A promotora da Infância e Juventude Juliana Venturella Nahas Gavião e a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente Patricia Gauterio Dias precisam assistir o vídeo postado no Instagram pelo candidato ao Conselho Tutelar de Gravataí, Samuel Serra.
Salvo engano, há evidências para se investigar suposta homofobia quando faz uma analogia do arco-íris em laço na cabeça de criança, desenhada na arte da Feira do Livro, e o slogan Todas as Cores das Palavras, com o que napoleões de hospício chamam ‘ideologia de gênero’.
Deixo na manchete uma interrogação porque foi a mesma forma como o candidato postou seu vídeo, perguntando: “coincidência?”.
Assista na SEGUINTE TV e, abaixo, sigo.
Reparem que, em um delírio conspiracionista, esse senhor diz que “isso na verdade é uma agenda que vem sendo cumprida, que quer incutir na cabeça das nossas crianças, dos nossos filhos, as ideologias que deixam eles livres para fazer o que quiserem”.
Como assim “livres para fazer o que quiserem”? O senhor quer dizer que a orientação sexual pode ser algo marginal, errado, intolerável, que merece vigiar e punir?
Caso eleito em 1º de outubro, como o senhor vai atender uma criança ou um adolescente que se corta porque a família não aceita sua orientação sexual?
O senhor vai dizer que a automutilação é culpa de terem deixado essa criança ou adolescente “livres para fazer o que quiserem”?
Não esqueçamos que o Supremo Tribunal Federal (STF) estendeu para discriminação de gênero a punição para racismo.
“Condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas” são tipo penal definido na Lei do Racismo (Lei 7.716/1989), que se enquadra nos crimes previstos na Lei 7.716/2018, com pena de reclusão de um a três anos e multa.
A tese estabelece que “o conceito de racismo ultrapassa aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos e alcança a negação da dignidade e da humanidade de grupos vulneráveis”.
Ah, mas e a liberdade religiosa, já que, ao menos nas redes sociais o senhor se apresenta como “cristão”? Conforme o STF, “a repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe o exercício da liberdade religiosa, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio”.
Fato é que, talvez por já ter sido CC da Prefeitura e, até se desincompatibilizar para concorrer, da bancada do PL na Assembleia Legislativa, em suas redes sociais, entre uma propaganda eleitoral e outra, o senhor parece confundir questões políticas, ideológicas e religiosas com uma disputa de Conselho Tutelar, quando a prioridade deveria ser a proteção às crianças e adolescentes.
Essa molecagem mereceria um pedido de desculpas público – mesmo fosse daquele jeito “se ofendi alguém, não era minha intenção” ou “eu também tenho amigos gays” –, mas, Dos Grandes Lances dos Piores Momentos, a realidade é que este artigo provavelmente ajude a aumentar a votação do senhor Samuel, na Gravataí que já deu 7 a cada 10 votos para Jair Bolsonaro, seu mito com o qual aparece em foto no Insta.
Ao fim, infelizmente, reputo a politização e ideologização da eleição para o Conselho Tutelar inscreve um futuro cinza, sem arco-íris para nossas crianças e adolescentes.