a informalidade

No mundo do trabalho, as mudanças estão apenas começando!

Um olhar pelo entorno da questão central que é a mudança na legislação trabalhista no Brasil, é bem-vindo nesse momento. Aqui, o universo das revendedoras de cosméticos dá bons exemplos de como pode se configurar o mercado de trabalho, com a análise de Silvio Matheus Santos.

Boa leitura!

 

Qual o novo panorama do mundo do trabalho?

 

Por Silvio Matheus Alves Santos*

 

Por pesquisar uma fast fashion do comércio varejista de moda, afirmamos satisfatoriamente que o que encontramos no livro Sem maquiagem: o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos, de Ludmila Abílio, está para além dos resultados de sua pesquisa. Evidenciamos problematizações singulares e relevantes que avançam o debate, por exemplo, sobre o trabalho informal e a questão do tempo de trabalho e de não trabalho. Ou seja, as suas reflexões e proposições atualizam algumas questões no que tange às transformações do mundo do trabalho (pensando a realidade brasileira e internacional) e que diz respeito às centralidades: do trabalho, da marca, do imaterial, da acumulação e da banalização da exploração do trabalho.

Na parte sobre “As revendedoras e a empresa”, a autora buscou nos dar “um panorama dos perfis socioeconômicos das revendedoras e da relação que elas mantêm com as vendas”. A partir de entrevistas, construiu e apresentou alguns “tipos sociais” com base nas especificidades o trabalho, nas suas condições materiais de realização, nas relações que estabelecem com a Natura. Dentro dessas especificidades de trabalho das consultoras, ela encontrou a “revendedora da revendedora”, o que acaba desencadeando uma “informalidade dentro da informalidade”.

Outra questão extremamente importante diz respeito ao “trabalho formal”  visto como um “diferencial para a manutenção das vendas” realizadas a partir do trabalho informal. Ou seja, “ter  um local de trabalho definido assegura também a rotina da atividade. A alta permeabilidade das vendas possibilitou que seu local de trabalho se tornasse  sua loja difusa. “A falta de formas predefinidas das vendas garante a alta  adaptabilidade de uma ocupação à outra” (p.30). Com isso, esse processo de trabalho, pensado e compreendido por nós como amórfico (termo que deriva de amorfia e que expressa a ausência deforma determinada), “se imbrica nas relações pessoais em espaços privados, a venda não concorre e sim se entrelaça a outras ocupações”.

Ao abordar sobre “A informalidade e a questão social”, a socióloga problematiza o sucesso do “Sistema de Vendas Diretas – SVD” como um trabalho predominantemente feminino e destaca a “falta de mediações públicas dessa relação de trabalho”. Nessa ausência de mediações bem definidas, o que se destaca é a presença da marca sendo “o que aparentemente faz o elo na atividade de todas as consultoras, uma vez que as mais diferentes formas e estratégias de venda têm em comum o discurso da marca”.

O capítulo três, “A ficção real da acumulação”, será orientado pela discussão sobre a desfetichização da marca, que abrirá caminho para o debate sobre a relação entre a dominância da valorização financeira e a precarização do trabalho. Logo, a perspectiva da análise “é a de que a visibilidade contemporânea da marca se combina com a invisibilidade social que hoje permeia as relações de exploração” (p. 99).

 

A ovelha negra das relações de gênero

 

O quarto capítulo, “A organização na dispersão”, nos traz questões que estão diretamente ligadas ao controle do trabalho. Ludmila nos apresenta como a relação de trabalho das revendedoras da Natura está organizada pela dispersão, “pela ausência de formas de trabalho, pela ausência de locais de trabalho”. No decorrer da análise, Abílio chega à conclusão de que “o controle se realizaria na própria dispersão e na própria indiscernibilidade da relação de trabalho” (p. 132).

No último capítulo, “Subsunção contemporânea do trabalho e acumulação”, Ludmila Abílio se aproxima do toyotismo, entendendo-o como uma expressão da reestruturação e relacionando-o com as formas de subsunção do trabalho. De acordo com a autora, “há algo novo na exploração: o envolvimento do trabalhador com o trabalho parece ter cada vez menos limites” (p. 172). Abílio ainda nos traz uma discussão sobre a privatização do tempo de não trabalho.

 

Um espectro do trabalhismo ronda o Brasil

 

Fica claro, a partir disso, que a centralidade do trabalho permanece fundante das dinâmicas sociais de produção e reprodução. O que ocorre é o aparente descentramento do trabalho potencializado por maneiras amórficas de organização da produção, acumulação e exploração no contexto atual. Portanto, a partir do trabalho da autora é possível entendermos que as novas configurações visualizadas não nos remetem somente às formas conhecidas das relações capital-trabalho- -exploração do período industrial, com  dimensões bem definidas, mas o que observamos, em setores como o de serviços  e o informal, é uma latente complexificação das formas que potencializam ainda mais o capital, a lógica de acumulação e a exploração.

 

Silvio Matheus Alves Santos é doutorando em Sociologia pela Universidade de São Paulo-USP. Adaptado do texto “Do formal às diferentes informalidades”

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