Ela é de Gravataí, morou alguns anos no Japão e quando voltou passou pelos bancos escolares do Colégio Dom Feliciano. Há 13 anos é casada com um italiano e desde então mora no país das massas, pizzas e muito molho de tomate. Lá, a entrevistada para a série ‘Personagens’ da editoria ‘O Melhor de Gravataí’ do Seguinte:, Luciana Linck Abati, cursou jornalismo e faz sucesso como comentarista de futebol para uma emissora de televisão de abrangência nacional.
Filha do casal Valter Linck e Lúcia Vargas de Freitas, divorciados, faz questão de destacar: “carinho e respeito pela minha ‘mãedrasta’ Arlete Soares”. Luciana Linck, para os conhecidos da aldeia dos anjos, e Luciana Abati para os italianos, é irmã mais velha de Vinicius, esposa de Marco Abati (engenheiro de automação industrial, mecatrônica) e mãe do italianinho-gaúcho Enrico Abati, de oito anos.
Mas quem bebe da água do Gravataí não esquece a terra dos gravatás!
Luciana garantiu na conversa que teve hoje com a reportagem do Seguinte: que é ‘amante’ do Rio Grande do Sul e lamentou por não ter como visitar sua terra natal com mais frequência.
— Por causa do trabalho fica complicado ir seguidamente ao Brasil e à minha amada aldeia… Tem também a questão do calendário escolar do meu filho, que é bastante puxado. Daí fica bem complicado administrar tudo — diz a gravataiense-italiana.
Mas no final do ano passado ela conseguiu, com o marido e o filho, passar um tempo com familiares e visitar amigos por aqui. Aproveitando que Marco estava a trabalho no Chile, ela e Enrico foram ao encontro dele no país andino e, por lá, ficaram mais de um mês e, quando ele deu por acabada sua missão, correram ao aeroporto e desceram em Porto Alegre.
— Em dezembro eu e meu filho partimos para o Chile para encontrar meu marido que estava lá, a trabalho. Passamos 40 dias incríveis, é um país maravilhoso. Antes de voltarmos para Itália passamos 10 dias fantásticos em Gravataí com a minha família. Sou grata a todos e aos amigos pela forma como fomos recebidos na nossa cidade — contou.
Flores & espinhos
Mas nem tudo foram flores na vida de Luciana Linck Abati até chegar ao estrelato como comentarista de futebol com um programa no horário nobre das 20h em rede nacional na tevê Gruppo 7 Gold Bologna. Para isso, depois de aprender seis idiomas além do português (italiano, inglês, japonês, espanhol e francês) optou por trabalhar, inicialmente, como tradutora-intérprete em solo italiano.
— O idioma alemão, infelizmente, devido à gramática exigir muito tempo e dedicação, não inclui entre as línguas de domínio para realização de traduções ou para atuar como intérprete. O meu conhecimento não era suficiente, era o famoso “me viro” que serve somente para turismo — explicou.
No Japão, antes de um retorno ao Brasil e de fixar moradia na Itália, Luciana Abati foi operária, diz que teve uma vida bastante difícil devido ao trabalho pesado – “às vezes em condições subumanas” – e fala que sofreu pela saudade dos amigos e familiares e por enfrentar no dia a dia uma cultura completamente diferente.
Mesmo assim, garante:
— É uma cultura linda e um povo que tem muito para ensinar. Da minha parte havia muita humildade para aprender e vontade de conquistar meu espaço. Mas eram 12 horas de trabalho, e isso é muito desgastante.
Em terras nipônicas Luciana conta que conheceu uma senhora japonesa “que era como uma mãe”. As duas se comunicavam em inglês, mas isso não durou muito tempo.
— Através dela ensinava inglês para crianças em uma escola pública e até recebi um diploma de reconhecimento, da administração do território em que morava, pelo meu desempenho em relação à língua e integração respeitosa no país.
Gratidão é palavra muito presente no dicionário de Luciana.
— Sou grata por tudo que conheci com esta cultura milenar. Aprendi a língua em pouco tempo… Trabalhava e estudava. Nunca sofri nenhum tipo de preconceito, tampouco considero um povo frio. Às vezes as barreiras vivem dentro de nós. No Japão, sempre me abriram portas – e sou grata pelo respeito conquistado no país.
A modelo
Descoberta por uma agência de modelos, Luciana Abati conta que chegou a realizar trabalhos importantes. Mas não aprofunda o assunto, dando a entender que não seguiu carreira por opção pessoal, para não enfrentar dissabores.
— Sempre que posso enfatizo que nunca perdi minha dignidade e nunca vendi meus valores. Tenho muito orgulho disso. Vendi sim, um cérebro e um rosto, como fiz na Itália, nunca minha integridade física — destaca, colocando ponto final no capítulo ‘modelo’.
— Conquistar respeito com conteúdo é decisivo e o mais difícil. O restante será apenas consequência. Tanto que, ainda hoje, continuo em um mercado supercompetitivo no qual a beleza conta nos primeiros 15 minutos, ou menos até. Depois disso permanece quem vale além da aparência — afirma a jornalista e comentarista de futebol.
Barreira
O começo de Luciana na terra do navegador Marco Polo, do compositor Giuseppe Verdi, do poeta Dante Alighieri e do ditador Benito Mussolini – para ficar só nestes nomes – teve a normal dificuldade enfrentada por causa do idioma. Com o marido, por exemplo, falava somente em inglês no início do relacionamento.
Devido à facilidade e vontade de aprender, conta que em três meses já estava falando italiano. Com o passar do tempo aprendeu também o que define como “lindo dialeto modenese”, que predomina até os dias de hoje nas conversas em casa, principalmente porque a jornalista considera fundamental transmitir ao filho fragmentos importantes daquilo que faz parte da cultura dele.
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— Acredito, também, que não existe integração sem respeito e que não existe socialização sem comunicação. É por isso que defendo a necessidade de que as pessoas aprendam e dominem o idioma do país que escolheram para viver.
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— Isso vai além de uma questão de sobrevivência, de respeito por ti e pelo país que te recebe. Deixo muito claro que não perdi minhas tradições, acordo pela manhã com a cuia na mão e meu filho também adora chimarrão. E quanto ao meu sotaque, ninguém toca!
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— Sou como uma árvore, renovo minhas folhas mas não as raízes. Tenho no peito o legado de levar a história do meu Rio Grande do Sul e divulgar o meu clube, o Grêmio de Porto Alegre, do qual fui nomeada neste ano consulesa Itália/Ferrara, com muito orgulho.
Parla, Luciana!
Seguinte: – Onde moras e trabalhas, atualmente?
A gravataiense – Moro no norte da Itália. Antes, por cinco anos, em Modena, e há seis anos mudamos para um sítio em Ferrara, de nossa propriedade, um sonho que foi realizado. Iniciei na televisão em 3 de outubro de 2016, na Nuova Rete TV para a região Emilia Romagna. A audiência foi além das expectativas e com a repercussão positiva me levaram para o horário nobre e em rede nacional pelo Gruppo 7 Gold Bologna.
Seguinte: – Por que não desenvolver tua atividade no Brasil?
A gravataiense – Porque nunca imaginei que um dia trabalharia na televisão. Mas confesso que avaliaria uma proposta para trabalhar como comentarista de futebol no Brasil. O futebol é minha paixão, desde menina. Amo o futebol e amo esportes.
: Luciana encontra tempo para a família, o trabalho, e para as corridas como maratonista.
Seguinte: – Teu início, na tevê, foi como comentarista ou desempenhastes outras funções?
A gravataiense – Comecei como cronista, fazia crítica política e intervenções sobre a arte em abandono no território italiano, algo inaceitável no país do renascimento com patrimônios abandonados, invadidos, vítimas do descaso público. Fiz sucesso porque não me interessavam partidos, o papa, a mídia em geral, os chamados órgãos competentes. Não tinha medo de ninguém. Os resultados foram muito positivos e algumas lindas casas foram recuperadas, objetos foram resgatados, enfim, tivemos uma satisfação muito grande.
Seguinte: – E a comentarista…
A gravataiense – Devido à minha forte ligação com o esporte e com a Juventus, da qual sou torcedora fanática aqui na Itália, tanto que fui eleita Musa Brasileira Juventus, os ventos mudaram meu rumo profissional. Hoje sou apresentadora e comentarista esportiva direcionada ao futebol. Sou uma pessoa realizada! Eu acredito no esporte como mediador para manter nossos jovens distante das drogas e revelar talentos. Bom destacar, porém, que o mundo dos holofotes é uma faca de dois gumes. Tens que ter valores muito claros e fortes.
— Uma cervejinha na mão, uma partida de futebol, tudo de bom! O Grêmio corre nas artérias e a Juventus no coração. O importante é que não se encontrem em campo!
Seguinte: – Enfrentastes algum tipo de dificuldade para chegar ao estrelato?
A gravataiense – Eu sustento que para dignidade e respeito não há preço. Tenho orgulho de ter entrado na televisão expondo ideias, argumentos e reflexões. Não cheguei rebolando traseiro e me expondo de modo vulgar. Não basta ser conhecido, ser famoso, pois ser respeitado é a única e verdadeira prova de sucesso do teu trabalho. Entrar na casa das pessoas é uma grande responsabilidade, e eu procuro fazer isso com paixão e seriedade. Amo meu trabalho, amo meu público.
: A jornalista de Gravataí, na Itália, torcedora fanática e assumida do Grêmio e da Juventus.
Seguinte: – Tu é gremista…
A gravataiense – Desde que nasci! Ah, e meu marido também é gremista.
Seguinte: – E como o esporte entrou na tua vida?
A gravataiense – Desde criança, sempre gostei. Aqui na Itália, após a chegada do meu filho, passei alguns anos parada. Nos primeiros anos de vida dele optei por ser mãe 24 horas por dia e não perdi um segundo da emoção de poder acompanhar cada progresso da vida dele. Hoje ele está com oito anos, então já são três anos em que estou podendo ter mais tempo pra mim. Voltei a correr, algo que também sempre gostei, e até participei de algumas maratonas regionais com bons resultados.
Seguinte: – O filho e o marido falam português? Ensinas ou tentas ensinar a nossa língua para eles?
A gravataiense – O Marco fala português devido às experiências de trabalho pelo Brasil e pelo Rio Grande do Sul. Meu filho, desde pequeno, adora chimarrão, mas em relação ao idioma e devido à confusão que poderia ocasionar na escola, os orientadores nos aconselharam darmos um tempo, até se corrigirem algumas imperfeições da linguagem.
Seguinte: – O Marco, teu marido, gostou de Gravataí?
A gravataiense – Amou nossa aldeia desde a primeira vez que visitou. Ficou encantado com a nossa linda catedral Nossa Senhora dos Anjos e, principalmente os restaurantes. Sem intenção de fazer propaganda, o restaurante italiano do Romeo ali na RS-118, o Stanza d’Oro, é sensacional!
: O gaúcho sai do Rio Grande mas o Rio grande não sai do gaúcho! "Chimarrão aqui em casa é sagrado".
Seguinte: – Na Itália, és torcedora da Juventus, assumida, inclusive para os que te assistem na televisão. Isso não te causou problemas?
A gravataiense – Sou Juve sim, sem dúvidas! Muitas pessoas, no início, questionavam. Eu sempre explico que é muito simples: Nada mais justo que adotar um time no país em que moro há 13 anos. Não vivo sem futebol, sou assumidamente apaixonada, então não tem porque não assumir também que sou torcedora da Juventus. Foi amor à primeira vista, desde quando cheguei aqui. Iniciou devido à admiração pelo futebol do jogador Alessandro Del Piero. Hoje, mais do que nunca, sou juventina pelo futebol do nosso Douglas Costa, que era do Grêmio. Ele domina o campo com a verdadeira arte do futebol brasileiro, técnica, velocidade e muita imaginação.
— Quando criança aprendi amar, respeitar e admirar meu avô, conhecido em toda cidade pelos livros que escreveu e pelo seu ativismo na defesa do meio ambiente, desde sua luta por uma barragem no Rio Gravataí até a conclusão da Praça da Várzea na gestão do prefeito Daniel Bordignon. Praça que leva seu nome em homenagem à luta pela sua construção: Patrono Olavo Freitas. É uma perda não superada por mim, desde 2007 quando ele partiu para o plano maior.
: Luciana com o marido, o engenheiro Marco Abati, e o filho Enrico, gauchinho-italiano de oito anos.
ELA DISSE
— Um abraço, tchê… Em tempo, o sotaque gaúcho é sagrado! Não perdi, e tenho um baita orgulho dele!
PARA FINALIZAR
— Un grande abbraccio con affetto al team giornalistico, e a tutti voi della mia adorata città”!
(Traduzindo: “Um grande abraço com afeto ao grupo jornalístico e a todos vocês da minha adorada cidade”.)
ELA, A PROFISSÃO
ELA, NAS REDES
ELA, A BELA
Reportagem sugerida pelo internauta Jorge Tafras, seguidor e leitor assíduo do Seguinte:.