“Na verdade, o Banco Central brasileiro é o lugar da corrupção real neste país”. Compartilhamos o artigo do escritor Jessé Souza, publicado pelo ICL Notícias
Lula criticou duramente o que chamou de politização do Banco Central sob Campos Neto. Com isso ele problematizou o absurdo da assim chamada “autonomia do Banco Central”, como manda a cartilha neoliberal de nomear as coisas pelo seu exato contrário. Lula está certo e não existe questão mais importante no Brasil de hoje. O Banco Central decide sobre juros e sobre todos os preços que serão aplicados na economia. Ou seja, o poder do presidente do Banco Central – tornado “autônomo”, ou seja, independente da soberania popular e dependente dos bancos – só é comparável ao poder do presidente da República.
Só que ninguém elegeu Campos Neto para este cargo tão importante. Ou melhor, ele foi eleito por seus próprios pares do setor banqueiro, onde já atuava, para exclusivamente defender os interesses escusos dessa meia dúzia que detém toda propriedade. Isso mostra como o capitalismo financeiro mundial é na verdade articulado pela soma dos bancos centrais que tudo decidem em termos econômicos às expensas da soberania popular. É na acepção da palavra um esbulho da soberania popular e da ideia revolucionária e democrática de que todo povo tem o direito de se autorreger.
Mas, aqui, entre nós, como sempre, é tudo ainda muito pior. Porque a taxa de juros na Europa e nos Estados Unidos é baixíssima e amiga do investimento em negócios reais. Ou seja, o sistema bancário ainda cumpre sua função de dinamizar a economia e levar dinheiro e apoio a quem quer empreender. Esse não é o nosso caso, com uma taxa básica de dois dígitos. Não há nenhum negócio, a não ser se você traficar drogas, com esta mesma rentabilidade. Assim a dívida pública se transforma em esbulho da população.
Os juros escorchantes no nosso país assaltam e saqueiam a população de duas maneiras: primeiro permite a gigantesca transferência pura e simples de dinheiro da população assim endividada para a meia dúzia que mandam nos bancos. Em toda compra que o cidadão faz está embutido o juro absurdo, que permite o enriquecimento desse baronato improdutivo sem desenvolver qualquer trabalho real. Em segundo lugar, por meio de uma dívida pública que consome boa parte do orçamento público que deveria ir para educação e saúde, mas que é desviada para o bolso da mesma turma já citada há pouco.
Quem paga uma dívida que ninguém sabe qual foi a contrapartida nem a quem se deve? Ninguém, só a população brasileira. A auditoria que Getúlio Vargas fez na dívida pública permitiu corrigir fraudes de modo a que ele pudesse investir em infraestrutura no seu governo. De lá para cá, nunca mais houve auditoria. O Equador fez uma no passado recente e foi constatado que 70% era fraude, ou seja, dívida privada transformada por debaixo do pano em pública. O mesmo povo que manda no Banco Central é quem está por trás deste gigantesco esquema de corrupção. Quem estuda a dívida brasileira afirma que a fraude supera os 90%.
Na verdade, o Banco Central brasileiro é o lugar da corrupção real neste país. É assim que devemos chamá-lo. Uma corrupção que ninguém chama de corrupção, porque toda a imprensa está nas mãos dessa mesma ínfima elite. O principal dispositivo de poder é precisamente se tornar invisível e apontar qualquer outro como causador dos problemas e da miséria. Entre nós, é própria política que ocupa este lugar. Desse modo desvalorizada, a política pode ser ainda mais facilmente comprada pelos donos reais do BC: Campos Neto e seus amigos. É para isso que serve a “autonomia do Banco Central”.