Dos 21 vereadores de Gravataí, apenas 10 fizeram indicações para o Troféu Sônia Paim, entregue a personalidades negras de Gravataí em sessão solene na noite desta quarta-feira.
Lembrei do best seller “Racismo Estrutural”, de Silvio Almeida, hoje ministro dos Direitos Humanos e Cidadania do Brasil.
Antes, vamos às informações.
Instituída pela Resolução nº 7/2015, a premiação, que é uma das maiores honrarias do parlamento municipal, é conferida anualmente durante a Semana da Consciência Negra.
Sônia Paim era professora, militante do movimento negro e foi a primeira secretária municipal negra, de Educação e Cultura, entre os anos de 1991 e 1992.
Conforme publicação do site oficial da Câmara, Anderson Nascimento foi indicado pelo vereador Alan Vieira (MDB); Cezar de Iodê por Alex Peixe (PTB); Jairton Camisolão Silva da Silva por Alison Jonas Silva (MDB); Jurema Pinheiro da Silva por Anna Beatriz (PSD); Paulo Ramos dos Santos por Cláudio Ávila (União Brasil); Helena Porto Elias por Demétrio Tafras (PSDB); Nando Trindade por Dilamar Soares (PDT); Paulo Cezar Magalhães por Marcia Becker (MDB); Eliza Raquel Mendes Macedo por Paulo Silveira (PSB) e Cristiane Gomes da Silva por Thiago de Leon (PDT).
Não vou citar os que não indicaram porque não é o objetivo deste artigo.
Trago à reflexão o ‘racismo estrutural’ porque não lembro de, na entrega de outras honrarias pela Câmara, como Destaques da Aldeia, ou títulos honoríficos, metade dos vereadores abrirem mão de fazer suas indicações.
Silvio Almeida vai além do racismo individual, patológico, anormal e criminoso, ou do institucional, que garante privilégios e desvantagens baseado na diferença, servindo para manter a hegemonia do grupo racial no poder. Sua teoria social traduz o racismo estrutural como “uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo normal com que se constituem as relações políticas, econômicas jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e nem um desarranjo institucional”.
Não é uma violência direta contra um negro, um judeu, um palestino, algo ‘tratável’, se não no caráter, ao menos nas ações, com leis rigorosas. São, nas palavras desse que é um dos maiores intelectuais brasileiros, “as ações inconscientes”.
É o racismo naturalizado, o corriqueiro estranhamento causado nas pessoas quando veem um médico negro, ou a aceitação como normal de negros restarem em posições sem prestígio social e majoritariamente com os menores salários, ou mesmo a falta de surpresa de, percentualmente, devido à desigualdade, terem sido os negros as maiores vítimas em uma pandemia.
Engana-se quem interpretar que estou identificando os políticos como racistas individualmente, ou acusaria também a mim, que, aprendendo todos os dias, branco e privilegiado, por vezes resto incluso sob o conceito do ‘racismo estrutural’.
Conheço os políticos, uns mais, outros menos, a maioria bastante, e não tenho nenhum testemunho para levantar suspeitas de que não cultivem relações com negros para fazer indicações, ou pior, não reconheçam em pretos personalidades merecedoras da honraria.
Salvo melhor juízo, simplesmente não trataram o Troféu Sônia Paim com a grandeza que merecia. Perdeu-se parte do brilho de uma Semana da Consciência Negra promovida, pela profundidade do ciclo de palestras e debates, de forma impecável pelo legislativo.
Ao fim, ocupando aqui um lugar de fala, reputo faltou um negro na Câmara dos brancos de Gravataí para avisar que, para os pretos, festa quase sempre também é luta.
