Na votação da extinção do Ipag Saúde, o que vai acontecer depois do galo cantar três vezes, não é possível prever com certeza nas escrituras. Mas os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos pré-concebidos, permitem desconfiar que o prefeito Marco Alba (MDB) pode ser surpreendido com votos contrários dentro da base do governo.
Já tratei do primeiro indício no artigo Bombeiro, o voto ’Acorda Gravataí’ no Ipag Saúde? Como prefeito pode perder, onde levantei no Seguinte: dúvidas sobre o voto de Bombeiro Batista (PSD), vereador da base do governo que tem como seu ‘Olavo de Carvalho’ Odair Goulart, professor municipal que faz selfies nas assembléias do funcionalismo e é beneficiado pelo plano de saúde que atende cerca de 10 mil servidores ativos, inativos, pensionistas e familiares.
Sei também que já chegou ao prefeito o alerta de outro vereador da base que disse se considerar liberado para também votar contra caso os 12 governistas não enfrentem unidos o desgaste junto aos professores e demais servidores da educação.
Fato é que um ‘Beijo de Judas’ político ganhou o painel eletrônico da Câmara na manhã desta Quinta-Feira Santa, em uma sessão que parece antecipar uma Santa Ceia onde os 12 apóstolos de Marco não dividem mais o pão e o vinho em perfeita comunhão.
Bombeiro votou com a oposição em uma matéria que é cara ao prefeito. O voto não foi suficiente para a aprovação, mas o “sim” apareceu em verde no placar em cima da foto de Bombeiro Batista na votação de um pedido de audiência pública para tratar de problemas de infraestrutura no Breno Garcia, maior loteamento popular Minha Casa, Minha Vida, do Sul do Brasil, que já recebe mais de mil, das duas mil famílias reassentadas de áreas alagadiças e de risco – e, uma ‘cidade dentro de Gravataí’, é uma das principais obras do governo.
Detalhe: o mesmo requerimento apresentado por Dimas Costa já tinha sido derrubado há cerca de um mês com 12 votos – Bombeiro entre os apóstolos.
Na sessão desta quinta, Dimas explicou na tribuna que reapresentou o requerimento porque tinha o compromisso de voto favorável de Bombeiro e acreditava que o recuo do parlamentar sensibilizasse outros vereadores da base do governo.
Dimas até pode estar preocupado com os residentes no Breno, o que é bem possível, já que ex-moradores da Amapá, que são seus eleitores, agora moram lá, mas o hábil oposicionista também sabe que uma audiência pública é um baita palanque para quem é candidato a prefeito transformar coisa boa em coisa ruim. E o Breno é uma grande coisa.
Aí, politicamente, seja de caso pensado ou não, também Dimas deu um selinho de iscariotes em Bombeiro.
Como os colegas de base de Bombeiro vão reagir, ou como Marco Alba interpretará a rebeldia do apóstolo, só os políticos sabem. Pelo menos hoje não adiantou o apelo do líder do governo Alex Tavares (MDB) para que os governistas votassem unidos contra a proposta de Dimas.
Se o ‘Beijo do Judas’ antecipa a morte do PL 19, testemunharemos em maio, quando acontecerá a votação. Com 11 votos, o plano de saúde restará extinto. Talvez ao custo dos soldados que o militar rebelado tem indicados na Prefeitura.
Na política, se assim não for, o general perde o comando exército, vira anarquia.
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