Millôr brincava que “sem futricas, sem lutas pelo poder, sem desastres, sem ambições desvairadas, sem crimes passionais, isto é, sem enredo, o mundo seria absolutamente insuportável”.
Certamente é por isso que recebi tantos whatsapps pedindo um artigo sobre a reportagem publicada pela Zero Hora, no site e no jornal, e repercutida no Jornal do Almoço, que revela que Jones Martins pagou com recursos da Câmara Federal aluguel, água, luz, IPTU e internet de escritório político em Santa Rosa para o hoje ministro da Cidadania, Osmar Terra, no período de 23 meses em que assumiu como deputado federal.
– Quando tem denúncia envolvendo político de Gravataí, o povo aguarda o Perseguinte – dizia uma das mensagens, usando um apelido do Seguinte: que é corrente no meio político.
Conforme ZH, na reportagem que você lê clicando aqui, o atual suplente de Terra, Darcísio Perondi, desde que assumiu em março, segue a prática do advogado gravataiense entre junho de 2016 a abril de 2018. As 249 notas fiscais apresentadas à Câmara dos Deputados para justificar as despesas mostram um gasto de R$ 140.994,63 em recursos públicos no funcionamento dos escritórios nos períodos em que Terra se licenciou do mandato para ser ministro do governo Michel Temer e agora, no de Jair Bolsonaro.
Terra alega não ter cometido nenhuma irregularidade, Perondi disse que é “praxe” e Jones explicou ter celebrado um “acordo político” para manter relações do mandato com as bases eleitorais do ministro.
Não avalio o caso como um escândalo. Isso é mais velho que Brasília. O suplente assume e, pelo caráter temporário, mantém os escritórios políticos do titular do mandato. Invariavelmente, herda os assessores também.
O indecente são as verbas exorbitantes a disposição de cada gabinete, enquanto a poucos quilômetros dos tapetes verdes e azuis ainda tem gente comendo candango.
Inegável que pega mal, principalmente no Grande Tribunal das Redes Sociais, onde a dosimetria da pena é regrada pelo ‘político bom é político morto’ e resta aos eleitos a presunção de culpa.
Mas, escândalo, não é.