O governador Eduardo Leite anunciou, nesta quinta-feira (2), em Gravataí, o repasse de R$ 11,4 milhões para o município investir no sistema de proteção contra alagamentos, com limpeza e manutenção da rede pluvial da cidade. Não tem a ver com dessassoreamento do Rio Gravataí –– o que seria um desastre ambiental, como já alertei em artigos anteriores.
O investimento, via Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), tem foco em ações de resiliência climática e recuperação urbana nos bairros mais atingidos pelas enchentes de maio de 2024, como Vila Rica, Vale Ville, Novo Mundo, Passo dos Ferreiros, Ipê, Caça e Pesca, Mato Alto, Jardim do Cedro e Itatiaia –– os ‘pobres de sempre’, como refiro sobre a maioria dos bairros onde restam os pontos crônicos de alagamentos em Gravataí.
– Desde o início das enchentes atuamos em todas as frentes para reconstruir o Estado. Seguiremos apoiando os municípios na adaptação climática e no enfrentamento de eventos extremos – afirmou Leite, que elogiou o governo Luiz Zaffalon pela agilidade em apresentar os projetos.
Arroios e drenagem, não o Rio Gravataí
O recurso não tem qualquer relação com o desassoreamento do Rio Gravataí, frequentemente apontado nas redes antissociais como uma solução mágica contra enchentes. Seria, insisto, um desastre ambiental.
Gravataí vai limpar e recuperar arroios urbanos e sistemas de drenagem. A Prefeitura já havia desassoreado os arroios Demétrio e Barnabé e mapeado pontos críticos antes da enchente de maio, o que, segundo o prefeito, evitou danos maiores –– Gravataí foi uma ilha protegida em meio à catástrofe de 2024 na região metropolitana.
– Temos projetos, planejamento e a parceria do governo para tornar Gravataí uma das cidades mais resilientes do Rio Grande do Sul – disse o prefeito.
O pacote inclui limpeza manual e mecanizada de bocas de lobo, poços de visita, caixas de ligação e galerias; reparos em dispositivos de drenagem com substituição de peças e trechos danificados; além de atualização cadastral e integração ao Sistema de Informações Geográficas da cidade.
– Esses recursos significam recuperar a drenagem urbana, reduzir riscos de alagamento e ainda garantir sustentabilidade ambiental no manejo dos resíduos coletados – destacou Pedro Capeluppi, secretário de Estado da Reconstrução Gaúcha.
O secretário municipal de Parcerias Estratégicas, Guilherme Ósio, acrescentou: “Com o apoio do Plano Rio Grande, vamos dar segurança e qualidade de vida para nossa população, especialmente nos bairros mais afetados pela cheia de 2024”.
Por que não dragar o Rio Gravataí
O debate sobre dragagem do Rio Gravataí voltou após o município ficar fora do programa estadual de desassoreamento. Mas a ciência ensina: mexer no manancial de 34 km seria apenas empurrar a enchente para Cachoeirinha e Porto Alegre no inverno e agravar a falta de água no verão.
– Não é prioridade para o Gravataí. Nenhum estudo técnico indica o desassoreamento como solução – já resumiu ao Seguinte: o geólogo Sérgio Cardoso, ex-presidente do Comitê da Bacia do Rio Gravataí.
Especialistas alertam que a remoção de sedimentos em rios desse porte pode inviabilizar a qualidade da água por séculos e provocar inundações mais rápidas em áreas vizinhas. O próprio Instituto de Pesquisas Hidráulicas (UFRGS) emitiu nota técnica reforçando que dragagem sem estudos detalhados é desperdício de dinheiro e risco ambiental.
A alternativa técnica, respaldada pelo Plano Estadual de Recursos Hídricos, está nas 13 microbarragens previstas para a Bacia do Gravataí, já com Eia-Rima concluído e aguardando licença da Fepam. Elas aumentam áreas de banhado, retêm água nas cheias e armazenam volume para a seca.
Além das microbarragens, Gravataí está contemplada no cinturão de diques –– o do município na região do Caça e Pesca –– do Novo PAC, uma parceria entre governos federal e estadual.
Ao fim, a aposta em drenagem urbana, barragens e contenção técnica é o caminho correto. Dragagens populistas apenas repetiriam o erro histórico dos anos 60, quando o DNOS abriu um canal para favorecer barões do arroz, acelerando a água do Gravataí. O desastre perdura até hoje: enchentes para os ‘pobres de sempre’ e falta d’água no verão.
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