Única vereadora eleita para legislatura que começa em janeiro do ano que vem, Rosane Massulo Bordignon (PDT) conta das lutas no CPERS, das duas filhas, da infância e dos pais que, como ela, também eram professores
No dia em que conheceu Daniel Bordignon – em uma conversa sobre política, claro! -, Rosane Massulo mudaria sua vida para sempre. Apaixonou-se por aquele idealista de barba, professor e sindicalista que, nos anos seguintes, seria vereador e, depois, prefeito e deputado estadual por duas vezes.
E Rosane passou a ser Rosane Massulo Bordignon.
– Quando conheci o Daniel, eu já era militante do CPERS. Ele uma liderança. Ele me perguntou se eu já tinha pensado em fazer política partidária.
Rosane, nessa época, se classificaria como uma mulher socialista e humanista.
– E aí o Daniel me apresentou ao PT.
Casou-se com os dois.
Professora filha de professores
Rosane é filha dos professores Ivan Pedro e Mathilde, a caçula de quatro filhos: antes dela, nasceram Sônia, Elizabeth e Itiberê Massulo. Os pais era professores rurais no distrito de Santa Tecla. Davam aulas em pequenos grupos escolares e moravam em casas do Estado construídas nos arredores.
– Tinha escolas que eram só uma sala de aula para alunos de diversos níveis – conta.
E tinha que morar perto porque, naquela época, início dos anos 60, não tinha ônibus para lá e as estradas eram precários trajetos usados por tropeiros desde a primeira metade do século.
Longe do centro, Mathilde e Ivan Pedro ensinaram muita gente de fora da cidade a ler e escrever.
Eles também eram do interior. Ivan nasceu em Sapiranga. Mathilde em Santo Antônio. O avô de Rosane, Beto Massulo, tinha uma fazenda em Santo Antônio a cerca de um quilômetro de onde, hoje, passa a Freeway. Na infância, ia para lá com os irmãos.
Quase nasceu na praia
Com a poupancinha que puderam juntar, Ivan e Mathilde compraram uma casa de veraneio em Tramandaí. Em fevereiro de 1963, passavam as férias por lá quando Rosane deu sinais de que viria ao mundo.
– Minha mãe me esperava para março. Então, eles foram para praia. Quando ela percebeu que eu iria nascer, colocaram tudo no carro e voltaram para Gravataí – conta.
E no dia 13 de fevereiro, Rosane Massulo nasceu em Gravataí.
– Minhas irmãs não me perdoam até hoje porque estraguei o verão delas! – brinca.
Nessa época, o pai de Rosane já tinha comprado uma casa na Várzea. O centro de Gravataí acabou sendo a opção da família para que os filhos pudessem estudar.
– A Sônia fazia faculdade, a Bete estava no Dom Feliciano e queria estudar também. Lá de Santa Tecla era muito longe para ir e voltar todos os dias naquele tempo.
A casa de seus pais na Várzea também foi a primeira em que Rosane morou quando se casou pela primeira vez e, depois, com Daniel Bordignon.
– Minhas duas filhas, a Nyaya e a Danielle, nasceram quando a gente morava lá.
A Rosane do CPERS
: Rosane participava intensamente das mobilizações da categoria – na foto, em Brasília, num congresso de professores
Estudante do Dom Feliciano, se envolveu quase que automaticamente no Grupo de Jovens da Igreja Matriz, onde tocava violão – por sete anos, Rosane também estudou piano.
Em 1987, se formou em Letras – Português e Literatura pela PUC. Já dava aulas desde 1985.
– Aí intensificou meu envolvimento com o CPERS.
Dessa época, Rosane tem grandes e importantes lembranças. Ela sucedeu Rita Sanco no comando do 22º Núcleo do CPERS, com sede em Gravataí, fazendo 76% dos votos em toda a região, que inclui ainda as cidades de Alvorada, Cachoeirinha, Viamão e Glorinha.
– Fui indicada para o Conselho Geral e foi tudo muito intenso lá.
Rosane também participou do Conselho do IPE, o Instituto de Previdência do Estado, indicada por sua categoria.
Ela dava aulas na escola Ponche Verde, na Cohab. Formava com Rita Sanco, também do Ponche, e Márcia Dornelles, do Barbosa Rodrigues, o trio em ascensão do professorado de Gravataí no CPERS. Márcia, inclusive, chegou a presidir a entidade no Estado.
No final dos anos 90, Rosane passou num concurso para ser professora do município de Porto Alegre. Foi lotada na escola Décio Martins Costa, no bairro Santo Agostinho, Zona Norte da Capital. Trabalha lá até hoje, agora como coordenadora de turno.
– Estou quase me aposentando – adianta.
Quando assumiu a sala de aula em Porto Alegre, Rosane teve que deixar o CPERS, atividade de que gostava muito. Por outro lado, seu marido era o prefeito de Gravataí – e o PT passou a exigir dela cada vez mais compromissos partidários.
O governo Bordignon
Rosane nunca participou diretamente dos governos do marido, embora houvesse condições jurídicas para tanto. Naquela época, as leis anti-nepotismo não era rígidas – e, hoje em dia, ainda há margem para marido e mulher ocuparem ao mesmo tempo postos de comando em administrações municipais.
– Nunca participei, mas era sempre muito ouvida.
Dirigente do PT desde o final dos anos 80, tinha a entrada franqueada no gabinete do prefeito – e não só como primeira-dama.
Do PT ao PDT sem traumas
A mudança de partido, segundo Rosane, não foi traumática.
– Já tínhamos afinidade.
E conta a sempre lembrada campanha de 1990, quando Alceu Collares, do PDT, enfrentou Nelson Marchezan, o pai, no segundo turno das eleições para o Governo Gaúcho.
– A gente colocou até adesivo no carro.
– O melhor amigo do meu pai foi um grande brizolista, o seu Antônio Lemos Pinto. Acho que meu pai era um brizolista também.
Para ela, a mudança se deveu a uma grande traição das causas do partido pela direção que tomou conta do comando nacional do PT.
– Essa direção paulista nos traiu. Fiz uma conversa coletiva, com gente que está ao nosso lado e não houve constrangimento com a mudança para o PDT. O PT mudou, não fomos nós. Continuo uma mulher socialista e humanista.
Mandato pela lealdade
: Daniel Bordignon e Rosane são casados desde o final dos anos 80
A eleição de Rosane teve um componente fundamental: o apoio do marido.
– Ele esteve com todos os candidatos, mas o apoio dele é claro foi muito importante para mim.
Ela conta que, durante a campanha, muita gente veio conhecê-la exatamente por ser esposa do candidato a prefeito.
– O nome Bordignon ajudou, mas o fundamental foi o apoio, a nossa história.
Rosane lembra de lealdade.
– Resolvi ser candidata porque em outros momentos, emprestamos esse apoio a muita gente que não foi leal conosco depois.
Não citou nomes – mas a história recente mostra que Bordignon esteve com muita gente nas últimas eleições que, hoje, sequer se falam.
Pelo governo Bordignon
– Não seria secretária do governo Bordignon. Temos isso bem resolvido em casa, como casal – antecipa Rosane.
E se houvesse uma nova eleição, serias a candidata a prefeita?
– Só trabalho com a possibilidade de o Bordignon ser o prefeito a partir de janeiro.
Frutos da própria história
No mandato, Rosane Bordignon quer lutar por mais escolas de educação infantil.
– Pelo entendimento que a criança aprende desde cedo e pela retomada do espaço da mulher no mercado de trabalho, na vida.
Ela quer dialogar com todas os demais vereadores e, por outros meios, com toda a cidade.
– Quero fazer política pelo melhor interesse público.
– Meu mandato será universal porque foi essa a formação política que eu tive no CPERS, na CUT. Faremos alianças para governar essa cidade, mas não fugiremos do que somos. Somos frutos da nossa própria história.