O bolsonarismo é uma seita.
E, no mundo invertido do Brasil de hoje, já tem sua pastora. É Michelle Bolsonaro, que deu um show – de horrores – no Maracanãzinho, na convenção que lançou Jair Bolsonaro à reeleição.
Com grife verde amarela – a mesma cor dos pombos cruelmente pintados na marcha para jesus que teve carro alegórico de trêsoitão e caixão do Lula – é uma Claire Underwood fundamentalista, a próxima da fila na inevitável derrocada do mito nas urnas eletrônicas; graças às mulheres, as pesquisas mostram.
– Ele é um escolhido de Deus – cometeu Michelle, atuando, como tem treinado em grupos de teatro de Brasília, num discurso onde reconhece a pequenez do marido, ao lembrar que era “um deputado ralézinho, não tinha partido, não tinha dinheiro”, mas, messianicamente, ressuscita o crime da facada como um sinal divino.
Sua fala esconde contradições, como ao dizer que “quando um justo governa uma nação, o povo se alegra, mas, quando o injusto governa, o povo geme”, frente a um Brasil com 700 mil mortos pela covid e a fome como um tiro na cara a cada esquina.
– Nem precisa muito, é só você obedecer, obedecer aos mandamentos do Senhor ‘orai pelas autoridades instituídas, e tudo vai dar certo’ – disse a primeira-dama, ilógica quando tudo o que faz seu marido é atacar as instituições democráticas.
É uma girlixo ao, como alertava Paulo Freire, na Pedagogia do Oprimido, ocupar o corpo das mulheres com um discurso fundamentalista, patriarcal ao dizer que “o Brasil é do Senhor”, posse de um pronome masculino.
O Brasil é dos crentes e dos católicos, sim, mas é também dos batuqueiros, dos agnósticos e ateus. O Estado é laico, não é talibã, seja de burca ou camisa da CBF.
– Sejam fortes, queridos. Sejam fortes e corajosos. Não negociem com o mal. Essa luta não é contra homens e mulheres, é contra potestades e principados. A palavra do Senhor não vai voltar vazia – concluiu Michelle.
“Potestades e principados”, na Bíblia, representam governantes e reis.
Aí, pergunto: quem estava no mesmo Maracanãzinho do casal Bolsonaro?
Lira, presidente da Câmara, ‘inocentado’ pelo mesmo STF que anulou as condenações de Lula; o mensaleiro Waldemar da Costa Neto; Fernando Collor de Mello… Todo o protetorado que Bolsonaro, para se eleger, criticava, demonizava como antipolítica, antissistema, e hoje paga, com orçamento secreto, para não se impichado.
Não são esses os bandidos do Centrão, os assaltantes do orçamento público, que o general – bolsonarista – Heleno falou, sambou nas palavras, lá na campanha de 2018: “se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”?
Ao fim, alerto para o discurso perigoso de Michelle, pior até dos que faz seu deprimente da república, porque aparece bonita e leve, mas atirando 37 vezes o nome de Deus na lama da política.
O discurso do casal é um Jim Jones às avessas, já que, diferente do líder de seita que levou os seus ao suicídio, compele a matar, em uma delirante guerra civil entre o bem e o mal, deus e o diabo.
Por que incluí Gravataí, Cachoeirinha, Canoas e Viamão na manchete?
É porque o Seguinte:, hoje, fala prioritariamente para essas comunidades. E, reputo, este artigo, assim como vai revelar nos comentários o comportamento de seita no Grande Tribunal das Redes Sociais, pode fazer com que políticos, atados aos grilhões das brigas locais, durmam hoje pensando na loucura na qual estamos metidos; e o papel de cada um, se não frente à História, às suas famílias.
Meu compromisso é, assim que o Lula for eleito, pau nele!