Quando do rompimento entre o prefeito Luiz Zaffalon e o ex-prefeito Marco Alba, que tinha sido seu ‘Grande Eleitor’ em 2020, criei a expressão III Guerra Política de Gravataí, Zaffa x Alba: a I Guerra fora Abílio x Oliveiras e a II Bordignon x Stasinski. A crítica ao atraso de quatro anos na entrega do Complexo de Educação Especial Irmã Soledade, obra que perpassa governos dos dois políticos, explode agora em mais uma batalha dessa III Guerra, a primeira pós-período eleitoral.
Enquanto a deputada estadual Patrícia Alba acusa o governo Zaffa de negligência, o governo Zaffa devolve a responsabilidade ao governo Marco por erros no projeto que teriam como conseqüência o atraso, além de mais que dobrar o custo da obra.
Pelo que o Seguinte: apurou com exclusividade, a obra de 3.153 metros quadrados de área construída, que foi licitada ainda em 2019 com previsão inicial de conclusão em 2021, será retomada na próxima semana e entregue no semestre seguinte, a um custo que subiu de R$ 8 milhões para R$ 20 milhões
– O prefeito Zaffa costuma dizer que é um case de como não se fazer uma obra pública – diz a secretária municipal da Educação, Aurelise Braun, sobre o Complexo localizado na rua Divinéia, no bairro Aliança, projetado para 120 alunos com deficiência e capacidade de atendimento médico e psicológico para mais de 2 mil estudantes da rede municipal que necessitam de suporte especializado.
A polêmica foi rediviva após a deputada estadual Patrícia Alba (MDB) receber representantes do Movimento Extraordinário Pró-Inclusão (MEPI) e da Comissão de Mães da Escola Municipal Mercedes Helena Vicentini. As mães denunciaram falta de infraestrutura básica na unidade que acolhe temporariamente 110 estudantes: rede elétrica inadequada, salas sem ar-condicionado e pouco arejadas, alagamentos frequentes, ausência de saídas de emergência e de espaço coberto para atividades externas.
– O governo municipal tem sido negligente com essas famílias. O descaso com a entrega do Complexo Irmã Soledade e as péssimas condições da Escola Mercedes mostram que essa gestão não prioriza a inclusão e o bem-estar dessas crianças. Vamos cobrar explicações formais e pressionar para que essa obra seja concluída o quanto antes – diz a deputada, que preside a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa e prometeu incluir o tema na pauta do colegiado.
– A atual administração municipal justifica a demora alegando um suposto “erro de projeto”. No entanto, em quatro anos, não resolveu a questão, permitindo que os custos da obra dobrassem e os prazos fossem constantemente adiados. O último prazo anunciado, março de 2025, já foi ultrapassado e adiado para agosto de 2025, mas a previsão de nova data não dá segurança aos pais de que realmente irá se concretizar – completa Patrícia, que no tapetão da III Guerra advogou em ação que pedia a cassação do prefeito por abuso de poder econômico e político durante a campanha eleitoral.


Já a secretária da Educação identifica um “movimento político” nas críticas.
– As crianças estão em instalações melhores que antes. No Cebolinha, esgoto subia pela quadra, por exemplo. É feio usar alunos especiais para guerra política – diz a ex-diretora de escola, que ocupa desde 2023 a secretaria onde foi travada uma das primeiras batalhas que levaram ao rompimento entre prefeito e ex-prefeito.
A secretária atribui o atraso na entrega do Complexo a “erros graves no projeto original”, licitado pelo governo Marco, como problemas de planta, solo, fundação, acessibilidade e a falta de previsão para uma subestação de energia (necessária para climatização). Além disso, a pandemia e as enchentes de 2024 teriam agravado a situação.
Os custos, inicialmente estimados em R$ 8 milhões, já ultrapassam R$ 16 milhões, com previsão de mais R$ 4 milhões para conclusão, conforme Aurelise, que informa que a Prefeitura vai precisar usar recursos do caixa municipal para finalizar a obra:
– 85% do investimento será com dinheiro próprio, já que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) não cobre tudo – diz, informando que o governo busca meios legais de incluir orçamento da Saúde na manutenção do centro, que além dos 120 alunos especiais (Escola), também terá atendimento na área para cerca de 2 mil outros alunos da rede (Centro de Atendimento Educacional Especializado).
– Terminamos cinco das oito escolas de educação infantil abandonadas pela gestão de meu antecessor. O Irmã Soledade ainda não conseguimos, tantos eram os erros em um projeto de R$ 8 milhões que vai custar 20 milhões. Explicar um erro deste tamanho leva algum tempo, mas acertamos tudo e vamos terminar – promete o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB), referindo-se a informações que prestou a órgãos de controle, como o Tribunal de Contas do Estado.
Ao fim, após a deflagração da III Guerra Política de Gravataí e a batalha eleitoral de 2024 que teve Zaffa como vencedor, é o primeiro enfrentamento público entre os dois grupos políticos. Menos mal que é por uma causa nobre.