eleições 2020

Miki ’ganhou’ o debate; e a lamentável ausência em Cachoeirinha

Primeiro debate da eleição de Cachoeirinha foi realizado pela Rádio e TV Local Mais

Miki Breier ‘ganhou’ o debate em Cachoeirinha. Sem torcida ou secação, são os fatos aqueles chatos que atrapalham argumentos. Só neófitos da política hão de discordar que, quando um prefeito candidato à reeleição sai de um enfrentamento ‘todos contra um’ sem ser colocado nas cordas, e sem ver surgir um adversário melhor que ele, é como no futebol uma vitória fora de casa. Uma ausência, porém, senti no debate web da Rádio e TV Local Mais. Uma lamentável ausência, que trato na sequência deste artigo.

Não escrevi logo após o fim do debate, que começou às 20h e terminou depois das 22h, para deixar ‘dormir a ideia’. O faço hoje porque o sentimento de frustração foi grande com o que vi. Piorou quando, após desconectar da rádio web, fui assistir aos debates promovidos pela Band em Porto Alegre e outras capitais. Simplesmente não consigo ver ganho para o eleitor.

Não é uma crítica à rádio da cidade, que organizou bem o evento, dentro de suas possibilidades, e mostrou mais os candidatos em um debate mais ‘raiz’ do que o ‘nutella de estacionamento’ da RBS.

Entendo gastou a fórmula de debates.

Nem nos EUA, com apenas dois candidatos, parece funcionar. É tudo superficial: as propostas e as acusações. Só servem para coleta de boas frases, ou Grandes Lances dos Piores Momentos, para as campanhas venderem suas narrativas e pós-verdades em vídeos e memes no Grande Tribunal das Redes Sociais.

Algo que os comentários da transmissão ilustram: muita briga de torcida, pouca informação, quase nenhuma racionalidade.

Em todos os debates, ‘a’ ausência. O “como”. Como fazer? De onde tirar o dinheiro?

Quem mais ultrapassou as platitudes e frases lugar-comum, e se aproximou de uma resposta, foi Miki, e aqui mais um ponto para ele. Mas o que disse deveria preocupar mais do que ‘denúncias’ e caça-cliques, que tem marcado uma política de Cachoeirinha que é tarada por golpeachments e CPIs. Investimentos, antecipou o prefeito, só com financiamentos. E é dinheiro que só vem com contas em dia e certidões negativas de débito. Como da previdência, por exemplo, onde há uma dívida de R$ 200 milhões com o instituto municipal e, caso não seja renovado o balão permitido durante a pandemia pelo governo Bolsonaro, precisa voltar a ser paga em 2021.

Participaram Miki Breier (PSB), Antônio Teixeira (REDE), Rubinho Ohlweiler (PSL), Delegado João Paulo (PP) e Jeferson Lazzarotto (PT). Pablo Hernandez (DC) não foi convidado.

CLIQUE AQUI para assistir a íntegra do debate e tirar suas conclusões. Neste artigo faço minha análise. Siga.

 

1.

Miki Breier, como todo prefeito brasileiro em primeiro mandato, disse que não fez mais devido à crise, herdada do governo anterior, de seu partido, que há duas décadas comanda a Prefeitura, e piorada devido ao contágio econômico da pandemia. Não mentiu ao dizer que foi preciso um ajuste nas contas, já que ao assumir em 2017 o gasto com a folha de pagamento consumia quase 8 a cada 10 reais arrecadados.

Um et baixando em Cachoeirinha entenderia que o prefeito defende seu legado contra quem governava antes dele e quer voltar. O que não estaria de todo errado, já que colou a classificação de ‘Situação A’ e ‘Situação B’ na campanha, devido a todos os partidos com prefeituráveis em algum momento já terem estado juntos na Prefeitura. Alguns dos prefeituráveis inclusive foram vereadores da base do governo ou ocuparam secretarias.

Como entregas citou a UPA, a Fernando Ferrari e duas escolas infantis, mas, talvez por ter colado nas redes sociais a fake news de irregularidades, pouco abordou uma das melhores iniciativas, que foi o contrato da iluminação pública.

Nos Grandes Lances dos Piores Momentos, rende meme a frase “todos aqui já foram governo e tem suas responsabilidades”, e aí reputo uma parte a ele próprio, pelas dívidas herdadas pelo governo anterior de seu partido, ao qual só fez críticas após eleito. Outro momento ‘perde-perde’ foi o enfrentamento com o delegado João Paulo, que ao falar de apontamento do TCE sobre suposto superfaturamento no hospital de campanha, perguntou se o prefeito tinha dificuldade em escolher assessores, “ou algum outro problema”.

Antes de dizer que tinha levado informações pessoalmente ao tribunal e nenhum dolo ou desvio tinha sido comprovado, instigou o delegado:

– O senhor já foi chefe de Polícia e sabe que em uma gestão há problemas, o senhor enfrentou o sumiço de uma arma, por exemplo. Se há erros, se conserta.

Sobre o vice, considerou Maurício Medeiros “um aliado fiel e com experiência de já ter sido prefeito”.

Como sua ‘frase definitiva’, escolho: “Aqui temos quatro candidatos com poucas propostas apresentadas e querendo falar mal da cidade, enquanto nós arrumamos a casa, fizemos entregas e trabalhamos a Cachoeirinha do futuro”.

 

2.

Antônio Teixeira, que perdeu a eleição de 2016 para Miki, representou o político veterano aplicando um ‘enrolol’. Oscilou o discurso entre críticas a questões que, apesar de simbólicas, não significam nada no orçamento, como “muitos CCs” e “um dos maiores salários de prefeito do país”; e um discurso ‘oba-oba’ de que Cachoeirinha “é rica”, tem um “povo ordeiro” e só falta vontade para crescer.

Não disse de onde tiraria um centavo sequer, para aplicar em planos os quais não detalhou nenhum, e alguns reputo infactíveis, como colocar viaturas da Guarda Municipal em todas as escolas e entradas da cidade.

É pouco que a proposta mais inteligível de Teixeira seja “cortar CCs”, o que não significa mais do que zero vírgula um pouquinho do orçamento.

Nos Grandes Lances dos Piores Momentos, Teixeira provocou Rubinho sobre o fato do candidato ter demorado mais de dois anos para largar cargos no governo, do qual foi secretário e líder na Câmara.

– Demorou, né? Nos primeiros seis meses já alertamos para problemas no governo.

Rubinho, usando metáfora estilo Bolsonaro de que “não se casa para separar”, devolveu:

– Acreditava no governo. Rompi e faço oposição, não apenas falo que faço oposição como alguns.

Sobre a vice, Teixeira disse que Ester Ramos será secretária do Desenvolvimento, onde usará a experiência de primeira mulher a comandar a Associação Comercial. Apresentou-a como empresária, sem em nenhum momento citar o partido dela, o PSOL. Inclusive, usou da cancha de mais de três décadas de política para esquecer de responder pergunta sorteada sobre a criação das bolsonaristas ‘escolas cívico-militares’.

Como sua ‘frase definitiva’, escolho: “Não me identifico com alguém que torça contra Cachoeirinha, como disse o prefeito. Mas não dá para ser favorável a parar no tempo, a faltar Melhoral no posto de saúde e ter uma das passagens de ônibus mais caras do Brasil”.

 

3.

Dr. Rubinho mostrou dominar números de indicadores negativos de Cachoeirinha. Propostas concretas, informando de onde sairá o dinheiro, salvo engano, não assisti uma sequer. Como se estivesse na tribuna da Câmara, o vereador mais votado (e o favorito de milícias digitais que disseminam fake news nas redes sociais) fez acusações sobre superfaturamento no hospital de campanha e sobre “grupos políticos que controlam postos de saúde distribuindo fichas”.

‘Denunciador-geral’, desde que deixou o governo, também criticou a gestão da educação, por nenhuma escola de Cachoeirinha ter atingido a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – oportunamente omitindo que no Brasil poucos municípios atingiram os índices programados.

Seu ponto alto foi ter trazido ao debate a polêmica da dívida com a previdência. Não disse, porém, como resolver a pauta-bomba de 2021. Talvez porque, se o fizesse, antecipando a necessidade de aumentar a contribuição previdenciária do funcionalismo, em uma ‘reforma da previdência municipal’, sua vice, a professora Jack Ritter (Cidadania), renunciaria ‘ao vivo’.

Possivelmente para aproveitar em Cachoeirinha – dos 7 a cada 10 votos dados para o ‘mito’ em 2018 – o ‘pedido’ de Bolsonaro para que os eleitores votem em quem tem “Deus no coração”, Rubinho usou o santo nome em pelo menos oito oportunidades. Talvez devido à chapa ‘MarxDonalds’, ou melhor, ‘DonaldsMarx’, que forma com a ex-socialista Jack, o candidato do PSL, ex-partido do presidente, não explorou diatribes bolsonaristas. Chegou a defender a necessidade de crianças fazendo “teatro e música” no turno inverso. Eleitores que não o conhecem poderiam até achar fosse um candidato do PT, ou do PSOL, atacando o governo.

Dos Grandes Lances dos Piores Momentos foi ter sido sorteado para falar sobre o tráfico de drogas e facções criminosas na cidade, quando uma das críticas de que sofre – muitas de perfis fake, e que já havia aparecido nos comentários da transmissão – é que “defende bandidos”. Uma crítica que lamento, e reputo consequência da despolitização que provoca no país o denuncismo e o (quase sempre falso) moralismo. Muitos não compreendem o papel fundamental do advogado – e Rubinho é um requisitado advogado – para a garantia dos direitos fundamentais das pessoas e para a democracia.

Sobre a vice, Rubinho destacou Jack Ritter como “uma mulher de fibra” e que “vai governar lado a lado comigo”.

Como sua ‘frase definitiva’, escolho: “O prefeito fala de uma cidade maravilhosa que ninguém conhece, e só faz despencar em todos os índices. Estou sempre nas vilas, nos bairros, não olho a cidade de cima, no ar condicionado. Não há como falar em Cachoeirinha do futuro sem fazer nada no presente”.

 

4.

Delegado João Paulo mostrou a serenidade e segurança que recomendam sua formação e currículo. Ia muito bem, sustentando para além de promessas a necessidade de o próximo prefeito liderar a recuperação de Cachoeirinha no pós-pandemia e “buscar recursos fora” como possibilidade de investir, mas escorregou em dois comentários sobre a saúde.

Em um deles, credite-se parte da culpa para ‘o povo’, que às vezes parece pedir para ser iludido, né? A pergunta enviada pelas redes sociais era sobre abrir um outro hospital em Cachoeirinha. Qual candidato dirá que não? João Paulo disse que buscaria fazer. Por óbvio sabe, assim como os adversários, ser impossível financeiramente, não construir, que é o mais barato, mas manter um hospital municipal. Assim como já é difícil manter a UPA, que custa mais de R$ 1 milhão por mês.

Outro erro de João Paulo foi, ao trazer o tema dos apontamentos do TCE sobre o hospital de campanha, ter dito que no Brasil não há pena de morte, mas seria merecido para os que “roubam a saúde”. Ao ser criticado por Jeferson Lazzarotto pelo posicionamento “não-cristão”, disse ter sido mal interpretado, garantiu não defender a pena capital e acusou o petista de “defender a corrupção que é uma pena de morte não legalizada”, que “mata gente na fila do SUS”.

Apesar de abrir o debate dizendo que “um grupo político se apropriou de Cachoeirinha”, não conseguiu firmar a posição de outsider, mesmo que nunca tenha disputado eleições. É que, além de ter em seu partido o vereador Marco Barbosa, cunhado de Miki e que foi presidente da Câmara com votos da base do governo (e inclusive estava à frente do legislativo quando professores levaram cadeiradas de PMs), ao falar de seus feitos o próprio João Paulo citou sua passagem pela Secretaria de Segurança do governo anterior, de Vicente Pires, do PSB de Miki.

Apesar da polêmica da pena de morte, na qual recuou, o candidato que mais busca identificação com Bolsonaro foi moderado. Disse inclusive, com a experiência de quem foi chefe da Polícia Civil gaúcha, que segurança “não se faz só com repressão”.

Dos Grandes Lances dos Piores Momentos foi trazer a baila a política nacional, ao provocar Lazzarotto sobre PT e PCdoB terem votado contra a ampliação de pena para servidor condenado por desvios na saúde. Ao usar o ‘lavajatista’ tema da corrupção para tentar polarizar com o petismo, levou uma invertida do adversário:

– Seu partido, o PP, é o que tem mais réus e condenados na Lava Jato.

Salvo engano, não ouvi falar do vice, Adriano Delazeri (PRTB).

Como sua ‘frase definitiva’, escolho: “A campanha permite a retórica fácil como a que ouvimos agora (de Miki), mas o povo não é mais bobo. Governaremos sem dever favor para ninguém”.  

 

5.

Jeferson Lazzarotto, também um outsider participando da primeira eleição, começou o debate bastante nervoso, mas foi se soltando à medida em que experimentava um discurso que cabe naquele diagrama, que era meme lá no início das redes sociais, em que você tinha diversas frases e, não importa como emendasse uma na outra, saía um discurso de petista. “Participação popular”, “radicalização da democracia”, “combate à fome”, etc.

O ex-presidente da OAB conseguiu entrar no debate justamente ao falar do que lulistas entendem: miséria. Lazzarrotto, que tem no plano de governo a proposta de criar um programa de renda mínima, como um Bolsa Família municipal, apesar não dizer de onde sairá o dinheiro, disse ser prioridade do “jeito petista de governar” não deixar ninguém sem comer, naquilo que prevê será uma “crise humanitária após a crise sanitária”.

Foi mal, como os outros, ao dizer, sem informar a fonte de recursos, que iria “resolver o problema do Iprec”, instituto de previdência com dívida milionária. Foi bem ao não esconder o pai, Saul Lazzarotto, ex-vereador pela direita conservadora.

Dos Grande Lances dos Piores Momentos, reputo, além de, mesmo sem sabermos quase nada sobre uma vacina contra a COVID-19 ter anunciado que vacinaria “toda a população”, a surpreendente declaração (sem ser perguntado) de que faria “parcerias público-privadas” – o que, aposto, provoca arrepios em apoiadores mais radicais, como ‘A Esquerdista de Todos os Tempos de Cachoeirinha’ Ana Fogaça.

Foi o candidato que mais citou a vice, Vera Sarmento (PCdoB), “uma preta de lutas”.

Como sua ‘frase definitiva’, escolho: “Somos a oposição de verdade contra esse continuísmo. Quando o PT foi governo, fez obras que marcaram a cidade, como o 24H e o Parcão”.

 

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Ao fim, lembrou-me uma do Millôr, de 1989: “Tudo somado achei que Collor ganhou o debate com Lula. A Datafolha acha que foi Lula. Mas a dúvida é: quem ganha um debate medíocre é melhor ou pior do que quem perde?”.

 

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