opinião

Neri presidente; o patrão e o pancadão da Câmara de Gravataí

Neri Facin falando pela primeira vez como presidente do legislativo municipal

Neri Facin (PSDB) é o presidente da Câmara de Gravataí para 2020. Alex Tavares (MDB) é o vice, Airton Leal (PV) é o primeiro secretário e Demétrio Tafras (PDT) é o segundo secretário.

Não postei antes por problemas técnicos. Até por isso, vou tratar a pauta de um jeito diferente.

Assista a íntegra da sessão. É bem legal! Alto nível, e espirituosa. Tipo série Netflix.

Abaixo do vídeo, escrevo percepções bem íntimas sobre o presidente eleito e, prometo, em outros artigos a seguir, fazer a leitura política sobre a votação que escolheu o patrão de CTG como presidente, com 14 votos entre os 21, e confirmou o governo Marco Alba (MDB) como ‘patrão’ do momento político: fez, como ‘marquistas’ andam dizendo, “barba, cabelo e bigode”; em um dia em que a oposição pareceu 'napoleão de hospício'.

 

 

Do meu tamanho, vou narrando tipo Capote em ‘Música para Camaleões’, ou Gay Talese, em ‘Fama & Anonimato’, no artigo ‘Frank Sinatra Está Gripado’, em que o jornalista conta algumas do cantor sem conseguir falar com ele, porque a personagem não gostava de entrevistas. Pelo que peguei da piada que colegas de Câmara aplicaram em Neri, seria ‘Sérgio Reis Está Gripado’.

Neri é um vereador que Guilherme Klamt, o cinegrafista e editor de imagens do Seguinte:, instalado na Redação em sua câmara fria a 19º,  escura, e chamada ‘Sala do VAR’, já descreveu assim:

– O vereador que eu mais gosto é aquele loirinho, aquele que está sempre sorrindo e nunca fala nada.

Neri – e aí não sei como ele se comporta como o patrão do Carreteiro da Saudade, o CTG da Bonsucesso – nas sessões da Câmara e cerimônias de inaugurações do governo é silencioso e nunca envolto em fofocas, a favor ou contra quem quer que seja, nem o prefeito.

Como o Klamt bem percebeu, é naturalmente sorridente – sempre que a ocasião permite.

Há duas semanas, postei o artigo Neri Facin será o patrão da Câmara de Gravataí; diploma de coragem.

Assim que distribuí, amigo jornalista de Gravataí me whatsappiou:

– Bah, elogiando vereador de baixo clero…

O colega, talvez por não cobrir política, aposto não tinha lido o artigo. Pela velocidade de seu comentário, só se fosse tão rápido quanto desembargador do TRF4 analisando sentença de Moro contra o Lula, ou algum Control C + Control V da juíza Hardt!

Mas é um exemplo que uso para mostrar que, como para o colega, para muitos-tantos, Neri é considerado ‘baixo clero’ no legislativo. Eleito com menos de mil votos em 2016 para seu primeiro mandato, ficou na ‘segunda página’ da tabela de votações.

Também por isso apresento ao leitor um relato dos poucos contatos que tive com o próximo presidente da Câmara.

Sabedor de que Neri era o cara escolhido pelo ‘G-8’ – o grupo dos vereadores da base de governo que não são do MDB, mas em acordo com o partido do prefeito, indicariam o presidente em 2020 – abordei-o na inauguração das pontes do Parque dos Anjos:

– E aí, presidente?

Neri fugiu. Não falou uma palavra. Ele simplesmente me deixou falando sozinho e saiu dali! Confesso que adorei, porque o político foi honesto, não me aplicou uma mentira. Simplesmente não queria, não sabia o quê, ou não poderia falar, sobre o acordo que, cumprido, tornou-o chefe do poder legislativo de Gravataí.

Eu também já tinha apertado Neri na quarta passada, no intervalo da reunião do Codes, o conselho de desenvolvimento econômico e social. Ele estava tão deslocado quanto eu, a uns cinco metros dos salgadinhos, atrás de uma porta de vidro que o afastava dos empresários, políticos, profissionais liberais, jornalistas e assessores que circundavam as mesas do lanche na antesala do auditório da Dana.

Quase escondido, ao lado do vereador Fábio Ávila.

– E aí, presidente, tudo certo para eleição no dia 19, né? – instiguei, já usando do que tinha apurado: ele seria eleito com os votos do ‘G-8’ e do MDB.

Mas o fiz em uma abordagem constrangida, sem nenhuma intimidade, só tentando parecer bem informado, sabido, e tirar dele algo mais que o tradicional som do silêncio – e cara de sorriso.

Neri fingiu não me ouvir.

Ignorou-me e deu atenção a um assunto proposto por Luis Felipe Teixeira, colunista político do Giro de Gravataí, sobre permitir ou não diferentes estilos musicais em seu CTG.

– Estava valendo de tudo naquela última festa! – provocou Felipinho, pelo sorriso de canto de boca, instigando o político a confirmar, ou não, que o salão do tradicionalismo estaria de portas aberta ao gosto da galera.

– A gente estava alugando. É diferente quando é uma atividade do CTG – interviu Neri.

Bom. Neri não quis posar de liberal, mas também não condenou quem fez a festa em seu CTG pagando para isso.

Do pouco que sei, Neri na Câmara é daqueles vereadores que você só ouve falar na tribuna quando – é uma hipérbole – homenageia a sogra! Tem poucos e, ou factóides, ou inexpressivos projetos. Mas, pelos dias que o ‘persegui’, achei um cara sério, porque é cheio de erros, como todos os políticos (e todo mundo), mas se mostra constrangido com falhas cometidas e, pelo que apurei, se esforça para consertar e esquecer.

O meio político testemunhou a pressão de bastidores que Neri sofreu, com ameaças de surgir uma denúncia por, antes de eleito vereador em 2016, ter ocupado cargo na Prefeitura sem atender aos requisitos formais, da mesma forma que aconteceu com seu colega de PSDB, Francisco Pinho, e revelei no artigo Um dia após denúncia, ex-vice-prefeito de Gravataí pede demissão; Pinho nega relação.

Inegável é que Neri experimenta a mesura de ser o presidente da Câmara da quarta economia do Estado e de uma das cidades que mais cresce no país. E é o escolhido de um acordo cumprido por quatro anos, entre o G-8 e o MDB, e que tem como ‘fiador’ um ‘Grande Arquiteto’ da política, Marco Alba.

Ao fim, o primeiro discurso de Neri, já como eleito, foi firme, impostado e limpo. Curti. Querido por todos, deve ter alguma tolerância dos colegas, pelo menos por breve tempo. Mas precisará, tanto quanto no CTG, administrar ‘gostos’ que, em uma analogia entre a política e a balada, vão do tradicionalismo, passando pelo rock pauleira, sertanejo universário e muito funk pancadão.

Diploma de coragem Neri tem ao, no meio da pressão de véspera por supostas ‘denúncias’ contra ele, assumir a Presidência da Câmara em um ano eleitoral e no qual a Câmara tem que, na pauta corporativa, definir os salários dos próximos vereadores, prefeito, vice, secretários e CCs e, na ‘pauta-bomba’, votar uma reforma da previdência municipal.

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