Começo pelo fim.
Terminei este artigo e pensava em um título quando apareceu em minha linha do tempo o artigo No Dia da Mulher, é preciso falar em Dilma Rousseff, postado pela amiga Adelaide Klein em seu Facebook.
Minha manchete é essa: No 8 de Março, precisamos falar sobre Rita Sanco.
Como cronista político, não poderia deixar de lembrar a primeira prefeita de Gravataí, com 68 mil votos eleita com a maior votação da história.
Não liguei para ela, nem a visitei. Já o fiz inúmeras vezes e, para quem não leu ou assistiu, o último artigo foi Sofri um golpe, diz Rita Sanco, nos 7 anos do impeachment e, ao fim do artigo, reproduzo entrevista em vídeo.
Basta dizer que Rita é uma mulher na política.
O abuso que sofreu é análogo ao tratamento recebido por mulheres na vida profissional, social e doméstica.
Rita foi derrubada no que chamo, desde a época, de golpeachment.
Das 11 ‘denúncias’ amalucadas, todas restaram arquivadas no Ministério Público ou no Judiciário. Nenhuma delas era referente à suspeitas de corrupção.
A anulação do processo foi negada judicialmente mais de 30 vezes, em Gravataí, Porto Alegre e Brasília. O Poder Judiciário alega não poder interferir no Poder Legislativo.
'Perfeito tecnicamente', o golpeachment usou e abusou de decreto lei de 1967, do ditador Castelo Branco. Foi apresentado no prazo em que, em vez de nova eleição, bastava o voto dos vereadores.
A pena de Rita? Oito anos longe das urnas!, punição que finalmente encerra ao fim de 2020.
Condenada por quê? Lembra-me Josef K, em ‘O Processo’, de Kafka, que ao declarar-se inocente ou culpado, respondeu:
– Inocente de quê?
Professora, foi cassada com crueldade, em 15 de outubro de 2011, Dia dos Professores.
Impingiram-lhe a dor de ter a filha, advogada, citada de forma vil em um dos ’11 tiros’ políticos que levou.
Para piorar, a feminista Rita foi cassada com o voto de uma mulher, além de outros nove machos sedentos pelo poder, mesmo que sem o voto nas urnas – o que tantos até hoje não o tem o quanto sonhavam, patinando na mesma lama ou caindo um a um sob a luz da História.
Não cito o nome de algozes de Rita neste artigo por dar o benefício da vergonha; errar é tão humano quanto colocar a culpa em alguém.
“Rita é uma pessoa honesta”. Não há quem viva a política da aldeia que não tenha ouvido, antes, durante e depois da cassação.
Invariavelmente, a afirmação vem acompanhada do diagnóstico do insucesso: “ela não soube negociar com os políticos”.
Reputo o caso da ex-prefeita ainda pior que o de Dilma, porque Rita enfrentou a 'ideologia dos números' e fazia todo esforço para pagar contas do passado e, diferente da ex-presidente que no segundo mandato viu a marolinha virar tsunami na economia nacional, não tinha como ser responsabilizada, com apenas dois anos e meio de governo, pela crise que Gravataí enfrentava.
Ao fim, Rita é um símbolo da mulher na política, experimentando mais espinhos do que rosas.
É para ela – admiravelmente ainda na luta, firme, sem fraquejar – a minha saudação no 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.
Assista ao vídeo 'Gravataí tem sua Dilma', de outubro de 2017