Candidato à Prefeitura na nova eleição de Cachoeirinha, David Almansa (PT) deu show ao apresentar suas propostas ao Sindilojas, hoje, na sede da Associação Comercial (ACC). Pelo que apurei, as ideias agradaram comerciantes. Em off, mas também em on.
– Acompanho desde a primeira campanha do Medeiros – disse o ex-presidente da ACC, Vitor Rahde, lembrando a eleição de Francisco Medeiros (MDB) em 82 –, e completando:
– Nunca alguém trouxe isso que você apresenta aqui. Mas nós, a cada eleição, levamos aos políticos. Só que quando chegam na Prefeitura são os partidos que mandam, o cargo é do amigo que não foi eleito vereador…
Em post no perfil da entidade no Facebook o Sindilojas de Cachoeirinha seguiu a mesma linha, postando que “David Almansa foi o único candidato que trouxe o plano de governo impresso”.
– Não tenho rabo preso. Represento a única candidatura que não participou dos governos dos últimos 20, até 40 anos. Se eleito terei que dialogar com a mesma Câmara, mas não com a mesma relação – garantiu o prefeiturável, citando o exemplo de Gravataí:
– É administrada por um partido ao qual fazemos oposição (MDB), mas a cidade avançou na cultura política. Não é o vereador que tem que indicar filho, nora, por parentesco. É preciso liderança, comando na Prefeitura, para ter uma gestão eficiente – disse, projetando criar um conselho econômico e político com a participação de entidades e representações comunitárias.
– Não sou um iluminado que vai resolver tudo sozinho. A cidade é nossa. O que garanto é que tenho coragem de enfrentar o desafio e dizer não quando necessário – concluiu, informando que a pessoa a ocupar a Secretaria de Indústria e Comércio será escolhida a partir de lista construída junto aos comerciantes, “com supervisão da Ester Ramos”, ex-presidente da ACC que é cotada para ser sua vice.
Siga abaixo algumas das propostas apresentadas pelo sociólogo e vereador mais votado em 2020, mais voltadas para os comerciantes.
1. Auxílio em ‘moeda social digital’ para comprar no município
Citando exemplo de Maricá, no Rio de Janeiro, e Fortaleza, no Ceará, Almansa propõe a criação de uma ‘moeda social digital’.
– Ao invés de distribuir renda com um auxílio emergencial em dinheiro, como em Canoas, vamos investir R$ 6 milhões e chegar a 5 mil famílias com a moeda social, cuja compra precisa ser feita no comércio local. Faremos uma chamada pública para bancos e cooperativas, para que forneçam a tecnologia para a moeda ser usada por aplicativo – disse, projetando um auxílio de pelo menos R$ 100 mensais por família.
– Também projetamos envolver outros setores na moeda digital, para incentivar as compras locais. Estudos mostram que Maricá, com uso da moeda, sentiu menos os impactos da pandemia – argumentou.
Almansa também anunciou que vai aumentar a distribuição de cestas básicas, hoje 50 por mês, além de abrir um restaurante popular na zona norte.
2. Prefeitura comprando de pequenas empresas locais
Almansa lembrou seu trabalho junto ao programa Fornecer, do governo Tarso Genro, que permitia compras públicas de pequenos e médias empresas locais.
– O pãozinho quente para a merenda pode ser comprado da padaria no bairro da escola e não chegar em sacos comprado de uma grande empresa – exemplificou.
O programa permitiria compras até R$ 8 mil, por pregão eletrônico.
– Consultor do Sebrae ajudaria a regularizar empresas. Testemunhei uma pequena padaria aumentar a venda de 200 para 1000 pães por dia. Isso pode ser feito também com material de escritório para a Prefeitura, por exemplo – explica.
3. ‘Revitalização humanizada’ da Flores da Cunha
A ideia de Almansa para o que chama de “revitalização humanizada” da Av. Flores da Cunha começa por ampliar as calçadas:
– Estudo feito em Paris mostra que quanto maior a calçada, mais tempo as pessoas convivem, olham as vitrines e compram. Mas é preciso planejar, não fazer como o governo com a ciclovia, que custou R$ 1,5 milhão e é uma vergonha para a cidade.
Ele quer usar uma criação novaiorquina dos anos 70, que voltou à moda, que são os ‘parklets’, espécie de miniparque, espaço compacto de convivência construído em sobras de terrenos ou locais de estacionamentos.
– São espaços para tomar um café, carregar o celular, parar para conversar, olhar as vitrines e comprar. A Flores da Cunha não pode ser apenas um local de passagem – argumenta.
Almansa também anuncia um projeto paisagístico para embelezamento da avenida, usando plantas ornamentais do horto municipal.
– A avenida também precisa de lixeiras e coleta adequada, não containers – acrescentou.
Ele também quer a Prefeitura promovendo campanhas para as principais datas comemorativas, como dia das mães, pais, namorados, crianças e natal, além de incentivo às compras no município.
4. Estacionamento rotativo em 6 meses
Almansa prometeu em seis meses resolver uma das reivindicações dos comerciantes: o Estacionamento Rotativo.
– O que mais tem são empresas interessadas. A Flores da Cunha é a segunda rua mais movimentada do Rio Grande do Sul. É só fazer o edital corretamente – disse.
5. Shoppings a céu aberto nos bairros e o ‘bairro boêmio’
Almansa projetou incentivar centros comerciais nos bairros, em ruas como Juscelino, Estados Unidos, Curitiba, Brambilla e Capistranos, com a Prefeitura oferecendo pavimentação, sinalização e novas calçadas em parceria com os comerciantes.
– Vamos debater com os comerciantes uma padronização visual, com arcos para decoração, para dar uma cara de shopping ao céu aberto – disse.
Almansa também projeta chamar empreendedores para criar um bairro boêmio em Cachoeirinha, aos moldes do que avança em Porto Alegre, no 4º Distrito. A ideia inicial é na região do City Nova Fase.
– A vida boêmia e noturna é um indutor da economia – disse, projetando também retomar o Carnaval e festas populares.
6. Polo tecnológico da Uergs no Distrito Industrial
Almansa disse já ter conversado com o reitor da Uergs Leonardo Alvim Beroldt da Silva, para transformar em um polo tecnológico a área no Distrito Industrial de Cachoeirinha que a universidade estadual pública gaúcha incorporou da Cientec.
– Há todo interesse em fazer daquela área o campus tecnológico da Uergs na Região Metropolitana, para aceleração de startups voltadas a qualificar serviços, comércio e indústria. Se a Prefeitura tivesse interesse, já teríamos em Cachoeirinha um polo como TecnoPUC, ou TecnoSinos – disse.
7. Reforma em todas escolas e atração de instituto federal
Almansa projeta começar o governo investindo R$ 80 milhões que estão parados em repasses do Fundeb e MDE.
– Vamos reformar todas as escolas e contratar. É incompetência ter esse dinheiro parado enquanto há escolas precárias, interditadas, sem professores. O que o atual governo está priorizando: comprar notebooks e lousas digitais para escolas que não tem internet, ou o telhado está caindo – comparou.
Almansa, que é o ‘prefeito do Lula’, também projeta articular com o governo federal – e aposta na eleição de Lula – para atrair um instituto técnico federal para Cachoeirinha.
8. Novos bairros só com contrapartida dos investidores
Almansa projeta a criação de um escritório de arquitetura e urbanística para acompanhar processos para instalação de empreendimentos imobiliários privados em Cachoeirinha.
– Há bairros inteiros construídos sem contrapartida para o município – alertou, citando onde reside, na Morada do Bosque, que “parece uma ‘ocupação planejada’, não um bairro planejado”.
– Não podemos autorizar empreendimentos que só trazem demandas para cidade, sem contrapartidas de pavimentação, saneamento, escolas, creches, postos de saúde. Não pode a contrapartida ser um terreno no banhado para a Prefeitura construir – disse.
9. Mais saúde sem gastar mais, Guarda como ‘polícia cidadã’
Para Almansa é possível melhorar a saúde sem precisar investir mais que os 18% constitucionais.
– Basta organizar, ouvir os técnicos. É necessária prioridade para atenção básica. 85% dos atendimentos podem ser feitos nos postos de saúde, desde que tenham estrutura, pessoal e insumos. Não pode alguém sair lá da zona norte e ter que ir até a UPA, a 59, buscar um paracetamol – disse.
Sobre a segurança, Almansa projetou ampliar o cercamento eletrônico e investir na reestruturação da Guarda Municipal.
– Os concursos previam apenas ensino fundamental. Isso reduz o número de agentes que podem usar armas, e também os salários. Por mais que a Prefeitura compense com periculosidade, os funcionários perdem mais da metade do salário ao se aposentar – alertou, dizendo que a Guarda tem que ser uma “polícia cidadã, em contato com as comunidades nos bairros” e “integrada às polícias militar e civil”.
10. Combate a corrupção e ao toma-lá-dá-cá com políticos
Almansa projeta a criação da Controladoria Geral do Município, para fiscalizar processos e compras da Prefeitura.
– Com o histórico de corrupção dos últimos tempos, precisamos fiscalizar. Em meu governo apenas funcionários de carreira serão responsáveis pelas compras públicas – disse, também prometendo o fim do ‘toma-lá-dá-cá’ de cargos em troca de apoio político.
– Não teremos indicação de vereador coordenando posto de saúde ou cargos que necessitem de técnicos. Reafirmo: entrei na Câmara pela porta da frente e assim quero chegar à Prefeitura, sem rabo preso.