Um projeto social, ambiental, econômico, voltado ao cultivo de produtos alimentícios ao qual podem ser agregadas outras funcionalidades: serve, por exemplo, para evitar que as áreas sejam invadidas com moradias irregulares, dá ocupação às pessoas que mesmo empregadas têm tempo de sobra, não têm trabalho ou são aposentadas, põe na mesa das pessoas alimento saudável e de procedência conhecida e confiável, além de ser fonte de renda a partir da comercialização do excedente.
Este é o Projeto Semear, realizado em Cachoeirinha desde 2006 a partir de um convênio firmado pela Prefeitura com o Grupo Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Pelo acordo, a CEEE cede ao governo municipal as chamadas áreas de servidão, aquelas que ficam sob as redes de transmissão de energia alta tensão e que e nas quais não podem ser construídas moradias.
Ao município cabe cadastrar e administrar a cedência dos espaços – geralmente com cerca de 600 metros quadrados – para as pessoas interessadas em cultivar a terra. Os agricultores que integram o projeto não pagam mensalidade, mas têm a obrigação de produzir alimentos sem o uso de qualquer tipo de agrotóxico, segundo o coordenador do Semear, Sidinei Borges dos Santos.
: Nerisson é técnico agrícola responsável pelo Projeto Semear
Duplicar
A área de servidão utilizada para o projeto tem cerca de 150 hectares, e é uma faixa de terras que se estende desde o limite do Parque da Matriz (quase Freeway) até a RS-118, cortando a cidade por vilas e bairros. Deste total, apenas 40 hectares são ocupado por produtores de alimentos, cerca de 160 famílias atualmente, contra a 35 que faziam parte do projeto há pouco mais de três anos.
— A nossa ideia é chegar a pelo menos 300 famílias até 2020. Tem muita terra ainda para ser aproveitada — disse o coordenador Sidinei dos Santos.
O técnico agrícola Nerisson Medeiros, responsável pelo projeto no âmbito da administração municipal, confirma que as vantagens para que cultiva estas áreas vai desde o alimento saudável, possibilidade de renda e fator inibidor de ocupações com moradias irregulares.
— As pessoas plantam de tudo aqui. Tem muito aipim, amendoim, milho… Cada um cultiva a planta com que tem mais familiaridade. E quase tudo é para consumo da própria família. O que sobra eles repartem com vizinhos, ou vendem — conta Nerisson.
Arroz preto
A familiaridade com o tipo de cultura, por exemplo, levou o produtor Orvídeo Gustavo Priebe, natural de Paraíso do Sul – na região central do estado e onde se produz muito arroz – a optar pelo cultivo de arroz de sequeiro, ou seja, sem a necessidade da irrigação. Com um diferencial: é arroz preto.
— Eu tinha semente do arroz amarelo e era o que eu ia plantar, mas me levaram. Daí eu optei pelo preto, que é mais orgânico — contou.
Neste ano ele espera colher cerca de 120 quilos do arroz e disse que vai guardar para consumo próprio. Só o que sobrar ele pretende vender. Orvídeo, porém, também planta aipim, cana de açúcar e várias outras hortaliças num dos maiores lotes, com cerca de dois hectares.
: Miguel Pereira dos Santos, tirando amendoins da rama
Amendoim
Sentado em um ‘mochinho’, aqueles bancos baixos, de madeira, com três pernas, Miguel Pereira dos Santos dedicou a manhã de hoje à tarefa de tirar amendoins da rama. O veterano agricultor que ocupa dois lotes no Semear plantou uma área pequena, mas acredita que ao final terá uma colheita com cerca de 30 quilos de amendoins.
Miguel diz que cultiva mais aipim, que consome, distribui entre familiares e vende o excedente. E mostra com evidente satisfação a estrutura de madeira que construiu para guardar ferramentas, sementes e outros objetos, de cujo telhado aproveita para guardar a água da chuva em dois reservatórios que somam 750 litros.
— Aqui não tem água, então fiz isso para guardar a água da chuva que é a mais pura que tem — afirmou.
FEIRA
1
A coordenação do Semear planeja realizar ainda este ano uma feira com os produtos orgânicos cultivados no projeto.
2
Dois locais estão sendo avaliados para realização da feira: na entrada do loteamento Moradas do Bosque ou na avenida Flores da Cunha, ao lado do Hipermercado Walmart, na área de servidão do Grupo CEEE que passa pelo local.
3
O projeto da “feirinha”, segundo o técnico agrícola da Prefeitura, Nerissom Medeiros, só não saiu do papel, ainda, por causa das dificuldades financeiras enfrentadas pela administração municipal.
Veja no vídeo a reportagem do Seguinte: no Projeto Semear, em Cachoerinha.