3° Neurônio | crônica

Notas do nosso homem no subterrâneo | Ernani Ssó

 

Temperos e alucinógenos

 

Você sabia? Descobriram que a sálvia é alucinógena. Minha avó sempre fazia galinha à caçarola e a sálvia era o tempero principal. Caraca, fui criado por uma traficante e corruptora de menores.

Mas imagina se a moda pega. Adeus, cebolinha. Adeus, mangerona. E o orégano então? O enquadramento do orégano levaria a uma encrenca de proporções mundiais. Milhões de motoboys lambendo as pizzas antes de entregar e saindo doidões por aí, se matando contra postes, muros e carros. Peraí. Acho que já andam lambendo pizza (atenção, revisor) e que o orégano é muito pior que a sálvia.

Agora estou à espera da revelação definitiva: que a água e o ar também são alucinógenos. Porque, cá pra nós, é duro achar que tudo isso que vemos é real.

 

Hollywood e eu

 

Tem um cara saltando com meio mundo explodindo atrás dele? Eu mudo de canal. Tem alguém pendurado no vazio, apenas pelas unhas, até o último segundo? Eu mudo de canal. Tem perseguição de carro? Eu mudo de canal. Tem alguém indo sozinho pegar o carro no estacionamento subterrâneo, à noite, num silêncio de doer? Eu mudo de canal.

Então, pra rimar, penso no Stendhal. Ele dizia que não gostava de fascinar o leitor por meios artificiais. No Vermelho e o negro, ele descreve o duelo de Julien Sorel numa frase. Isso é um luxo, não?

Agora, como alguém consegue acreditar que o uso dos mesmos truques baratos, década após década, pode fascinar alguém?

 

Velhos polemistas

 

É dura a vida de um velho polemista. Com o tempo, ele se torna folclore. Folclore pode ser divertido ou não, mas quem leva a sério? Depois que morre a mãe do velho polemista, apenas ele se leva a sério. Mais um fim melancólico, como tantos outros.

 

Arte difícil

 

Segundo o Ivan Lessa, uma das artes mais difíceis é não torcer por ninguém. Eu sou chegado a artes difíceis. Mas nessa quebro a cara em poucos minutos.

Não tenho interesse algum por tênis, mas, se assisto a um ou dois sets, me vejo torcendo, não a favor de um dos jogadores, apenas contra um deles. Há uma leve diferença aí. O Federer nunca me escapa. Até confiro no jornal pra ver se perdeu.

Por quê? Não tenho a menor ideia. Talvez seja aquilo que o Evelyn Waugh dizia: a gente acaba se enchendo de quem está sempre nas primeiras páginas, seja o papa ou a atriz gostosa.

 

Conto de terror

 

E então o Galvão Bueno começou a narrar o apocalipse.

 

 

Ernani Ssó é escritor, vive em Porto Alegre. Colabora com os sites Coletiva Net Sul21, e virou colaborador fixo do Seguinte:

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