Câmara teve 13 trocas, num movimento de mais de 15 mil votos. Ex-prefeito e deputado e atual vice também entraram no troca-troca
Sonhos de uma Noite de Verão (A Midsummer Night´s Dream) é uma peça teatral de autoria de William Shakespeare. Acredita-se (sim, porque se desconfia até de que Shakespeare era um fake) ter sido escrita nos anos 50 para o casamento de Sir Thomas Berkeley e Elizabeth Carey.
Numa tradução de Beatriz Viégas-Faria, a história penetra “nos encontros e desencontros de quatro jovens enamorados, em um bosque, numa noite de verão”.
Lisandro ama Hérmia que ama Lisandro e é amada por Demétrio, que é amado por Helena; depois, Demétrio ama Helena, que ama Demétrio e é amada por Lisandro, que é amado por Hérmia.
Na manhã seguinte, tudo se resolve, há um casamento triplo e por aí vai – para não fazer mais spoiler dessa comédia trágica.
Certamente não inspirado em elementos da mitologia greco-romana e da literatura clássica, em Gravataí também já está tudo resolvido nos trocas-trocas políticos de outono.
A janela que permitia sair de um partido e entrar em outro encerrou nesta segunda. E o que não faltou foram decisões e indecisões históricas, momentos dramáticos e desfechos inusitados, grandes viradas ao estilo da melhor dramaturgia.
O SEGUINTE: vai contar os bastidores dessa novela em detalhes, nos próximos dias, na série “Pulando a Janela”. Para o leitor ir se acostumando com os cenários e personagens, aí vai um trailer:
1. Entre os candidatos a prefeito, Daniel Bordignon, trocou pelo PDT o PT que ajudou a fundar há 35 anos. Analisando apenas o período da ascensão e queda do PT, onde Bordignon é o personagem central das eleições de Gravataí há mais de duas décadas, foram 237.621 votos, somadas as duas eleições que o elegeram prefeito, 1996 (35.359) e 2000 (66.558), as campanhas em que foi eleito deputado, 2006 (40.606) e 2010 (35.302), e mais os 40.769, de 2012, e os 19.027, de 2014, eleições em que bateu na trave na disputa pela Prefeitura e a Assembleia Legislativa. Isso sem contar a eleição de 2008, onde teve a candidatura impugnada na última semana de campanha e ajudou a eleger sua substituta, Rita Sanco, com o voto de 68.553 eleitores que, ao digitarem o botãozinho verde do “confirma”, viram a foto de Bordignon aparecer na urna eletrônica.
2. Outro artista conhecido da política local, Francisco Pinho trocou o DEM pelo PSDB. Na carreira, além de quatro mandatos como vereador e uma passagem relâmpago pela Assembleia Legislativa, Pinho foi o vice de Acimar da Silva (PMDB) no governo transitório de dois anos, eleito por voto indireto pela Câmara após o impeachment da prefeita Rita Sanco (PT), em 15 de outubro de 2011, e é o atual vice de Marco Alba (PMDB), eleito nas urnas em 2012.
3. Na Câmara, a janela foi mortal para a fidelidade partidária. Mais da metade (58,8%) dos 21 vereadores que assumiram em janeiro de 2013 estão de figurino novo. Foram 13 trocas de partido.
4. O movimento nas trocas foi de 15.506 votos.
5. A cena mais dramática tem o PT como protagonista e/ou vítima. Os quatro vereadores eleitos em 2012 – com 8.019 votos – saíram do partido.
6. Quem mais ganhou foi o PSD, que não tinha uma bancada e agora tem três vereadores.
7. O PSDB, que também não tinha bancada, tem agora dois vereadores.
8. O PDT, que desde as eleições de 2008 não tinha vereador eleito, atraiu um.
9. A Rede, que não existia em Gravataí, tem agora uma vereadora.
10. O PMDB perdeu um vereador e ganhou outro, se mantendo como a maior bancada da Câmara.
11. O PSB, que tinha dois vereadores, conquistou mais um.
12. O PP, que tinha dois, ficou com um vereador.
13. O PTB perdeu seu vereador e ficou sem bancada.
O TROCA-TROCA NA CÂMARA
Confira na ordem dos mais votados, quem ficou, e quem trocou de partido
: Nadir Rocha (PMDB), 3.500 votos, não trocou de partido.
: Juarez Souza (PMDB), 3.291 votos, não trocou de partido
: Alemão da Kipão (PT), 2.525 votos, foi para o PSD
: Roberto Andrade (PP), 2.448 votos, não trocou de partido
: Carlos Fonseca (PSB), 2.328 votos, não trocou de partido
: Alan Vieira (PMDB), 2.197 votos, não trocou de partido
: Alex Peixe (PT), 2.150 votos, foi para o PDT.
: Paulinho da Farmácia (PTB), 2.146 votos, foi para o PMDB
: Dilamar Soares (PMDB), 2.066 foi para o PSD
: Clebes Mendes (PMDB), 1.974 votos, não trocou de partido
: Tanrac Saldanha (PRB), 1.879 votos, não trocou de partido
: Alex Tavares (PMDB), 1.816 votos, não trocou de partido
: Dimas Costa (PT), 1.726 votos, foi para o PSD
: Carlito Nicolait (PT), 1.618 votos, foi para o PSB
: Márcio Souza (PV), 1.607 votos, não trocou de partido
: Evandro Soares (DEM), 1.473 votos, não trocou de partido
: Fred Pinho (DEM), 1.436 votos, foi para o PSDB
: Paulo Silveira (PSB), 1.135 votos, não trocou de partido
: Gerson Rovisco (PV), 1.058 votos, não trocou de partido
: Beto Pereira (PP), 988 votos, foi para o PSDB
: Maribel da Rocha Wagner (PCdoB), 851 votos, foi para a Rede
Como ficaram as bancadas
: PMDB
Nadir Rocha
Juarez Souza
Alan Vieira
Paulinho da Farmácia
Clebes Mendes
Alex Tavares
: PSD
Alemão da Kipão
Dilamar Soares
Dimas Costa
: PSB
Carlos Fonseca
Carlito Nicolait
Paulo Silveira
: PV
Márcio Souza
Gerson Rovisco
: PSDB
Fred Pinho
Beto Pereira
: PP
Roberto Andrade
: DEM
Evandro Soares
: PRB
Tanrac Saldanha
: REDE
Maribel da Rocha Wagner