Trabalhar com o transporte de passageiros, sem ser taxista, por exemplo, além da satisfação pessoal pode representar um meio de vida ou, simplesmente, um complemento à receita mensal necessária para manter uma família.
Em Porto Alegre estão disponíveis três alternativas ao tradicional serviço dos táxis, todos por aplicativos. O mais antigo é o Uber, que chegou à capital gaúcha em 2015 provocando muita discussão e até brigas com os taxistas. Os outros dois são o Cabify e WillGo.
Mas trabalhar neste ramo é bom? Dá dinheiro? O Seguinte: foi saber o que dizem dois profissionais do volante com atuação no Vale do Gravataí e em toda a Região Metropolitana.
Uma é a jornalista Ana Paula Gonçalves Maciel, de 37 anos, que presta serviços via Uber desde maio deste ano, e outro é o motorista profissional Diego da Silva Dias, 34 anos, que está no ramo de transporte de passageiros desde julho de 2013, dono da empresa A&B Transfer.
Como boa jornalista, Ana não abandonou a profissão, e diz que nem a profissão a abandonou. No final de 2013 pediu demissão de onde estava e, diante da remuneração oferecida pelo mercado – que considerou aquém do que gostaria – optou por atuar como jornalista free lancer.
— Recentemente produzi toda a campanha visual da prefeita eleita de Morro Reutter — conta Ana.
A burocracia e os altos custos para trabalhar como taxista foram as principais razões que fizeram com que Diego Dias optasse por constituir uma empresa para transportar passageiros. Antes do Uber, a A&B Transfer já estava firme no mercado da região.
O uso da tecnologia para conversação, principalmente o Messenger (do Facebook) e o WhatsApp, são as principais ferramentas de contato de Diego com a clientela. Mesmo dirigindo para o Uber e cadastrado nos outros dois aplicativos – menos conhecidos e, por isso, com menor participação neste mercado – 90% do serviço que faz é previamente agendado.
Ana tem um irmão que também trabalha com o Uber, ambos moradores de Cachoeirinha. A “base de trabalho” é a capital dos gaúchos e ela já realizou viagens para várias outras cidades como Gramado, Campo Bom, São Leopoldo, Guaíba e Viamão, entre outras, geralmente a partir do Aeroporto Internacional Salgado Filho.
Ana Maciel e Diego Dias não têm horários fixos para trabalhar.
— Nas últimas semanas tenho dirigido à noite e madrugada. Neste horário pegamos saída de universidade, retorno do trabalho, e a partir das 4h começam as viagens rumo ao aeroporto, para os primeiros vôos da manhã — conta Ana.
Roteiros
Os dois prestam serviços também por Gravataí, Cachoeirinha e Viamão. Diego já levou passageiros para Gramado, Torres, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Farroupilha, e viaja muito para Santa Cruz do Sul atendendo pedidos de empresas instaladas na capital do fumo.
Nesta sexta-feira (28/10), por exemplo, ele amanheceu em Veranópolis, a capital brasileira da longevidade.
Enquanto empresa a Uber recebe 25% dos ganhos de quem presta serviços através do aplicativo, mas, atesta Ana, em contrapartida, apresenta o modo americano de trabalhar, forjado no capitalismo e com avaliações semanais, incentivos, e a forma de pagamento que também é por semana.
— Nossos verdadeiros chefes são os passageiros. Eles nos avaliam, dão sugestões e fazem críticas, via aplicativo, com suas identidades sempre preservadas — conta a jornalista e motorista.
Os carros
Ela oferece o tradicional: água, balas e barras de cereal, e trabalha enquadrada na categoria Uber X, que tem tarifas mais baratas, “pilotando” um Nissan Versa, ano 2013, prata. A Uber X difere da categoria Black, que exige carros de luxo, com modelos e marcas específicos e, necessariamente, da cor preta.
Diego tem um Grand Siena modelo 2015, roda cerca de 7 mil quilômetros em média, por mês, e faz desta atividade a fonte de sustentação financeira da família.
— Principalmente quando se é desapegado à questão dos horários… Diria que é uma vida maluca, mas que me proporciona ganhos razoáveis — afirma o motorista, sem abrir o jogo quanto ao montante faturado por mês.
Sem preconceito
O fato de ser uma mulher, ao volante, não causou, até agora, constrangimentos à jornalista Ana Maciel. Pelo contrário.
— Já recebi até presentes, alguns passageiros se despedem com um abraço ou um beijo, e têm também os que querem saber mais da nossa vida, da nossa história. Todos os meus passageiros, até hoje, sempre foram excelentes.
O fato de ser uma motorista até ajuda Ana. Principalmente se a passageira é mulher. Até sentar no banco da frente ao lado dela, as mulheres sentam. Daí, a intimidade fica maior e a fofoca rola solta e descontraída.
Livro aberto
Mas nem sempre é assim. Há casos, geralmente ao final de festas que varam a madrugada, de clientes que, de tão embriagados, até vomitam dentro do veículo. Mas isso não aconteceu com Ana. Ainda.
Se o passageiro puxa conversa, tudo fica mais fácil.
— Daí a viagem chega a ser curta, pois eu sempre aproveito para obter o máximo de informações que ele possa me dar. Tem passageiro que já entra no carro perguntando o que eu faço além de ser Uber. Cada conversa é um livro a ser aberto e desvendado — revela Ana, com a desenvoltura de quem está habituada a contar histórias.
Assim como muitos outros profissionais do ramo, Ana e Diego já firmaram até uma relação de amizade com muitos passageiros e, com estes, até montaram uma carteira de clientes que lhes são fiéis.
Ovo podre
— Toda vez que pego passageiro durante a madrugada ouço que tem que ser corajosa! Parabéns! — conta Ana, acerca dos riscos inerentes à profissão, assegurando que antes de sair de casa sempre faz uma oração e revelando que a mãe “dá a maior força” para que prossiga na atividade, assim como seu irmão.
Diego não fala sobre os riscos que enfrenta na profissão, e conta que desde que começou a trabalhar na área teve dois problemas com a concorrência – leia-se taxistas! Uma vez, antes do Uber, e outra mais recentemente.
Ana também já teve um enfrentamento, na saída de uma festa. Ela e os passageiros foram xingados e um ovo podre chegou a ser jogado no vidro do carro. Nada grave.
Diz aí:
Diego, qual o diferencial do teu serviço para fidelizar clientes?
— Segurança para o passageiro, pontualidade e conforto.
Ana, o que mais tu faz além de ser motorista do Uber?
— O trabalho com o aplicativo é meu ganho fixo, mas continuo trabalhando como jornalista, designer gráfico e produção de eventos.
: Diego Dias trabalha como motorista profissional desde 2013 e também é Uber