Jeferson Lazzarotto é o candidato à Prefeitura definido em convenção pelo PT de Cachoeirinha. A vice é Vera Sarmento (PCdoB), na coligação ‘Oposição de Verdade’, que tem também o PTC.
O Seguinte: ouviu o advogado, ex-presidente da OAB.
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Seguinte: – És um outsider, vais para tua primeira eleição. O que levou à candidatura?
Lazzarotto – Representar uma política diferente dessa que é feita em Cachoeirinha nos últimos 16 anos.
Seguinte: – É por isso o nome da coligação, Oposição de Verdade? O PT identifica os adversários como Situação A, Situação B…
Lazzarotto – São todos farinha do mesmo saco, todos saíram desse grande acordão feito em Cachoeirinha desde quando o Stédile saiu do PT, cooptou partidos e não se discutiu mais política, e sim cargos, espaços e obras individuais. Hoje estão rompidos porque em uma Prefeitura com dificuldades não conseguiram acomodar todo mundo. Queremos devolver às pessoas o orgulho de viver em Cachoeirinha. É triste ver que estamos voltando a ser uma cidade-dormitório. É inadmissível, já que sempre fomos um polo industrial e de serviços da região metropolitana. Hoje não vemos nenhuma perspectiva de crescimento.
Seguinte: – Mas o PT tentou uma coligação maior. Por que não deu certo o BOM, Bloco de Oposição Municipal, que reunia também a REDE e o PSOL? Como já disse Frei Betto, inspirado no período da ditadura, “a esquerda só se une na cadeia”…
Lazzarotto – Buscamos com o BOM unir a esquerda a campos próximos, mas não foi possível. Houve resistência ao nome de Antônio Teixeira (REDE). Não deu também com o PSOL. Mas formamos a coligação da resistência. Minha vice, a Vera Sarmento, é uma preta trabalhadora que sempre lutou a favor das minorias e por justiça social. É um orgulho estar ao lado dela. Inclusive, o único pedido que fiz foi ter uma vice mulher, para que haja lugar de fala e empoderamento de verdade.
Seguinte: – E os problemas internos do PT, que culminaram inclusive com a dissidência de lideranças como o ex-candidato a prefeito Volnei Borba?
Lazzarotto – O debate interno é histórico no PT, que é um partido democrático, orgânico. Dá casca para ir para o pleito. Infelizmente, algumas fissuras ficam e uns poucos saíram do partido. O PT escolheu meu nome por maioria e estamos na luta, como a única candidatura efetivamente de oposição.
Seguinte: – A saga do grupo que está até hoje no poder começou em 2000 quando José Stédile, então no PT, foi eleito prefeito. Em 2004, foi para o PSB. No que o PT é diferente do PSB?
Lazzarotto – O jeito petista de governar é imensuravelmente diferente do PSB de Cachoeirinha. Primamos pelo diálogo, pela consulta à comunidade. Não governamos por conchavos. Há uma cidade para além da política dos gabinetes.
Seguinte: – Cachoeirinha enfrenta dificuldades financeiras, que serão piores em 2021, já que o contágio econômico da pandemia terá como consequência uma perda de receita na ordem de 1 a cada 10 reais arrecadados. Há orçamento para prometer mudanças?
Lazzarotto – O quadro não é dramático apenas em Cachoeirinha, mas no RS e em todo Brasil. Por isso nossa prioridade será o combate à fome. O momento exige que nosso compromisso seja fazer com que ninguém passe fome em nosso município.
Seguinte: – A ideia é criar uma espécie de renda mínima ou bolsa família municipal?
Lazzarotto – Sim, e em associação com cooperativismo.
Seguinte: – O PT é um partido que, principalmente quando na oposição, tem sempre compromisso com o funcionalismo. Há orçamento para garantir a reposição de perdas e da inflação, ou a promessa possível é o diálogo?
Lazzarotto – Diálogo sempre. Não vejo o funcionalismo como um problema, mas uma solução. Sou filho de pai e mãe funcionários públicos e tenho a certeza de que o bom governo é aquele em que o gestor e o servidor se respeitam e trabalham juntos. Nossa posição é clara: somos contrários ao estado mínimo e favoráveis a um estado forte que garanta serviços e bem estar social à comunidade.
Seguinte: – Cachoeirinha deu 7 a cada 10 votos para Jair Bolsonaro. A eleição chega no pior momento para a esquerda, e o PT, ou 2020 é diferente de 2018?
Lazzarotto – O governo Bolsonaro demonstra a cada dia que os partidos de esquerda não são aquele demônio preconizado em uma campanha massiva contra a esquerda, o petismo, os movimentos populares e a política em geral. Isso gerou votos para Bolsonaro, que muitas vezes eram um repúdio à política. Só que o ódio à política só serve àqueles que não querem a participação da comunidade, dos pobres, na discussão das coisas de uma cidade, estado ou país. Essa falta de diálogo serve apenas a uma elite que, desde o golpe contra a presidente Dilma, quando não saqueia, entrega o país.
Seguinte: – Acreditas que a campanha será focada em temas da cidade, ou uma guerra ideológica, de ‘mamadeiras de piroca’ e fake news, como em 2018?
Lazzarotto – … Kit gay e outras loucuras de Bolsonaro e sua trupe… Focaremos nas coisas do município, porque a vida acontece na cidades. Você abre a porta e tem a cidade à nossa frente, a necessidade de serviços. Mas ao transformar uma cidade em bastião da democracia, com participação popular, você também promove bem estar, sentimento de pertencimento, espírito de comunidade. Enfim, espero seja uma campanha menos poluída ideologicamente e mostre quem é quem: os que querem governar com a comunidade e os que só pensam em conchavos, cargos e interesses individuais.