência e se tornam mais frequentes no início da vida adulta.

 

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Por vezes, a síndrome é confundida com doenças como esquizofrenia ou doença bipolar, mas a duração e intensidade das emoções são diferentes, sendo fundamental ser avaliado por um psiquiatra para saber o diagnóstico correto e iniciar o tratamento adequado.

 

Valorização da vida

 

Mais de 100 profissionais da saúde pública municipal participaram ontem (14/9) da capacitação sobre valorização à vida.

Dividida em dois turnos, a ação abordou a identificação de comportamentos de risco em crianças, adolescentes e adultos, segundo a coordenadora da Politica de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, psiquiatra Mirian Cohen.

Conforme ela, o objetivo principal é conscientizar a população sobre a importância da saúde mental e o período foi escolhido porque o dia 10 de setembro foi assinalado como o Dia Mundial para Prevenção ao Suicídio.

A atividade desta quinta foi ministrada pelas psiquiatras Alice Castro e Liara Iglezias, pela enfermeira Kamilla Silveira, pela psicóloga Sandra Kuhn e pela assistente social Marta Panizzutti.

Em apoio à campanha a Prefeitura de Gravataí intensifica neste mês atividades referentes ao tema no CAPs I – Crianças e Adolescentes, CAPS AD – Álcool e Drogas e CAPS II – Adultos.

De acordo com a coordenadora, todas as UBS e USF receberam fits amarelas – alusivas à campanha – e a USF Santa Cecília terá atividade especial dia 22, enquanto a USF Parque dos Eucaliptos dia 25.  

O médico de Família e Comunidade Sérgio Viera, 40 anos, ressaltou a importância da atividade como forma de sensibilização. Para ele, que atua há mais de 10 anos no município, a capacitação foi muito importante.

A agente de saúde do Barro Vermelho, Ana Claudia Dias, 42, disse que foi bom parar para refletir a importância da escuta qualificada de todos os pacientes. Ana há mais de 10 anos trabalha na área.

O Setembro Amarelo promove, ainda, ações educacionais nas unidades de saúde e nos centros especializados, além de acolhimento e encaminhamentos.

No Brasil, o Setembro Amarelo é destacado pelo Centro de Valorização à Vida – instituição filantrópica reconhecida como utilidade pública federal que presta apoio emocional e prevenção ao suicídio através de conversas anônimas, funcionando 24 horas por dia.

 

OS VOLUNTÁRIOS DA CVV SÃO TREINADOS PARA CONVERSAR E OUVIR PESSOAS QUE PROCURAM AJUDA ATRAVÉS DO NÚMERO 141 OU 188 – O ÚLTIMO DISPONÍVEL APENAS NO RIO GRANDE DO SUL. HÁ AINDA A OPÇÃO DE CONVERSA VIA CHAT OU SKYPE.

 

Grupos de Saúde Mental em Gravataí

 

UBS

Cohab A: segunda quinta-feira do mês, 14h – UBS Cohab A

Cohab B: primeira terça-feira do mês, 9h30 – Associação Cohab B

Bonsucesso: terceira terça-feira do mês, 15h, ASCAB – Psicólogo

Centro: quarta quinta-feira do mês, 14h – UBS Centro

Morada do Vale I: terceira quinta-feira do mês, 15h – Igreja Santa Rita

São Geraldo: terceira terça-feira do mês, 14h – UBS São Geraldo

São Judas Tadeu: primeira quinta-feira do mês, 15h – Associação Vila Elisa

Vera Cruz: segunda terça-feira do mês, 15h – UBS Vila Branca

Vila Aliança: quarta quinta-feira do mês, 15h – USF Érico Veríssimo

Vila Branca: segunda terça-feira do mês, 15h – UBS Vila Branca

Quilombo Manoel Barbosa: quarta quarta-feira do mês, 14h – Quilombo Manoel Barbosa

 

USF

Águas Claras: quarta terça-feira do mês, 15h – Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Aristides D’Ávila: terceira sexta-feira do mês, 14h – USF Aristides D’Ávila

Barro Vermelho: segunda quinta-feira do mês, 15h – USF Barro Vermelho

Cohab C: terceira quinta-feira do mês, 14h – USF Cohab C

Costa do Ipiranga: segunda quarta-feira do mês – USF Costa do Ipiranga

Érico Veríssimo: quarta quinta-feira do mês, 15h – USF Érico Veríssimo

Granville: primeira sexta-feira do mês, 14h – USF Granville

Itacolomi: terceira terça-feira do mês, 9h30min – USF Itacolomi

Itatiaia: primeira terça-feira do mês, 15h – USF Itatiaia

Morada do Vale II: quarta terça-feira do mês, 15h – Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Morungava: segunda segunda-feira do mês, 14h30 – USF Morungava

Neópolis: terceira terça-feira do mês, 9h30min – USF Itacolomi

Nova Conquista: segunda e quarta terça-feira do mês, 9h – CAPS II

Parque dos Anjos: segunda sexta-feira do mês, 14h30min – USF Parque dos Anjos

Parque dos Eucaliptos: terceira terça-feira do mês, 15h – ASCAB

Princesa Isabel: primeira quinta-feira do mês, 15h – Associação Vila Elisa

Santa Cecília: quarta sexta-feira do mês, 13h – USF Santa Cecília

São Marcos: primeira segunda-feira do mês, 14h – USF São Marcos

 

CAPS II

Grupo Violeta: segunda e quarta terça-feira do mês, 9h – CAPS II

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