de brasília

O ABATE DE TEMER | Jones e Stédile, testemunhas da crise

Jones e Stédile na Câmara Federal, em Brasília

Conversamos com os deputados federais de Gravataí e Cachoeirinha, que vivem no epicentro a crise que está abatendo o governo Temer

 

Jones Martins conversava com Rodrigo Maia quando o presidente da Câmara Federal recebeu uma ligação avisando sobre a delação-bomba do frigorífico JBS que colocou a República do Jaburu a caminho do abate. A poucos metros, também no plenário José Stédile recebia um WhatsApp avisando sobre o início do fim do governo Michel Temer.

Os dois deputados federais, um de Gravataí, outro de Cacheirinha, um do PMDB, outro do PSB, um governo, outro mais oposição do que qualquer coisa, um defensor, outro um crítico ferrenho das reformas, tornaram-se testemunhas e, cada um em seu tamanho, protagonistas de mais um capítulo tenebroso da história do Brasil.

A sessão foi suspensa e Jones, afilhado político de Eliseu Padilha, o número 1 do governo Temer, e portanto com portas abertas em Brasília, cruzou o Salão Verde e participou da primeira de tantas reuniões, que se estenderam madrugada adentro e seguem pela tarde de hoje.

Com o presidente, não falou. Mas ouviu relatos de que Temer, com a tradicional cara de paisagem, dizia estar tranquilo, admitia o encontro com os executivos da JBS Joesley e Wesley Batista, mas negava a negociação de quase meio bilhão de reais pelo ‘cala-boca’ no malvado favorito Eduardo Cunha.

Entre os políticos, a surpresa pela ingenuidade do presidente, político experimentado, receber um empresário que, nos bastidores sabia-se envolvido em suspeitas de corrupção.

– Há um movimento junto ao Supremo Tribunal Federal para que as gravações, caso existam, sejam liberadas. O país não pode ficar parado, sangrando – informou Jones, minutos atrás, ao Seguinte:, relatando sobre as teorias de conspiração que ventam secas pela capital federal.

– A JBS cresceu muito nos governos de Lula e Dilma. Mas, armação ou não, é grave e precisa ser investigado – observa, relatando que teve “vontade de vomitar” ao sair do plenário e ver a comemoração de lideranças do PT e da oposição.

– Quem vai pagar é o Brasil. Estávamos em recuperação, com juros caindo, inflação controlada e retomada de empregos. Arriscamos entrar num ciclo histórico de empobrecimento. Há como comemorar mais gente entrando na pobreza, sem emprego, mais insegurança? – questiona, admitindo que a monstruosidade da crise deve parar as reformas trabalhista, que está no Senado, e da Previdência, que estava próxima à votação.

– Já eram reformas impopulares, conduzidas por um presidente que, pela sua coragem em fazer o que é necessário, sofria com a impopularidade. Se a denúncia de O Globo se confirmar, será difícil reaglutinar as forças. O que posso dizer é que o momento é de indefinição e recomenda cautela.

Mas, e a possibilidade de, como suplente, perder o mandato caso o governo caia e o ministro Osmar Terra retorne à Câmara?

– De coração: isso é o que menos me preocupa. É bom para a cidade ter um deputado, mas com essa crise catastrófica, é com a economia, com o bolso das famílias, que devemos nos preocupar – resumiu, rapidamente, antes de entrar em uma reunião com políticos do governo, pedindo para não falar ainda sobre as alternativas de renúncia, impeachment, eleição indireta, direta ou até mudança para o parlamentarismo, sistema político do qual é um entusiasta.

 

Entre os Bala na Cara e os Manos

 

De seu jeitão, José Stédile ilustrou há pouco ao Seguinte: seu sentimento de hoje na terra dos candangos.

– Me sinto entre os Bala na Cara e os Manos, duas quadrilhas que agiam juntas e brigaram pelos pontos de tráfico e o dinheiro dos roubos.

O deputado defende a renúncia imediata de Temer.

– Não tem mais a mínima condição moral de comandar a nação – diz, relatando que a saída espontânea do presidente é praticamente descartada nas informações que chegam ao Congresso vindas do Planalto.

– Renunciando Temer perde o foro privilegiado. Pode ser preso – resume Stédile, que defende a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional para a realização de eleições diretas para Presidência e também para a Câmara Federal e o Senado.

– Ninguém terá legitimidade se não for escolhido pelo povo. E esse Congresso está viciado, com mais de mil parlamentares financiados pela JBS e a Odebrecht – critica, orgulhando-se por, em suas palavras, estar em uma lista que teria circulando indicando “os 40 inegociáveis” da Câmara.

Stédile aposta que Temer enfrentará o impeachment.

– Ele tem maioria, como a Dilma tinha. Mas com a pressão das ruas, a cassação será inevitável. Só que vai demorar até o fim do ano – calcula, torcendo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acelere o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo suposto uso de caixa 2 na campanha de 2014.

Nem Jones, nem Stédile retornam para Gravataí e Cachoeirinha nesta quinta. Talvez testemunhem o novo presidente ser apeado do poder por renúncia, impeachment ou golpe de estado entre os 35 chefes da nação nos 127 anos de história republicana brasileira.

 

Assista vídeo gravado por Stédile direto da Câmara

 

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