entrevista

Não sirvo para poste ou laranja, diz Paulo Silveira; o presidente do PSB e a saída de Anabel

Paulo Silveira é vereador em segundo mandato e presidente do PSB de Gravataí

A resposta à primeira pergunta já serviria de tuitada para sintetizar a opinião de Paulo Silveira, presidente do PSB de Gravataí, sobre a saída de Anabel Lorenzi, ex-vereadora e candidata a prefeita pelo partido em 2012, 2016 e 2017.

– E o tsunami?

– Que tsunami?

– A desfiliação de Anabel…

– Está mais para marolinha.

Siga trechos da entrevista desta tarde ao Seguinte:, conforme a conversa fluiu com o vereador de segundo mandato e um dos nomes do partido para concorrer à Prefeitura em 2020, onde responde se foi vítima de uma ‘traição’ de Daniel Bordignon.

 

Seguinte: – Como avalias a saída de Anabel?

Paulo Silveira – O que ela disse ao Seguinte: é verdade, que não estava mais participando da vida do partido e tinha uma insatisfação que não era apenas local. Desde que concorreu a deputada federal em 2014 e não teve o apoio que esperava de seu próprio grupo, já tinha perdido o brilho nos olhos.

 

Seguinte: – Então a culpa não foi de Paulo Silveira, uma das versões que circula no meio político?

Paulo – Não tenho esse tamanho. Até estranhei ela avaliar como ilegítima a eleição interna, já que foi a responsável pela organização e depois até levou os documentos para casa. Eu fui candidato, venci no voto e mesmo com nossas diferenças políticas, convidei o grupo dela para participar da gestão. Até porque fazia parte o Luisão (Luis Stumpf), a quem Anabel precisa agradecer por, à época, ter aceitado substituí-la como candidata à presidência, o que ajudou a garantir 20% dos votos.

  

Seguinte: – Mas é inegável que, desde o pós-eleição, Paulo diz A, Anabel diz B. Por exemplo: chamaste Anabel de ‘golpista’, por ter votado pelo impeachment de Rita Sanco, em Gravataí, em 2011. Ela disse na entrevista ao Seguinte: que no diretório votaste a favor da cassação e ela respeito a unanimidade do partido.

Anabel – Achei a entrevista um tanto contraditória. Anabel fala de insatisfação com o PSB ter coligação com Sartori, mas em Gravataí ela inaugurou a política de alianças com o MDB, apoiando Jones Martins à Prefeitura em 2008. Em 2016, escolheu Beto Pereira, do PSDB, como vice. É uma pessoa boa, mas com pensamento muito contraditório ao nosso. Beto, por exemplo, é contra a estabilidade do funcionário público. Eu fui voz divergente, não queria a aliança. É constrangedor ler ela lembrar que fui secretário municipal (no governo Acimar da Silva), como se fosse eu golpista, quando sabe que minha indicação pelo partido aconteceu porque eu era um filiado que sairia do governo assim que o PSB decidisse lançar candidatura própria. Eu estava lá porque era de confiança, dela inclusive. Mas, conhecendo Anabel, a gente vai entendendo…

 

Seguinte: – Explique melhor.

Paulo – Ela diz lutar pela democracia, mas internamente não aceitou a eleição no partido, onde venci no voto. Da mesma forma cassou Rita, prefeita eleita pelo voto. Eu poderia contar o que aconteceu no dia, mas é melhor guardar boas lembranças, já que desde sempre fui apoiador da Anabel. Na primeira eleição, ninguém a conhecia e pedíamos votos para ‘a mulher do Miki’.

 

Seguinte: – Anabel vai para o PDT ser a candidata a prefeita apoiada por Daniel Bordignon?

Paulo – Conhecendo os agentes desse processo, é impossível prever o que vai acontecer. Sei que ela conversa com outros partidos, além do PDT.

 

Seguinte: – Foste ‘traído’ por Daniel Bordignon, já que, como presidente do PSB, articulavam uma aliança e ele chegou a participar de uma reunião em teu gabinete na Câmara junto a vereadores de oposição? Achavas que seria o candidato apoiado por ele a prefeito?

Paulo – Se um dia for candidato é do meu partido, não dos outros. Até peço desculpas pela minha reação quando publicaste um artigo me apontando como ‘poste’ de Bordignon. Incomoda-me essa adjetivação, não me serve. Minha história fala por si. Há um ano e dois meses o PSB tirou como estratégia dialogar com partidos que estão fora do governo Marco Alba e tem uma visão mais progressista, que valorizam a participação popular. Não é só de cimento e aço que se faz uma cidade, mas de pessoas. Enfim, não tinha isso de ser candidato, é muito cedo.

 

Seguinte: – A saída de Anabel, uma ida para o PDT e a articulação para ser candidata a prefeita implodiram essa união de partidos, afastaram o PSB?

Paulo – Não quero maximizar isso, mas ela não era candidata a prefeita do PSB e sua recondução à direção tinham sido rejeitadas internamente. É cristalizado no PSB lançarmos candidatura. Não tenho dúvida de que seremos protagonistas na eleição de 2020. É simplista o cálculo feito por ela de que Bordignon fez 40 mil votos e ela fez 26 mil. Na eleição, o PSB fez quase 20 mil votos, o PSDB fez 10 mil e o PEN e PTC 5 mil. São 35 mil votos. Então a candidatura dela não alcançou os votos da coligação.

 

Seguinte: – Falas em candidatura cristalizada. És candidato a prefeito?

Paulo – Temos um planejamento estratégico. Estão colocados meu nome e do vereador Carlos Fonseca. Mas é cedo. O momento é de construção. O que tenho certeza é que a próxima eleição passa pelo PSB. Mais uma vez somos a ‘noiva’. Lembra que em 2017, caso Anabel não tivesse concorrido na eleição suplementar, hoje Rosane Bordignon seria prefeita.  

 

Seguinte: – Qual acha será o quadro eleitoral em 2020?

Paulo – Hoje vejo como certas, além da nossa, apenas a candidatura do vereador Dimas Costa, pelo PSD, e uma candidatura do governo. Não sei se PDT estará com o PSB, se o PSB estará com o PSD…

 

Seguinte: – Uma aproximação com o MDB de prefeito Marco Alba se tornou possível?

Paulo – Acompanhas o debate na Câmara, então sabe que há um distanciamento grande. O governo apresenta sinais de mudança, mas é quase impossível. Mas a eleição é apenas um ponto, queremos ter um programa de governo para a cidade. Vamos começar a discutir isso a partir de junho, em reuniões regionais.

 

Seguinte: – Confirmas que Bordignon não foi ao evento do PSB que organizaste porque Anabel não iria?

Paulo – Convidamos os partidos, não pessoas. O PDT, como instituição, estava lá, com o vereador Demétrio Tafras e o dirigente José Amaro Hilgert. O PT, parceiro de diálogo, também.

 

Seguinte: – Para muitos do meio político o evento pareceu estratégia de Paulo Silveira para medir se poderia ter o apoio de Bordignon sem Anabel no ‘combo’…

Paulo – Nem pensamos nisso. A Anabel estava convidada, como todos do partido. A reunião fazia parte de nosso planejamento estratégico, que prevê outra no final do ano, para lançarmos candidatura. Insisto: o PSB não se norteia pelo apoio dos outros. Tivemos candidaturas próprias em 88, 96, 200, 2012, 2016 e 2017.

 

Seguinte: – Ao preferir Anabel a Paulo, Bordignon jogou o PSB no ‘colo’ da candidatura de Dimas?

Paulo – Uns jogam xadrez, outros dama. O 2019 constrói 2020, mas não estamos desesperados. Nunca estivemos tão fortes. Em 2016 tive que ceder apoiadores meus para fechar a lista de candidatos à Câmara. Hoje temos 60 candidatos para 32 vagas. Nós construímos pela base, como militância constante, não aparecemos só em época de eleição. Sempre tive lado, minha luta não é seletiva, é a mesma em Gravataí, em Cachoeirinha, no Estado, no país. Quem votou em mim votou no guri do Sítio Gaúcho, que trabalha pela comunidade. Para poste ou laranja não sirvo.

 

Seguinte: – Queres dizer que Anabel pode ser vista como ‘poste’ ou ‘laranja’ de Bordignon?

Paulo – Quem usava essa adjetivação era Anabel, em referência à Rita e à Rosane. Por muito tempo ela propagou isso. Não usarei essa adjetivação que muito me incomoda, seja ela candidata ou não. Votei em Anabel duas vezes para vereadora e três vezes para prefeita, porque ela representava o que eu acreditava. Não acredito que ela possa se tornar o que abominava e se aliar a qualquer um apenas para ganhar eleições.

 

Seguinte: – Mas usaste ‘poste’ e ‘laranja’ repetidamente em tuas respostas…

Paulo – Falo por mim. Não me cabe essa adjetivação. Lembrando duas da Legião Urbana, se “vivemos entre monstros da nossa própria criação”, “não sou escravo de ninguém”. Quero desejar boa sorte a Anabel e aos poucos companheiros que saíram com ela. Não faço política com amargura. Podemos estar juntos amanhã.

 

Seguinte: – Viveste a implosão do PT de Gravataí, no pré e pós impeachment de Rita. O partido, com suas brigas internas, antes todo poderoso, sofreu um ‘golpe das urnas’, fazendo menos votos que o PSol nas últimas eleições. O PSB não segue o mesmo caminho em Cachoeirinha? Não faltou solidariedade tua ao prefeito Miki Breier, alvo de um processo de cassação?

Paulo – Olho à distância, já que não tive tempo de buscar muitas informações. O que garanto é que não tenho nenhuma vinculação com articulações para cassar ou não. Chegaram a falar de trabalho prestado no PSB de Gravataí pelo autor do impeachment, mas Lucas Hanisch, que trabalhou na prestação de contas do PSB  de Gravataí, tinha sido procurador do presidente da Câmara de Cachoeirinha, Marco Barbosa, que é cunhado do prefeito! O que farias no meu lugar? Desconfiaria de algo? Mas é óbvio que há um ruído na base, quando o prefeito tem 16 de 17 vereadores e um impeachment é instalado. E com três votos entre cinco do próprio partido, um deles seu cunhado.

 

Seguinte: – Não te preocupa a cassação de Miki?

Paulo – Óbvio que me preocupa a cassação de um prefeito de meu partido em uma cidade vizinha. Mais uma vez como em 2017, o que acontece em Cachoeirinha vai influenciar aqui.

 

Seguinte: – Te refere ao ‘pacote de Miki’, como cortes em vantagens dos servidores, apresentado em 2017 quando Anabel era candidata a prefeita de Gravataí?

Paulo – Não dá para ser político do padrão antigo: em Gravataí, a favor da educação; em Cachoeirinha, contra! Não consigo ser assim. Meu apoio aos professores eu dei aqui e lá, desde sempre. Constrangedor ter que responder: “qual é o teu PSB?”.

 

Seguinte: – Quando falas que Miki tinha 16 em 17 em sua base, exclui Jack Ritter, vereadora de teu grupo político?

Paulo – Sim, a Jack não tinha cargos na Prefeitura.

 

Seguinte: – Se ela te consultasse sobre votar a favor ou contra o impeachment, o que aconselharia?

Paulo – Ela é vereadora de Cachoeirinha, tem que pensar em Cachoeirinha.

 

Seguinte: – Algo a acrescentar?

Paulo – Gostaria de manifestar minha preocupação com o colapso da democracia no país. Dilma sofreu impeachment e saiu sem piar. Se acontecer com Bolsonaro, como será?

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