opinião

Meu Face é um Dogolachan Nutella; teste o ódio de seus ’amigos’

Mensagem que teria sido deixada por atirador no fórum extremista Dogolachan

Já tinha tratado do assunto em Suzano é nosso Columbine; já disparou ódio hoje em frente às crianças?, mas os fatos, aqueles chatos, aparecem a cada dia e atrapalham os argumentos dos que acham que a exposição de crianças e adolescentes à violência e às armas não passa de uma brincadeira igual a videogame, ou ao tiozão do churrasco ensinando a sobrinha a posar para fotografia fazendo dedinho de arminha.

Muitos vão metralhar as gastas teclas c-o-m-u-n-i-s-t-a, p-e-t-r-a-l-h-a e m-i-m-i-m-i, mas sim, entendo que Jair Bolsonaro tem sua culpa pelo massacre em Suzano. É um gatilho que o hoje presidente sempre ajudou a apertar e vem das palavras, de um discurso de ódio que tem três décadas e encontrou seu lar no Call of Duty diário no Grande Tribunal das Redes Sociais.

Uma mimetização de Donald Trump, coincidentemente (?) elogiado, no massacre live do dia seguinte, em ‘manifesto’ deixado pelo matador das mesquitas na Nova Zelândia.

Explico.

É uma culpa política, que é de Bolsonaro, de seu clã habilidoso em usar do grito, da fake e da crazy news, das homenagens e milicianos e toruturadores, para arrastar como cúmplices uma milícia virtual, muitos adolescentes, sob o silêncio constrangido de tantos que embarcaram nessa aventura apenas para tirar o PT do governo (mesmo que, convenhamos, o partido fizesse mais parte do ‘status quo’ do que o bolsonarismo que, por sua vez, não tem práticas muito diferentes até agora).

Faça um teste: ligue um cronômetro, corra agora sua timeline e em menos de um minuto aparecerão posts – o pior é que, a maioria, de perfis verdadeiros – disseminando intolerância, fundamentalismo, sexismo, homofobia, machismo, racismo e “outros ismos”, como alguns gostam de debochar, participando, com consciência ou não, de uma naturalização da violência como contraponto ao “politicamente correto”.

Mentalize esses posts e siga agora O que as redes sociais dizem sobre um dos atiradores de Suzano, perfil produzido por Bárbara Libório e Daniel Salgado para a revista Época.

Depois concluo.

 

“(…)

Um amante de armas, um apoiador de Jair Bolsonaro, um fã deWalking dead . É assim como se mostra nas redes sociais Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, um dos dois atiradores da Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Antes do tiroteio, o adolescente, que se identificava como Guilherme Alan no Facebook, publicou 30 fotos em que veste as mesmas roupas usadas no atentado, inclusive a máscara de caveira. Também aparece nas imagens portando uma arma e mostrando o dedo do meio. O perfil foi retirado do ar na tarde da quarta-feira 13.

Um amor: armas; Eu amo armas e Portal armas de fogo são algumas das páginas com as quais o jovem mais interagia. Ele costumava curtir fotos de armas de fogo e facas, arsenais de armas e vídeos de atiradores. Há um mês, ingressou no grupo  Comércio e divulgação de facas artesanais #cutelaria em geral. Com mais de 13 mil membros, o grupo é dedicado aos amantes das cutelaria, que discorrem sobre a fabricação de facas.

Outro traço constante em seu perfil é o apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Durante a campanha, Guilherme curtiu conteúdos como a mensagem “O meu candidato é apoiado pela polícia, o seu é procurado por ela”, que aparece junto a uma foto do presidente abraçado a policiais. Vários dos posts feitos na página oficial do presidente no Facebook também foram curtidos por ele. Em um, de 2018, Bolsonaro aparece comemorando o aumento da pena de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da SIlva. Em outra, aparece em uma foto com Ueli Maure, presidente da Suíça.

A admiração se estendia a outros membros da família. Além de postagens da página oficial de Eduardo Bolsonaro, o jovem também interagia com conteúdos como uma imagem em que o filho do presidente aparece segurando uma arma de alto calibre com a frase “Às vezes me pego pensando, por que o MST nunca invadiu minha propriedade?”. A postagem é da página Bolsonaro Opressor 2.0.

Sobre a vereadora Marielle Franco, assassinada no ano passado, Guilherme curtiu um post da página do delegado Roberto Monteiro que diz “trate bandidos como vítimas, e um dia a vítima será você”.

Além das cruzadas contra o feminismo e a favor do armamentismo, Guilherme se mostrava um jovem comum nas redes sociais. Com frequência, o adolescente comentava em publicações que falavam sobre a empresa WWE, que produz programas de luta livre. Também curtia fotos sobre séries de televisão que assistia. Entre elas estavam Hannibal , protagonizada por Mads Mikkelsen, e principalmente o seriado Walking dead , do qual Guilherme demonstrava ser bastante fã.

Não parava por aí: como qualquer adolescente, Guilherme também tinha seus gostos musicais. A banda canadense de rock Three Days Grace parecia ser sua predileta. O que mais aparecia em seu perfil, porém, eram os videogames. O jovem compartilhava imagens e curtia memes de games de tiro em primeira pessoa, como os da série Call of Duty e Ghost Recon.

Por outro lado, o jovem também dava indícios de que passava por problemas psicológicos. “Quando você faz uma piada sobre suicídio e todo mundo ri, mas na verdade é um relato sobre a sua vida”, diz uma postagem de 2018, da página Sadboys 1998, curtida por ele. Outra, da página A Morte, faz piada com pessoas que recusam convites para sair porque não têm autoestima para aparecer em público. 

(…)”

 

Concluo.

Se o histórico de navegação do assassino não é um motivo de preocupação para você, ufa, principalmente se for diferente do seu! Aí, talvez o problema sejam as centenas de pessoas que estão nas minhas redes sociais, outras tantas que conheço pessoalmente ou mesmo anônimos que testemunho discursar, dentro do ônibus, por exemplo, além de, por óbvio, vários políticos – muitos os quais chamo informados do mal, porque usam da desinformação e do medo das pessoas para fazer demagogia, populismo, incentivar a violência, despertar monstros interiores e, claro, lucrar com isso.

No meu minuto de exercício em minhas redes sociais profissionais, na Gravataí que deu sete a cada dez votos para o ‘mito’, visualizei praticamente um Dogolachan: defesa de armas, ataques ao feminismo, fundamentalismo religioso, relativização de racismo e deboche com a morte de Marielle. Do que Guilherme gostava de compartilhar, só faltou o Walking Dead.

 

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