Sérgio Meneguelli, o famoso prefeito de Colatina, palestra nesta sexta no Clube Sete de Setembro, em Sapucaia do Sul.
É talvez a personagem que melhor representa o zeitgeist, o espírito de época, no caso, o estado das coisas nas instituições brasileiras, onde políticos precisam ser digital influencer e jogar para a torcida, procuradores e juízes tuitam à moda ‘blogueirinhas’ e até ministro do STF cultiva diário na internet.
O ex-vereador por quatro mandatos, que com aos 60 anos venceu, com três em cada 10 votos, a eleição para a cidade metropolitana de 130 mil habitantes, uma Cachoeirinha do Espírito Santo, é conhecido por participar de atividades como varrer ruas, pintar logradouros públicos e cuidar de jardins da cidade.
Em suas ações carregadas de simbologia não gasta diárias e nem usa carro da Prefeitura, pedalando desde casa de bicicleta e, invariavelmente, travestido em jeans e camiseta, mesmo quando palestrou na universidade de Harvard, Estados Unidos.
Legal, mas isso, somado a ser agradável e divertido, basta para endeusar políticos?
Entendo que não. Até porque, velha novidade na política, há denúncias e críticas contra o prefeito, que ainda não ganharam a Globo, mas apontam que, após a festejada demissão de 240 funcionários, outros 700 foram contratados sem concurso, foi aprovado reajuste de 400% em alguns dos mais altos salários, compras foram feitas sem licitação e combustível foi comprado em posto de sogro de secretário.
Não sou dos que permitem aos políticos apenas a presunção de culpa, como é regra das metralhas digitais disparadas de teclados. Vai é tudo tudo ‘intrigra da oposição’, apesar de denúncias terem sido feitas pelo próprio vice-prefeito, Guilherme Ribeiro?
Trato disso porque já vivemos as eleições municipais do ano que vem e, a percepção que tenho ao acompanhar postagens em grupos de Facebook, é que muitos dos que se permitem à exposição e ao stalkeamento das redes sociais, buscam desesperadamente um demagogo de plantão!
Considero um risco basear julgamentos, e o sagrado voto, em ações midiáticas, na maioria das vezes simplórias e sem efeito coletivo ou econômico nenhum, ou então em discursos que fazem gozar pelo canal auditivo, mesmo que infactíveis ou cuja prática pouco representa para o presente ou futuro de uma cidade, estado ou país.
Ou não temos um presidente eleito com base em ‘mitadas’, que fugiu dos debates e não apresentou plano de governo algum?
Pode haver concordância com diatribes regurgitadas em lives ou rede nacional, mas aí é uma associação moral, dificilmente uma defesa de projetos para a nação – o principal em curso, a Reforma da Previdência, nunca foi defendido enfaticamente por Jair Bolsonaro, um notório crítico às iniciativas de alterações nas regras previdenciárias feitas ou propostas pelos governos FHC, Lula, Dilma e Temer.
(Parêntesis: no caso, não o condeno, já que a ‘ideologia dos números’ mostra ser uma falácia a propaganda de seu próprio governo que apresenta a reforma como aquela que ‘tira dos privilegiados’ – quem quiser ler mais, e isso deveria importar mais do que bons selfies, críticas 'contra tudo que está aí' e demagogias, trouxe fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, no artigo Reforma da Previdência é conta para próximo prefeito; o ’rico’ é você!, publicado dia 9 no Seguinte:)
Recuemos para a aldeia.
A Câmara de Gravataí deu na sessão desta quinta um exemplo do quão refém os políticos estão do Grande Tribunal das Redes Sociais ao aprovar por unanimidade projeto de criação de uma Unidade de Pronto Atendimento Pediátrica.
Como vereadores não podem legislar criando gastos para a Prefeitura, o projeto é apenas uma indicação ao prefeito. Pergunto: é preciso fazer uma sugestão dessas? Não gostaria Marco Alba, eu ou você de criar uma UPA para as crianças e outra para os idosos? Era necessário ao autor, Wagner Padilha, jactar-se com a idéia, como se uma nova roda descoberta fosse?
Anda sobrando oportunismo e faltando coragem aos políticos. Ao alimentar a falta de educação política, depois não adianta aos vereadores reclamar que o povo os cobra porque não asfaltam ruas, porque não contratam médicos e outros eteceteras tão alheios à atividade parlamentar quando comprar fardamento para time de futebol fazer uma boa resenha no bairro.
Ao fim, o ‘modo Colatina’ de campanha está aí e desenha-se em 2020 uma grande gincana de boas intenções. Não esqueçamos, porém, que está no DNA da política a diminuição das bondades em progressão inversa à chegada do dia da posse. E a admirável falta de memória do povo não é uma aposta dos eleitos, mas realidade nacional.
Infeliz a nação que precisa de heróis (Bertolt Brecht).