RAFAEL MARTINELLI

O apenado salvou o cão aprisionado na inundação. Ele é estudante de veterinária; As histórias da unidade animal de Gravataí são para contar no Fantástico

O pit-lata, quem sabe bravio, é encontrado por um barco, amarrado, magro, por trás de muro de madeira, em meio à inundação do ‘Grande Rio da Região Metropolitana’, que afoga Porto Alegre, Canoas, Gravataí, Cachoeirinha e vizinhos destruídos, como Eldorado do Sul. O resgatista caminha sobre madeiras que bóiam e acalenta, ao atingir o animal:

– Te deixaram pra trás, véio?

Ao fim deste artigo reproduzo o vídeo do cão – que em circunstâncias normais se recomendaria cuidados ao aproximar – sendo carregado no colo para o caminho da terra firme.

Quem salvou mais uma vida, e tem na sua contagem mais de duas centenas em 7 dias, também é alguém que muitos recomendariam distância.

É um condenado a 6 anos, por tráfico de drogas, comércio no qual se envolveu para manter sua pequena lancheria recebendo clientes durante a pandemia da covid.

– Como levam embora o celular e não um cão, uma vida? – pergunta, ao Seguinte:, o ex-apenado, que hoje trabalha na unidade de saúde animal de Gravataí, que, após resgatar todos os animais que achou pelo caminho no município, salva bichos em toda Grande Porto Alegre até que peçam o barco de volta.

Esse cara não vai ter nome.

– Tenho vergonha – apela.

Prometi não expô-lo, apesar de pilhar para que conte sua história e heroísmo no meio da catástrofe, em vídeo, de viva voz, porque é um exemplo.

O nosso herói anônimo cumpria pena e a esposa que viajava 9h para visitá-lo o inscreveu no Enem. Sem acesso a livros, ingressou em Medicina Veterinária, que começou a cursar, enquanto trabalhava na unidade de saúde animal de Gravataí, por ter sido incluído em programa de ressocialização da Susepe.

Ao fim, com 27 anos de jornalismo, não tenho dúvidas de que é reportagem para aparecer no Fantástico, se esse funcionário público quiser expor sua história. Antes da catástrofe, professores da faculdade já tentavam convencê-lo a superar a ‘vergonha’. Assim como colegas da USAG, a unidade de saúde animal de Gravataí.

Se alguém não entendeu, ele só quer seguir estudando, como alguém ‘normal’. Enquanto, também anonimamente, salva animais abandonados para morrer, ou deixados para trás por gente que, possivelmente não por maldade, mas por sobrevivência, salvou sua vida antes do afogamento.

É a ‘Escolinha da Márcia’, a vereadora Márcia Becker, a vereadora da causa animal de Gravataí, a grande mentora da USAG, que tem apoio do prefeito Luiz Zaffalon.

E, enquanto políticos forçam para marcar digitais, dna, em doações, o ‘herói anônimo’ que pilota o barco, a vereadora e a chefe da unidade de saúde animal, a veterinária Jessica Lumertz, não querem aparecer.

Márcia Becker não quis dar entrevista. Não quer que o trabalho que reputo único seja confundido com política, no ano eleitoral.

Mas eu mostro.

Assistam ao vídeo, que mostra o resgate do cão condenado, que refiro na abertura do artigo, e também de DOIS CAVALOS que estavam no segundo andar de residência.

Gravataí também tem seus CARAMELOS.

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