Miki Breier cedeu.
Mesmo com uma média de mais de uma morte a cada 24h registrada em agosto, o prefeito de Cachoeirinha acaba de publicar no Diário Oficial o Decreto 6971/2020 liberando praticamente todas as atividades não-essenciais. Bares, cinemas e até boates poderão abrir. Parques, praças e quadras esportivas fechadas também. Ônibus estão autorizados a rodar com alta ocupação. Só não é pior para o distanciamento social porque aulas em escolas infantis, ensino fundamental e médio seguem remotas.
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– Cachoeirinha é considerado um dos municípios com o menor índice de letalidade da COVID-19 no Estado do Rio Grande do Sul, mapeando todos os casos de suspeitas da doença e o atendimento aos pacientes no Hospital de Campanha, montado no Ginásio Municipal, no bairro Anair – justifica o prefeito, no decreto.
No Twitter, postou:
– Não se trata de pressão, mas de compreensão sobre o momento que estamos vivendo. Há quase cinco meses estamos ouvindo que “as próximas duas semanas serão cruciais”. Mantendo as restrições e os protocolos, é hora de funcionar as atividades da cidade.
Ao fim, já era, mesmo que flexibilizada hoje, a bandeira vermelha, de alto risco, na qual Cachoeirinha era classificada no Distanciamento Controlado do Governo do RS – que apesar de fake, de cuidado sob a lei vampeta, a do “uns fingem que cumprem, outros fingem que fiscalizam”, reputo ainda era o melhor dos piores modelos aplicados no Brasil.
A flexibilização de Miki é a versão local do ‘efeito eleição’, que alertei nos artigos como Governador quer mais mãos para colorir o mapa da COVID; a lógica do ’Decreto-Pilatos’ e Eduardo Leite botou na dos prefeitos; Com ’Decreto Pilatos’, Marco Alba e Miki vão abrir ou fechar mais o comércio?, quando o governador Eduardo Leite lavou as mãos e apresentou uma confusa proposta de ampliação da autonomia dos prefeitos – a maioria candidatos à reeleição sob pressão de entidades empresariais, como tratei em Vídeo protesto: Associação Comercial faz terraplanismo contra distanciamento social em Cachoeirinha; alerta de cancelamento.
Lamento a decisão do prefeito. Pesquisas de aprovação mostram que não era necessário ceder à gritaria. Cachoeirinha – além de não ser uma ilha e não ter fronteiras com uma capital onde o prefeito propõe lockdown de atividades a cada 15 dias – tem uma incidência de contágio (924.8/100 mil habitantes) maior que Porto Alegre (591.6) e Gravataí (550.6).
A Região Porto Alegre, neste momento em que escrevo, tem 8 a cada 10 leitos de UTI ocupados. Na Capital, quatro hospitais lotaram (Cristo Redentor, Vila Nova, Restinga e Santa Ana) e outros seis estão acima de 90% (Clínicas, Conceição, Moinhos de Vento, Mãe de Deus, Instituto de Cardiologia e Ernesto Dornelles).
Há pouco, o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, encaminhou ao chefe do Ministério Público, procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, representação pedindo medidas em relação ao estabelecimento da bandeira vermelha em Esteio e Novo Hamburgo. Por analogia, Cachoeirinha, que editou decreto minutos depois, deve ser o próximo alvo.
Ao fim, quando foi o primeiro prefeito da região a tomar medidas de distanciamento social Miki cometeu a frase que usei na manchete da entrevista “Não serei o prefeito lembrado por contar corpos; Cachoeirinha tem primeira confirmação de COVID 19”, publicada em 31 de março pelo Seguinte:.
Que assim não seja.
É cada um por si.
E amanhã tem GreNal.
E depois, Dia dos Pais.
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