Wilson Quintella Filho, o ‘rei do lixo’, que desde 2017 tenta liberar um investimento fazer um investimento de R$ 150 milhões e mil empregos com a instalação de uma central de resíduos e temelétrica em Glorinha, foi denunciado pela Lava Jato pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
O bilionário, dono da Estre, a gigante do lixo na América Latina, que já desceu com seu jatinho particular em Porto Alegre e visitou o ‘paraíso entre a Capital, a Serra e o Mar’ por pelo menos duas vezes nos últimos três anos, comprou por R$ 5,5 milhões uma área de 230 hectares, na Vila Nova, a oito quilômetros do Centro do município de cerca de 8 mil habitantes.
Siga a íntegra da denúncia do Ministério Público do Paraná clicando aqui, a reportagem de Fausto Macedo no Estadão e, para relembrar a polêmica da Estre em Glorinha, revelada com exclusividade em entrevistas com o prefeito Darci Lima da Rosa e o ‘rei do lixo’, siga nos links relacionados a série de reportagens publicadas pelo Seguinte:.
Depois comento.
“(…)
A força-tarefa da Lava Jato denunciou o acionista e ex-presidente de empresas do Grupo Estre Wilson Quintella Filho, e também o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o executivo Antonio Kanji Hoshiwaka e o advogado Mauro de Morais, todos investigados na fase 59 da operação pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Os procuradores afirmam que R$ 21,1 milhões em propina foram ‘solicitados por Sérgio Machado e prometidos por Wilson Quintella, no interesse dos contratos firmados pelo Grupo Estre com a Administração Pública Federal, em especial com a Transpetro’.
A fase 59 da Lava Jato, denominada Quinto Ano, foi deflagrada no dia 31 de janeiro. Na ocasião, Quintella, Kanji e Morais foram presos. Depois, a juíza Gabriela Hardt converteu a prisão de Quintella em preventiva, mas impôs uma fiança de R$ 6,8 milhões para soltar o empresário.
A Lava Jato requereu arbitramento do dano mínimo de R$ 42.327.892,58 – o dobro dos valores totais de propina supostamente solicitada – a ser revertido em favor da subsidiária da Petrobrás.
As investigações desta etapa da Lava Jato começaram com a delação de Sérgio Machado, indicado e mantido no cargo pelo MDB. O ex-presidente da Transpetro relatou que ‘o percentual de propina solicitado e pago, via de regra, era de cerca de 3,0% na área de serviços e de 1,0% a 1,5% na parte dos navios’.
“Entre as empresas que pagavam propinas a Sérgio Machado no esquema criminoso ora descrito estavam a Estre Ambiental S/A, Pollydutos Montagem e Construção LTDA. e Estaleiro Rio Tietê LTDA, todas pertencentes a grupo econômico Estre, então controlado por Wilson Quintella”, afirmou a Lava Jato na denúncia.
Segundo a acusação, ‘para a geração e entrega das propinas em espécie Wilson Quintella utilizou-se dos serviços de Mauro de Morais, sócio do escritório Mauro de Morais – Sociedade de Advogados’.
A Lava Jato afirma que Mauro de Morais usou ‘seu escritório para celebrar contrato ideologicamente falso com o Grupo Estre e, subsequentemente, emitir notas fiscais ‘frias’, recebendo valores por meio de transferências bancárias para, logo em seguida, efetuar saques em espécie periódicos e fracionados’.
“O dinheiro em espécie gerado era então repassado para Antonio Kanji Hoshikawa, então funcionário da Estre encarregado por Wilson Quintella de realizar as operações de entrega de propinas”, relataram os procuradores.
“São especificamente objeto de imputação na presente denúncia crimes de corrupção e lavagem de dinheiro praticados no interesse dos contratos celebrados entre a Transpetro e as empresas Estre Ambiental S/A, Pollydutos Montagem e Construção LTDA e Estaleiro Rio Tietê LTDA., então controladas por Wilson Quintella Filho, entre os anos de 2008 a 2014.”
A Procuradoria da República aponta que entre 2009 e 2012 o escritório de Mauro de Morais recebeu R$ 21.065.535,16 das três empresas. De acordo com a denúncia, o escritório está com as atividades paralisadas desde 2014.
“Sérgio Machado confirmou que em seu favor foram recebidos valores em espécie na sede do escritório Mauro de Morais – Sociedade de Advogados, tendo conhecimento da utilização do escritório, pelo Grupo Estre, para a geração dos valores indevidos a ele prometidos/oferecidos por Wilson Quintella e por ele aceitos/solicitados”, narra a acusação.
Os denunciados não quiseram se manifestar.
(…)”
Comento.
O prefeito Darci Lima da Rosa inicialmente defendia o polêmico investimento, depois recuou.
Vereadores também se dividiram a favor e contra – entre eles inclusive os que comeram o jantar fino que Quintella serviu na noite da viagem dos parlamentares para conhecer aterro da Este em Fazenda Rio Grande, próximo a Curitiba.
O recuo deu-se não só pela pressão de moradores e sitiantes, temerosos que um ‘lixão’ poluísse Glorinha e desvalorizasse terras, mas também pelos alertas ambientais feitos pela Fepam e a publicação, revelada com exclusividade em março de 2018 pelo Seguinte:, de decisão do Supremo Tribunal Federal que barra aterros sanitários em áreas de proteção ambiental.
O município a 28 minutos de Gravataí tem nove a cada 10 de seus 323,6 km² de território dentro da chamada APA do Banhado Grande. A área comprada pela Estre, perpassa a área protegida desde a edição do Decreto Estadual n° 38.971, de 23 de outubro de 1998.
Se em uma metrópole uma denúncia como essa contra o ‘rei do lixo’ é combustão pura, numa cidade de 8 mil habitantes é o que faltava para incinerar politicamente o assunto Estre. Difícil, depois dessa, alguém sair em defesa da lixeira. Seja o bilionário de 62 anos culpado ou não, hoje pouca diferença isso faz a quem recebeu a marca da Lava Jato na paleta, seja empresário, ou político, aqueles vilões de sempre a quem resta apenas a presunção de culpa.
Por mais que se provasse a tecnologia de ponta do investimento, que dobraria o orçamento de Glorinha e geraria milhares de empregos, o cheiro que ficaria seria o de propina.
Matreiro, Darci não quer nem ouvir falar mais em lixão. Sabe que não há luz no fim desse tonel.
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