CARLOS WAGNER

No governo, Bolsonaro deixou seguidores à própria sorte. Agora é sua vez?

A imprensa precisa explicar melhor os motivos que levaram ao “ataque de fúria” de dois dos filhos do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 70 anos, contra quatro dos governadores eleitos, em 2022, graças ao prestígio político do seu pai. No sábado (16), o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), 42 anos, fez a seguinte postagem no X: “A verdade é dura. Todos vocês se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e não são diferentes dos petistas que dizem combater. Limitam-se a gritar ‘fora PT’, mas não entregam liderança, não representam o coração do povo. Querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e política”. A postagem foi compartilhada pelo irmão do vereador, o deputado federal eleito por São Paulo Eduardo Bolsonaro, 41 anos, que atualmente se encontra licenciado do seu mandato e mora nos Estados Unidos. A situação jurídica do ex-presidente é muito complicada. Considerado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele cumpre prisão domiciliar enquanto aguarda, a partir do dia 2 de setembro, a conclusão do seu julgamento pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no qual responde, com outras 33 pessoas, a maioria ex-ministros e funcionários de alto escalão do seu governo, à acusação de terem praticado cinco crimes, entre eles a formação de uma organização criminosa para dar um golpe de estado.

Os quatro governadores aos quais o vereador se referiu disputam o apoio do seu pai para concorrer a presidente da República em 2026. São eles: Romeu Zema (Novo), 60 anos, de Minas Gerais, Ronaldo Caiado (União Brasil), 75 anos, de Goiás, Ratinho Júnior (PSD), 44 anos, do Paraná, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), 50 anos, de São Paulo. A principal bronca de Carlos contra os governadores é a seguinte. O seu irmão, Eduardo, tem batido na tecla de que o tarifaço de 50% aplicado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 79 anos, aos produtos exportados pelo Brasil para o mercado americano, tem como objetivo pressionar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, a anistiar o seu pai e seus seguidores. Assim como o cancelamento, pelo governo Trump, do visto americano de oito ministros do STF, além do enquadramento do relator do caso contra Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, 56 anos, na Lei Magnitsky, uma legislação usada contra grandes criminosos – matérias na internet. Os governadores estão tratando estas duas questões, o tarifaço e as sanções contra os ministros, como uma questão comercial, desobedecendo as orientações de Eduardo. Em primeiro lugar, não dizem que o tarifaço é uma chantagem contra o Brasil e uma descarada intromissão nos assuntos internos do país. Estão pregando que tarifaço aconteceu porque Lula não ligou para Trump, e ainda desafia o presidente americano sempre que pode. Por várias vezes Eduardo tem desmentido a versão dos governadores e alertado que novas sanções vêm por aí. E que a solução é a anistia. A ação do deputado licenciado nos Estados Unidos é o último cartucho que o ex-presidente tem para tentar sair do rolo em que se meteu. Aqui fica uma pergunta. Quem vendeu para Eduardo a ideia de que o Brasil dobraria os joelhos à pressão americana?

O outro assunto que os governadores ficam longe é o das sanções contra os ministros do Supremo. Além de ser um tema indigesto, tem sido constante notícia na imprensa, inclusive a internacional. Como repórter, entendo a indignação de Eduardo com os governadores que pretendem disputar a Presidência da República. Vejam bem. Em 2018, quando o ex-presidente explodiu como preferido nas pesquisas eleitorais, logo após ter sido ferido em um atentado que sofreu em 6 de setembro, quando foi esfaqueado por Adélio Bispo de Oliveira, 47 anos, durante uma passeata em Juiz de Fora (MG), vários candidatos a governador e a cargos legislativos viraram bolsonaristas da noite para o dia. O ex-presidente nunca mentiu sobre as suas intenções de tentar ficar no governo dando um golpe de estado. Sempre falou sobre o assunto publicamente. Também nunca escondeu a sua desconfiança com as urnas eletrônicas e todo o processo eleitoral brasileiro. Lembro que durante a pandemia de Covid o então presidente Bolsonaro assumiu publicamente o seu negacionismo em relação ao poder de contágio e letalidade do vírus. Mais ainda. Logo que Eduardo mudou-se para os Estados Unidos com o objetivo de organizar um lobby na Casa Branca para comprometer o governo americano com a anistia dos bolsonaristas que tentaram dar o golpe de estado, o ex-presidente admitiu publicamente que estava financiando o seu filho para trabalhar contra os interesses do Brasil. Diante de toda essa avalanche de fatos, os governadores não podem argumentar que não sabiam até onde estavam dispostos a apostar na ajuda americana ao ex-presidente. Há uma ironia nesta história. Logo no início do seu governo, Bolsonaro deixou bem claro que não se comprometeria com seguidores que se envolvessem em problemas que pudessem causar perda de apoio popular. Usando a linguagem militar. Não voltaria para buscar feridos no campo de batalha. É justamente isto que os governadores estão fazendo com ele nos dias atuais. Só querem usar o que lhes dá prestígio. O resto fica no campo de batalha.

Para arrematar a nossa conversa. O vereador Carlos sempre foi o responsável pelas mídias sociais do pai. Durante o mandato presidencial de Bolsonaro, ele era o esteio do que a imprensa chamava “Gabinete do Ódio”, um grupo de pessoas que usavam as redes sociais para atacar adversários políticos e seguidores que se desviassem das orientações da família Bolsonaro. Eduardo critica os governadores há um bom tempo. Carlos entrou na história agora. O seu aparecimento tira um pouco do foco sobre o seu irmão nos Estados Unidos, que vem sendo muito criticado por estar trabalhando contra os interesses do Brasil. O auge deste rolo vai ser quando começarem a sair as sentenças dos envolvidos na tentativa de golpe. Só então saberemos que rumo irá tomar a pressão americana pela anistia de Bolsonaro.

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