Quase três mil quilômetros de distância vive esta filha de sua mãe. Maria Odila mora no Mato Grosso. Há trinta anos recebe o meu telefonema nesta data eternizada como o dia de prestar um reconhecimento afetivo às mães. Durante o restante do ano eu a homenageio através de meus atos, que são resultado e consequência dos valores que ela incutiu no meu modo de ser.
Mães nascem com dois sensores prá lá de especiais: um é o de movimento; o outro é o de coração. Quando a criança faz uma travessura ou está em demasiado silêncio, mesmo no extremo oposto da casa, elas ouvem! Já adultos e mesmo a quilômetros de distância, nossas mães ligam ou aparecem no momento em que estamos sofrendo e não perdem tempo em explicar o motivo e cobrar resposta: “Senti um aperto no coração: o que está acontecendo?”.
Mães são únicas, mas todas usam expressões clássicas em nossa infância e adolescência (geralmente acompanhadas de um olhar e um tom de voz que não dão margem para contestação). Você com certeza lembra:
– “Lá em casa a gente conversa”!
Essa fala provocava uma angústia danada durante todo o trajeto e, dependendo do que havíamos feito, era tempo de pedir aos céus que ela esquecesse até chegar em casa. Normalmente acontecia uma demorada reprimenda. Às vezes, até um castigo.
– “Vou contar até dez”!
Esse era um exercício de paciência da minha mãe que adotei. Também faço a contagem em momentos tensos.
– “Eu vou falar só uma vez”!
Que eu me lembre, nunca foi preciso repetir…
– “Eu avisei”!
Além do incômodo com o problema que poderia ter sido evitado, ainda era preciso concordar…
– “Tu não és todo mundo”!
Na adolescência foi o argumento que mais ouvi para não ir às festas!
– “Não tem ‘mais’, nem ‘menos’, faz o que eu estou dizendo”!
Esta frase acontecia depois que o diálogo empacava. Os argumentos não me convenciam, mas fim pra eles. Entrava em ação o exercício do poder.
Advertências, reprimendas, críticas, ordens. Tudo bem, porque a intenção sempre foi boa. E, ainda mais, porque tinha – tem – outras frases que fazem abrir o mais largo sorriso. Como estas, ditas diretamente, olho no olho, ou na conversa com amigos:
– “Meus filhos, meu orgulho!” “Meus filhos são uma benção!”. “Tu és uma boa filha!”.
Declarações de amor! Certo é que lembramos não dos presentes ou das coisas materiais, mas dos gestos carinhosos e do olhar de ternura que os acompanham. Percebemos que as declarações do amor materno eram e são o melhor para nossas vidas.