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No mundo do trabalho, dó-ré-mi faz trabalhar

A música é um código universal estendido muito além do entretenimento. As notas, as melodias e as apalavras encadeadas por ritmo e timbres criam uma atmosfera particular que embala tanto os sonhos quanto a mais dura realidade. Existe música de romance, de protesto; música para dançar, para pensar e existe música de trabalho. E uma vez que aqui falamos do Mundo do Trabalho, natural tocar a discoteca de labuta.

Cantar amenizava o sofrimento de trabalhar a força, sabiam os escravos do EUA e também do Brasil. Na terra do fordismo, o recém-nascido Blues não só tirava a atenção das dores físicas como ditava um ritmo cadenciado para a lida em grupo. Da mesma forma que nas minas de carvão ou nas lavouras brasileiras, o povo escravizado entoava suas cantigas em tom lamurioso, marcando no solo as raízes culturais que se perpetuam até mesmo na música pop atual.

Nas fábricas do século 18, no princípio da industrialização, cantar ou ouvir música no trabalho chegou a ser proibido sob alegação de que haveria perda de concentração e possíveis acidentes com os funcionários. Claro, aos patrões da época, era natural que um ser humano trabalhasse mais de 12 horas em condições insalubres. Somente no início do século 20, percebeu-se que a música causava um efeito benéfico, elevando a moral das equipes e melhorando o ritmo produtivo.

Se vivesse naquela época, o tímido Cláudio Mariano não suportaria sua rotina de quase 10 horas, no exigente Mundo do Trabalho, sem os seus headphones cuidadosamente instalados no pavilhão auricular. Um funcionário cumpridor do dever, com uma atribuição que lhe obrigava a extrair toda a criatividade de seus 20 e poucos anos. Ele era responsável por monitorar o tráfego de mensagens sobre a empresa, que circulavam nas redes sociais. Um dia, sem aviso prévio, os pequenos e atentos olhos acinzentados do social media congelaram. Diante da tela do computador, as mãos postas sobre o teclado, o tronco ereto sobre as pernas magras e vestidas de cor caqui escuro, eram tudo uma massa inabalável. Já rodava a segunda playlist, mas aquela carcaça atônita não emitia sinal de vida. Naquele espaço, ao redor dele, todos os seres corriam, enquanto, na web, o verbo se empilhava sem a meticulosa categorização profissional. Do fundo da sala, a diretora de marketing o avistou e chegou até ele em passos decididos.

De pé, com o quadril a centímetros do antebraço de Cláudio, em rápida observação, julgou tudo normal. E pensou que aquele encargo era cumprido como se deve: atento, fixo e resoluto. Satisfeita, saiu dali. Antes, porém, deixou dois tapinhas no ombro do funcionário dedicado. As ondas de vibração do afago executivo trouxeram vida àquele jovem homo-faber, que, sem demora, se abaixou, sacou da mochila azul o carregador do celular, conectou o aparelho à tomada, ativou o player de músicas, passando a cantarolar baixinho seu sucesso preferido. Desde então, quando entra no Mundo do Trabalho, garante uma recarga completa de energia vital com pelo menos um abraço em alguém, usando novíssimos e reluzentes fones de ouvido, que funcionam sem fio, para facilitar mais essa tarefa.

 

De volta ao mundo daqui – Direitos iguais

– Já foi no Carrefour?

– Não e não vou! Não quero sair e menos ainda para ir no super.

– Mas como vou fazer salpicão sem maionese?

– Faz outra coisa.  Que comprasse ontem! O Direto para na frente. Podia já ter comprado.

– Ontem eu “tava” cansado, queria vir logo pra casa.

– Pois é, hoje é minha vez.

 

Leandro Nazari Melo é jornalista. Gosta uma barbaridade de música e de trabalhar com música quando precisa ir ao Mundo Trabalho.

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