SAUL TEIXEIRA

Ninguém chega às semifinais por sorteio. O Inter de Coudet é “puro suco” de Libertadores

Foto: Ricardo Duarte

Nem o mais otimista torcedor colorado poderia imaginar! Após quase uma década, o Internacional está de volta ao seu habitat natural: a prateleira dos protagonistas da América.

Muito se dizia que no segundo semestre o Inter seria outro. E de fato está sendo. Ao menos na Libertadores. Brasileirão é debate para outro momento, embora a “preocupação” em termos de “tabela” seja a tônica do momento. Voltando à Copa, a troca na preparação física devolveu competitividade ao colorado.

A chegada de reforços mudou completamente a fotografia e está robustecendo o banco de suplentes. Sai Aránguiz e entra Bruno Henrique. Eis o maior exemplo do momento. Por último, mas não menos importante (como dizem os oradores nas formaturas de escola), a mudança de comissão técnica também oxigenou a equipe.

Coudet promoveu a mudança para três zagueiros no jogo de ida. Deu certo defensivamente, com clara estratégia de atenuar os efeitos da “falta de ar”. Após surpreender com triunfo no topo da montanha, no nível do Guaíba deu a lógica: atuação segura, propositiva e nova vitória. Show da torcida e de um certo camisa 13.

Há tempos o Internacional não tinha um protagonista desta envergadura. Enner não é apenas centroavante. Não é somente segundo atacante. É homem de ataque na acepção da palavra.

Primeiro gol como 9 raiz, na marca do pênalti. Depois, arrancada de Usain Bolt e conclusão de manual. Golaço anulado pelas “famigeradas” linhas do VAR. Na etapa final, exercício pleno da excelência: domínio pela esquerda, diagonal curta e bola na rede.

Valência garante interessante dinâmica de ataque. Por vezes deixa a área, criando espaço para o ingresso dos meias, principalmente de Maurício. Quando a bola está no lado oposto, ocupa a grande área. Artigo raríssimo no Continente principalmente pela “inteligência de jogo” e pelo poder de conclusão. Senhor jogador!

Um dos expoentes do time, Maurício ainda não retomou a forma técnica desde a lesão. Menos mal que Wanderson finalmente “entrou em campo”. O camisa 11 é um dos destaques do time em assistências — marca poucos gols para um “atacante” para o meu gosto, mas se mantiver o nível de atuação justifica a titularidade. Peça fundamental da engrenagem. Homem do desafogo. Ponta veloz, mas também armador.

Maurício é de outra turma. Atua pelo flanco, mas é meia-atacante de “carteirinha”. Quase ponta de lança. Alan Patrick é o dez e “faixa”. Clássico. Notável. Distribuidor de jogo. Centro técnico do time. Outro artigo em raridade até no futebol mundial em matéria de características. Johnny e Aránguiz/Bruno Henrique. O meio-campo do Inter é o principal fiador do bom momento na “maior das Américas”. Na nossa singela visão, evidentemente.

Em que pesem todos os méritos nas duas partidas, porém, a classificação contra o Bolívar foi quase protocolar. Coube ao colorado exercer o inegável favoritismo, embora a altitude tenha sido aliada dos bolivianos em 50% da disputa. Não deixa de ser um “merecido refresco” após a remontada contra o gigante River Plate.

Na semifinal, porém, a tendência é que a régua eleve novamente. Se for o Fluminense, pela bola. Se for o Olímpia, pela camiseta e pela jogada aérea. Aliás, atuação notável de Hugo Mallo como zagueiro central. Entretanto, a baixa estatura da linha defensiva não deixa de ser preocupante. Por mais que obrigue Mercado a mudar de lado, Nico Hernandez seria “meu titular” principalmente pela estatura.

“Não esqueça de enaltecer o Renê nos teus comentários”. Eis o pedido do velho Saulzão logo após o apito final. Como filho disciplinado que sou, aí vai: o camisa 6 é o jogador mais regular da temporada. Fundamental na saída de jogo, na cadência e essencial para o repertório tático. Típico carregador de piano com “muita bola”, mas pouca mídia. Atua como zagueiro na fase de construção. Com Renê no “balanço defensivo”, Bustos é transformado em ponta-direita.

Uma dinâmica criada por Mano Menezes e acertadamente mantida por Coudet. É comum em muitos times do Planeta Bola e atende a um dos desafios do jogo: criar superioridade numérica em todas as faixas de campo e fases do jogo. Com posse de bola, então, é preciso colocar o máximo de atletas no campo adversário. Bustos, Maurício, Alan Patrick, Wanderson e Enner. No mínimo!

Que venham as semifinais!!! Aconteça o que acontecer, o Inter está “crescendo” na hora certa. Em força coletiva, em “espírito” e em individualidades ─ com Sérgio Rochet e Enner Valência puxando a fila.

O outrora figurante ganhou preço. Com méritos, avançou para o status de coadjuvante e, agora, fincou a bandeira entre os candidatos. Futebol é a arte do imprevisível, do imponderável, do sonho mais distante.

O Inter de Coudet é “puro suco” de futebol na relação expectativa x realidade. Principalmente em matéria de Copa, de mata-mata, de Libertadores da América.

Ninguém chega às semifinais por sorteio.

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