Uma história pode resumir a noite da esquerda, nesta quarta-feira, em Gravataí, no Ato em Defesa da Soberania.
– Fui quatro vezes a Curitiba e, em todas, chorei – contou o candidato a governador pelo PT, Edegar Pretto, no CTG Aldeia dos Anjos, sobre suas idas ao acampamento Lula Livre.
– Perguntei: “presidente, o senhor escutava quando gritavam?”. Ele disse: “ouvia de manhã, de tarde e de noite e era o que me mantinha firme”.
Fez Pretto a transcrição do depoimento daquele que era o favorito para ser novamente presidente do Brasil em 2018 e tornaram um ‘ex-presidiário’, que ficou 580 dias em uma cela sem ter sido condenado em nenhum dos 25 processos que respondeu.
Em nome desse homem, mas não só por ele, aconteceu o ‘milagre do Lula’ na política de Gravataí: um encontro, até pouco tempo, inimaginável de PT, PCdoB, PSOL e PV.
Explico.
O 29/06/2022 na história: Rita Sanco, Daniel Bordignon – reestreando em ato com petista da aldeia – e Márcio Souza compartilharam os mesmos metros quadrados no palanque para Lula!
Resumindo para quem não acompanha a política da aldeia, Márcio é hoje presidente do PV gaúcho, mas, quando vereador petista, foi o artífice do golpeachment de 2011 que cassou Rita e precedeu o calvário de Bordignon, o ‘fim’ do PT de Gravataí e a ascensão do MDB de Marco Alba à Prefeitura.
Juntos, representam uma tríade de ‘mundo invertido’, que faz parecer pouco o PCdoB já ter participado do governo do MDB, ou o PSOL fazer críticas ao lulismo que multiplicam os 10 centavos.
Testemunhei as falas da noite, observando as expressões, mesmo que algumas por trás das máscaras, e os aplausos, ou a falta de, e, duvido, os 13, 43 ou 50 tons de constrangimento sejam diferentes em encontros semelhantes no resto do Brasil.
– A tarefa zero é derrotar Bolsonaro – resumiu Tamires Paveglio, que concorreu a prefeita pelo PSOL e ali estava no palanque de um presidenciável cujo partido do vice, Geraldo Alckmin (PSB), e também dos vereadores de Gravataí Paulo Silveira e Carlos Fonseca, e do ex-vice-prefeito petista Cristiano Kingeski, cassado com Rita, não compareceu; e ela trata como “burguesia”.
Fato é que, na tarefa da Tamires, os canhotos de Gravataí, tendo na platéia alguns assessores do vereador do PSD, partido de Cláudio Ávila, advogado que apresentou a denúncia do golpeachment, conseguiram não se enquadrar naquela provocação do Frei Betto, de que “a esquerda só se une na cadeia”, abaixo de pau, na ditadura.
A unidade, conforme os discursos, era pela “comida no prato”, os desempregados, os trabalhadores, os pobres, as mulheres, os negros, lgbts e, como disse o filho do Adão, fundador do MST, “pela democracia” que “deixa pequenas as nossas diferenças”.
Ao fim, reputo instigante, para análises futuras sobre a ‘unidade’ durante a campanha de Lula e do candidato ou candidata das esquerdas ao Palácio Piratini, trecho do discurso de Márcio Souza:
– Independente do ocorrido nesta cidade, no que todos tem culpa, inclusive eu, não é momento de lembrarmos do que de ruim aconteceu, ou acontece, mas sim pensar no que de bom está por vir.
Por óbvio, o não citado nominalmente no ato pelos petistas de Gravataí, referiu-se ao golpeachment de 2011.
Se os esquerdistas da aldeia conseguirem superar desavenças, trupicar para a frente ou cair para trás e parar no centro, ser Lulas, ou se a unidade foi fake, inegável é que um ‘milagre’ aconteceu na política da aldeia nesta noite.
É bom na política esse Lula. Ou é um monstro esse Bolsonaro.
Assista ao vídeo produzido pela Seguinte: TV no ato