— Querem acabar com a escola Etelvina! E a forma que acharam para fechar a nossa escola foi acabar com o primeiro ano.
A acusação, com tom de exaltação e bem ao estilo da música que diz "não deixe morrer meu rio" (Súplica ao Rio, de Paulinho Pires), foi o que mais o Seguinte: ouviu no final de tarde de ontem na sede do Palmeirinha, na vila Marrocos.
Mais de 60 pais e mães de alunos se reuniram pela preservação da Escola Estadual de Ensino Fundamental Etelvina Silveira Vieira.
Como assim fechar a escola?
De acordo com Maria Elisângela Justin, professora há 13 anos, há oito lecionando na escola e há sete como diretora, a decisão de acabar com o 1º ano é da Secretaria Estadual de Educação.
Medindo e pesando as palavras para evitar eventuais desconfortos profissionais futuros, Elisângela não diz mas, pelo que o Seguinte: apurou, é como retirar os medicamentos de um paciente terminal, gradativamente.
Ou seja, se não tem primeiro ano em 2017, em 2018 não haverá segundo ano e, assim por diante, abrindo brecha para que a secretaria de Educação, logo ali adiante, redistribua os poucos alunos que restarão, nas escolas próximas, fechando de vez a Etelvina.
Todos contra
A contrariedade para com a notícia é evidente entre os que estiveram na reunião de ontem, que contou com a presença do presidente da Comissão de Educação na Câmara Municipal de Gravataí, vereador Carlos Fonseca (PSB).
Foi dele a conclamação para que, quem esteve na reunião, leve à escola o nome de pai ou mãe que tenha filho ingressando na escola e que não conseguiu vaga na Etelvina. A ideia é aumentar o número de 17 inscritos para o 1º ano em 2017, para além dos 20, mínimo que estaria sendo exigido para viabilizar o funcionamento no ano que vem.
— Mas tem que ser o mais rápido possível. Tem que ser logo que é para a direção levar na Coordenadoria (28ª Coordenadoria Regional de Educação – CRE) e provar que tem número de alunos suficiente para manter o 1º ano.
Fonseca, morador da vila Marrocos, disse que começou a estudar na Etelvina quando a ainda era Escola Rural Contendas, e afirma que o argumento da Secretaria de Educação – baixo número de inscrições – não se sustenta.
— Eles tiraram a Escola Etelvina como opção, na internet, antes de terminar o prazo para inscrição dos novos alunos — acusa o vereador.
: Carlos Fonseca, vereador preside a Comissão de Educação na Câmara
Perto de casa
A vendedora autônoma Lucimara Raupp da Silveira tem a filha Iasmim Silveira Generoso, de seis anos, no 1º ano da Etelvina. Outra filha de Lucimara, hoje com 16 anos, também estudou na mesma escola.
— Se fechar é um prejuízo para a gente. É uma escola que fica perto de casa e tem um ótimo ensino. Não concordo e a todo mundo que está aqui (na reunião) também não acha certo fechar a nossa escola.
Iasmim faz coro às palavras da mãe:
— Eu não quero quem fechem a minha escola! Aqui é muito legal e a gente aprende muita coisa boa — diz, com a ajuda de Lucimara.
: Mãe da Iasmim, Lucimara diz que fechar a escola é prejuízo grande
Muito chateada
Outra autônoma, Edenise Rosa, tem o filho Murilo Rosa Vargas também no 1º ano. Edenise representou os pais em uma reunião realizada dia 2 passado na 28ª CRE, quando foi comunicada a desativação do 1º ano.
— Eles (na 28ª) não falam que é fechar. Mas se vão eliminar o ingresso no 1º ano é o que então? Eu fiquei bastante chateada porque é clara a intenção deles de fechar a escola — acusa Edenise.
Foi ela quem explicou a exigência de ter no mínimo 20 novos alunos para funcionamento da turma, e que até o encerramento das inscrições, no dia 30 de novembro, eram apenas 17 estudantes querendo frequentar o 1º ano na Etelvina.
: Edenise, mãe de Murilo, representou pais em reunião na 28ª CRE
Boicote
Tanto Edenise quanto outros pais acusam a Secretaria Estadual de Educação e a própria 28ª Coordenadoria de estarem “boicotando” a Escola Etelvina para justificar a intenção de fechar o educandário.
— O prazo das inscrições terminava dia 30 mas desde o dia 24 de novembro a nossa escola já não estava mais na lista da secretaria, na internet, como opção de escolha dos pais. E na Central de Vagas eles nem falam no nome da Etelvina como opção. Isso é o que, se não é um boicote? — questiona, em tom claro de indignação.
A aposentada Maria Tereza Ferreira mora na vila Marrocos – perto da escola – há 42 anos e conta que seus dois filhos frequentaram os bancos do educandário. Ela própria foi funcionária do estabelecimento por 11 anos.
— Não acho justo fechar uma escola tão boa. Estou decepcionada e muito triste com o que está acontecendo — afirma.
: A aposentada Maria Tereza trabalhou 11 anos na escola Etelvina
Os números
De acordo com a diretora Maria Elisângela, a Escola Etelvina tem seis turmas do 1º ao 5º ano, distribuídas nos dois turnos. Três pela manhã e três à tarde, num total de 130 alunos.
Elisângela acha que se acontecer a desativação do 1º ano no ano letivo de 2017 e a escola fechar, a comunidade vai ficar prejudicada. Os pais de alunos aqui da volta vão ficar desassistidos, na opinião dela.
: Diretora, Maria Elisângela, acha que comunidade pode ficar desassistida
Histórico
A Escola Estadual Etelvina Silveira Vieira começou em uma pequena sala onde Marta Brambila dividia as funções de diretora e professora. Eram 14 alunos nas quatro primeiras séries do ensino fundamental.
Na época, 1952, ficava localizada no município de Glorinha. Com a diminuição da procura por vagas na zona rural e o aumento da demanda na zona urbana, o Estado e o Município assinaram acordo transferindo a sede da escola para vila Marrocos.
Foi através de decreto de 30 de setembro de 1952 que passou a ser denominada Escola Rural de Contendas. E em 13 de agosto de 1969 passou a ser Escola Estadual Etelvina Silveira Vieira – 1ª a 5ª série, jurisdicionada à 28ª Delegacia de Educação.
O nome é homenagem à primeira professora a trabalhar em uma escola estadual, ainda em Morungava, cedendo a própria casa para abrigar os alunos já que não havia nenhum prédio público disponível que pudesse ser transformado em escola.
Estrutura
A escola atende as comunidades das vilas Marrocos, Boa Vista, Cohab B e Cohab C, que ficam no entorno.
São quatro salas de aula em dois prédios, sendo um de alvenaria e outro de madeira, com um banheiro masculino e um feminino, biblioteca, quadra de esporte, play ground, sala digital com 16 computadores e acesso à internet, secretaria, refeitório e sala da direção informatizadas.
O horário de atendimento é diurno, com entrada pela manhã às 8h e saída às 12h; no turno tarde, das 13h às 17h.
A escola conta, além da diretora Maria Elisângela, com a vice-diretora Rosângela Van Leeuven dos Santos e mais sete professoras, duas bibliotecárias, uma secretária, uma merendeira e uma servente.
Versão oficial
A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação não deu informações sobre a acusação de desmonte na Etelvina, e orientou o Seguinte: a buscar informações com a titular da 28ª , Neusa Abruzzi, ou com o coordenador-adjunto Guilherme Oliveira.
O próprio adjunto, Guilherme, agendou para tarde de segunda-feira uma entrevista ao Seguinte: quando, prometeu, será divulgada a versão oficial.
— Muito bom que vocês tenham nos procurado. Vai ser a oportunidade da gente esclarecer o que está acontecendo — disse o professor Guilherme.