RAFAEL MARTINELLI

Nova Secretaria é aposta de Zaffa para enfrentar apagão de mão de obra em Gravataí

Prefeito Zaffa e futura secretária Mari Léia Bastiani

A Câmara de Vereadores de Gravataí aprovou, nesta terça-feira, a criação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Capacitação, principal aposta do prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) para combater a escassez de mão de obra qualificada na cidade. A medida, que integra a reforma administrativa pós-reeleição, prevê a abertura de 11 cargos comissionados (CCs) e 22 funções gratificadas (FGs), com custo estimado em R$ 1,6 milhão em 2025.

Dia 3, Zaffa já tinha antecipado ao Seguinte: a ideia de criar a secretaria; leia em Plano Diretor, obras anti-enchente, novo hospital, licitação do transporte coletivo e mão de obra: os desafios do início do ano legislativo em Gravataí.

A nova secretaria terá como missão central capacitar servidores públicos e a população para o mercado de trabalho, com ênfase em grupos vulneráveis (jovens, mulheres, pessoas com deficiência) e setores estratégicos como logística e tecnologia.

Entre as atribuições estão oferecer cursos alinhados às demandas locais (ex.: operação de robôs industriais, área com déficit destacado pela GM); firmar parcerias com empresas, SENAI e entidades como Acigra e Sindilojas e promover reinserção profissional de desempregados.

Zaffa justifica a iniciativa com dados alarmantes: metade das mais de mil vagas ofertadas em cada uma das feiras de empregabilidade organizadas pela Prefeitura não são preenchidas por falta de qualificação.

– Gravataí é um polo logístico, mas empresas como Magazine Luiza precisam ‘caçar’ profissionais até em cursos recém-iniciados – alertou ao Seguinte:, exemplificando com curso do Senai de Gravataí para operadores de empilhadeira que teve todos os 20 alunos contratados pela gigante do varejo antes mesmo da conclusão da formação.

– Aos 14 anos me formei eletricista industrial na Escola Técnica de Pelotas e nunca mais precisei procurar emprego. O emprego me procurou. Hoje ainda é assim. Há mais procura que demanda de eletricistas, de hidráulicos, em Gravataí – acrescentou, citando também a necessidade de formação tecnológica.

O prefeito usa exemplo de robô doado pela GM à Prefeitura, hoje instalado em espaço cedido pelo Sinodal.

– A GM diz que demora um ano para formar um operador de robô na linha de produção.

Mari Léia Bastiani é a secretária

A atual chefe de gabinete do prefeito Mari Léia Bastiani assumirá a secretaria, como o prefeito antecipou ao Seguinte:.

A pedagoga pós graduada em gestão de pessoas tem décadas de experiência em recursos humanos e capacitação empresarial.

– Em meu primeiro emprego após formada, em 83, fui pioneira ao criar uma escola para os funcionários na Albarus, num momento em que chegavam novas tecnologias – lembrou ao Seguinte: Mari Léia, que também foi professora de pedagogia empresarial na Ulbra.

– Entro nas empresas e encontro muita gente formada por mim que relata dificuldades com mão de obra. Como vice-presidente da capacitação da Acigra, ouvi o mesmo de empresários. Ano passado falei com o prefeito que precisávamos de um projeto de governo para enfrentar isso. Está aí a nova secretaria – observou.

A Secretaria funcionará no antigo prédio da RGE, não vendido em leilões.

– Não basta atrair empresas; precisamos preparar gravataienses para ocupar essas vagas – concluiu Zaffa.

O apagão na mão de obra

O problema não é exclusivo de Gravataí. Dados da CNI revelam que 67% das indústrias brasileiras enfrentam dificuldades para contratar, especialmente em TI, automação e saúde.

No RS, 58% das empresas gaúchas relatam o mesmo desafio, segundo a FIERGS.

A cidade, porém, vive um paradoxo: enquanto falta qualificação, o setor imobiliário registra R$ 2,3 bilhões em investimentos privados (2021-2023), com 2.940 alvarás de construção emitidos – incluindo condomínios verticais e centros logísticos.

O fenômeno ocorre mesmo em um momento em que o desemprego no Brasil tem a menor taxa da série histórica medida desde 2012.

Oposição critica prioridade

Vereadores de oposição criticaram a prioridade dada pelo governo para criação de uma nova secretaria.

– A votação em regime de urgência acontece num momento em que ainda não foi instalada mesa de negociação para data-base dos servidores municipais – disse Vitalina Gonçalves (PT), que também é presidente do sindicato dos professores (SPMG), argumentando que o funcionalismo recebeu apenas a reposição da inflação e, conforme ela, contabiliza perdas de 25% nos salários.

A parlamentar foi a única a votar contra.

Alison Silva (MDB) também questionou a pressa na aprovação.

– Cadê a preocupação antes do Carnaval com a duplicação da ERS-020? – exemplificou, citando também o atraso na inauguração do Mercado Público, e avaliando a secretaria como “esvaziada em suas funções”.

O vereador se absteve, assim como o restante da bancada do MDB: Airton Leal, Aureo Tedesco e Claudecir Lemes.

Votaram a favor Bombeiro Batista (Republicanos), Roger Correa (PP), Bino Lunardi (PSDB), Alex Peixe (PSDB), Marcia Becker (PSDB), Mario Peres (PL), Evandro Coruja (PP), Fábio Ávila (Republicanos), Anna Beatriz da Silva (PSD), Dilamar Soares (Podemos), Carlos Fonseca (Podemos), Paulinho da Farmácia (Podemos), Guarda Moisés (Republicanos), Hiago Pacheco (PP) e Claudio Ávila (União Brasil).

Analiso.

Não, não vou chamar de ‘bonde dos cargos’ a reforma administrativa de Zaffa que, com os 15 cargos criados em 2024 e 11 em 2025, além das 22 FGs, faz com que Gravataí tenha hoje 294 CCs e 232 FGs entre os quase 5 mil funcionários ativos e inativos.

Em Cachoeirinha, assim descrevi a criação de cargos na Prefeitura na Prefeitura e na Câmara, porque o município enfrenta um interminável desequilíbrio nas contas públicas.

Gravataí investe 40,16% na folha. Cachoeirinha está próxima ao limite de 54% da Lei de Responsabilidade Fiscal. A capacidade de investimento de Gravataí nos últimos quatro anos também foi dez vezes maior que Cachoeirinha.

Nada mais desigual do que tratar da mesma forma os diferentes.

Guardo eventuais críticas para a funcionalidade da secretaria. E, para fazê-las, é preciso esperar para ver como a bonita idéia será aplicada na prática. Com 51,2% dos votos, o que lhe garantiria uma reeleição em primeiro turno, o prefeito tem legitimidade para estruturar seu governo e fazer suas apostas. Assim como vereadores de oposição tem o direito de criticar.

Ao fim, aguardemos. Inegável é que o problema da falta de mão de obra existe. E Zaffa tenta uma solução.


Assista abaixo ao debate entre os vereadores

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Eles não usavam batom

O Globo analisou os processos dos 1.586 manés e terroristas alvos de ações penais no Supremo pelo 8 de janeiro. Esse é o perfil médio, resumido pelo próprio jornal: homem

Leia mais »

Receba nossa News

Publicidade