EXCLUSIVO

Miki: não há chance de voltar atrás

Miki Breier assumiu a Prefeitura de Cachoeirinha em janeiro, dando sequência a uma dinastia do PSB que teve José Stédile como prefeito entre 2000 e 2008 e Vicente Pires entre 2009 e 2016

Miki Breier falou há pouco, com exclusividade para o Seguinte: sobre a aprovação do ‘pacotaço’ que corta R$ 10 milhões de uma folha de pagamento que, pelos cálculos do governo, chegou em fevereiro a consumir oito em cada dez reais que entraram nos cofres da Prefeitura.

O prefeito apontou como grande vilã a crise nacional, alertou para correção de vantagens excessivas concedidas aos servidores e socializou a responsabilidade com as gestões anteriores do PSB, que governa Cachoeirinha há 16 anos.

– Precisamos olhar para frente. Não recuaremos das medidas aprovadas. Há vantagens que só existiam aqui e que não cabem mais na folha – resumiu, fazendo um apelo para que o funcionalismo termine a maior greve da história da cidade, que chega hoje ao 26º dia.

Confira trechos.

 

Seguinte: – Mesmo que em clima de guerra, o conjunto de medidas proposto pelo governo foi aprovado. Há possibilidade de recuo em relação a alguma das vantagens cortadas dos servidores?

Miki – Precisamos olhar para frente. O conjunto de medidas aprovadas não tem volta. Esperamos que os trabalhadores voltem às suas atividades normais. O prejuízo quem está pagando é a comunidade. O governo sempre esteve aberto ao diálogo, por meio dos secretários, eu mesmo, mas o diálogo para alguns é sinônimo de não perder nenhuma vantagem. Há infiltrados que querem ver o circo pegar fogo, desgastar o governo. Isso não levará a lugar algum. Os cortes que estamos fazendo não são por gosto, mas por necessidade. Para que possamos continuar pagando os salários em dia, como faremos dia 4.

 

Seguinte: O que levou a essa situação, que não apareceu na campanha eleitoral e pegou o funcionalismo de surpresa?

Miki – Nunca escondemos as dificuldades. Tivemos problemas para pagar os salários em dia de agosto até dezembro do ano passado. Até a crise da Souza Cruz éramos o oitavo município em retorno de ICMS, hoje somos o 13º. Vivemos uma recessão que pode ser vista no número de placas de aluga-se e comércios fechados pela av. Flores da Cunha. Com a crise, precisamos agir. Cachoeirinha tinha vantagens na folha que outros municípios não têm mais. Tanto que muitos servidores concursados em outras prefeituras optavam por Cachoeirinha. Os próprios funcionários sabiam que o plano de carreira, sem uma recuperação da economia, se tornaria impagável. Fizemos o que era preciso, sempre negociando com o sindicato. Antes de enviar os projetos à Câmara, reduzimos secretarias, CCs, contratos, aluguéis e locações. Vamos devolver parte dos salários do prefeito e do vice. O Brasil vive uma grande crise, o governo federal também está adotando medidas amargas para contenção da dívida pública, o governo do Estado não consegue pagar os salários, o prefeito de Porto Alegre já está avisando que no mês que vem não deve ter recursos para pagar a folha… Não é uma questão apenas de Cachoeirinha.

 

Seguinte: Quais eram na sua avaliação as principais distorções na folha de pagamento?

Miki – O principal ponto talvez seja o gatilho de reajuste de 15% acima da inflação a cada três anos. E não zeramos, reduzimos para 6%. Após encaminharmos as medidas à Câmara falava com o Feltes (Giovani, secretário da Fazenda do Estado) e ele alertava que ainda era muito frente ao cenário que nos encontramos. Empreendedores dizem que não teriam como pagar se houvesse um mecanismo de reposição assim nas empresas. Tínhamos risco de vida para motorista, coisa que não existe em nenhum lugar do mundo. Também não zeramos, reduzimos de 80% para 30%. Tínhamos ganhos de 50% por responsabilidade técnica, para engenheiros e arquitetos assinarem projetos. Mas não era o que deveriam fazer por concurso? Escalonamos o vale-alimentação conforme os salários. Simplesmente as vantagens havidas não cabem mais na folha.

 

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Seguinte: Uma das principais críticas às medidas é que seu grupo político, antes no PT e agora no PSB, governa Cachoeirinha há 16 anos. É, portanto, responsável pelas finanças da Prefeitura. Sabias desse cenário na campanha, ou tiveste dificuldade de ter acesso aos números do governo Vicente Pires?

Miki – Nunca tive nenhuma dificuldade com o prefeito Vicente. E não fugimos da responsabilidade de termos governado por estes 16 anos e reeleito nosso projeto. Mas o cenário hoje é diferente. Em outros momentos foi possível manter e até avançar em vantagens para os servidores. Talvez devêssemos ter feito melhores projeções, mas a crise nacional chegou a proporções inimagináveis. Sabíamos que teríamos dificuldades, mas não desse tamanho. Para dar um exemplo grave, só com o instituto de previdência temos uma dívida de R$ 90 milhões que precisamos pagar.

 

Seguinte: – Falaste há pouco na Band que quando foste secretário da Educação avisaste ao prefeito José Stédile que as vantagens na folha do funcionalismo eram uma bomba relógio.

Miki – À época o sindicato pressionava por mais vantagens e conversávamos, eu e Stédile, sobre os impactos disso. Mas a crise nacional potencializou tudo.

 

Seguinte: – Os projetos provocaram dissidências na base.

Miki – De 17 vereadores, apenas dois votaram contra. Entendemos, mas lamentamos.

 

Seguinte: – O que o senhor tem a dizer sobre as cenas lamentáveis do confronto entre a Brigada Militar e grevistas, em frente à Câmara.

Miki – Não gostaria de falar sobre isso.

 

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