crime

Mansão em Cachoeirinha é elo entre tráfico e política

Polícia Civil cumpriu mandados de busca em Novo Hamburgo nesta terça | DIVULGAÇÃO PCRS

Quando chegou para assinar o contrato de compra da casa, o comprador oficial estava acompanhado por um homem, que o trouxera até Cachoeirinha. O acompanhante tinha um relógio de ouro e chegou dirigindo um carro esportivo de luxo. O comprador, não chamava a atenção. Tratava-se da compra de um casarão de R$ 1,2 milhão no condomínio Villaggio di Firenze, em 2015. A polícia comprovou, depois, que quem assinava o contrato não passava de um “laranja” para beneficiar o homem apontado como um dos líderes e principais financiadores da facção criminosa Os Manos, àquela altura: Juliano Biron da Silva.

Era o próprio Biron quem acompanhava o “laranja” na hora da assinatura. Na época, ele já estava no alvo da polícia, mas ainda mantinha, também com o uso de "laranjas" uma lucrativa rede de lanchonetes, incluindo uma filial em Cachoeirinha. Pois a mansão foi a pista fundamental que levou a polícia às ligações entre a facção criminosa e políticos de Novo Hamburgo. O caso foi revelado na manhã desta quarta-feira (12), durante a Operação Consilium, da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro, do Denarc.

Entre as moedas de troca oferecidas ao vendedor de Cachoeirinha, estava uma casa em Tramandaí, no litoral, em nome do atual vereador de Novo Hamburgo, Emerson Fernando Lourenço, o Fernandinho (SD).

— Apuramos que era o Biron quem iria usufruir do casarão. Mais adiante, durante a Operação Harpia, no ano passado, apreendemos na casa de um dos líderes do grupo um contrato de compra e venda da casa no litoral, que estava no nome do vereador — explica o delegado Márcio Zachello.

 

Casa, lancha, carro e dinheiro pela mansão

 

Além da casa de praia, o traficante teria oferecido, pelo casarão no condomínio fechado, uma lancha, um carro e uma quantia em dinheiro. Os bens, avaliados em R$ 8 milhões, já foram sequestrados durante a Operação Harpia, que atacou a lavagem de dinheiro comandada por Juliano Biron. No patrimônio construído, segundo as investigações, com o lucro do tráfico de drogas, estava a rede de lancherias Skillus, com uma das filiais em Cachoeirinha. Na cidade, ele também mantinha um pub até o ano passado, além de uma boate de alto padrão, fechada em 2016 após outra ação do Denarc, na Arena do Grêmio.

Em 2017, a polícia apontou que, usando “laranjas”, Biron movimentou R$ 60 milhões desde 2012, mascarando o fornecimento de drogas para comparsas da facção, sobretudo na sua ramificação atuante entre Gravataí e Cachoeirinha, conhecida como Os Ladeira. A revelação da quantia pelo Denarc aconteceu no mesmo dia em que Biron foi transferido para a penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde permanece preso.

 

: Documentos foram apreendidos durante a Operação Consilium | DIVULGAÇÃO PCRS

 

Mas aquela apuração teve desdobramento e chegou agora aos gabinetes no Vale do Sinos. A rede de contatos do traficante, segundo a polícia, teria como parceiro o atual secretário adjunto de obras daquele município, André Arenhardt. Ele foi exonerado ainda na manhã desta quarta.

Conforme a investigação, Arenhardt era empresário no ramo da revenda de peças de carros e, desde 2012, teve movimentações financeiras suspeitas e relacionadas ao Biron. Em 2016, Arenhardt fez doações à campanha de Fernandinho, em Novo Hamburgo. Na sequência, foi indicado por este a fazer parte da secretaria de obras do município. No mesmo período, a 2ª DP de São Leopoldo começou a investigar Fernandinho por lavagem de dinheiro e, com as duas apurações unificadas, se chegou à conclusão de que os dois suspeitos eram um elo financeiro da facção criminosa. Eles teriam movimentado R$ 15 milhões entre 2012 e 2018, por meio de três pessoas físicas e seis pessoas jurídicas.

Atualmente, está sendo apurada a lavagem de dinheiro em empresas no ramo de transportes, demolidoras de veículos, e a aquisição de bens móveis e imóveis em nome de terceiros. Os documentos apreendidos serão analisados pelas equipes especializadas em lavagem de dinheiro, prosseguindo as investigações para desmantelar o esquema de lucratividade e ocultação de valores da facção.

Os dois políticos serão indiciados por lavagem de capitais, assim como Biron.

 

: Juliano Biron foi preso no final de janeiro de 2016 | DIVULGAÇÃO PMSC

 

Preso por homicídio

 

O criminoso foi preso dias depois da assinatura de compra do casarão, em janeiro de 2016, quando estava refugiado em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Era procurado, na época, pelo assassinato do fotógrafo José Gustavo Bertuol Gargioni, motivado por ciúme, em julho de 2015.

O fotógrafo teria marcado um encontro com a companheira de Biron, que armou a emboscada para matá-lo em Canoas, como apurou a polícia.

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade