opinião

O beijo gay e o exemplo de Gravataí; seja conservador, mas não seja burro

Festa dos premiados no Festival Estadual de Teatro, no Sesc de Gravataí

O Premio Moliére dou para o conjunto da obra, no Festival Estadual de Teatro de Gravataí: Prefeitura, Sesc, atores, público, políticos e sociedade.

Por que escrevo só agora sobre a festa que, entre 27 e 30 de agosto, premiou 27 grupos e levou ao teatro 6 mil espectadores (superando os 5 mil do ano passado), a maioria crianças e adolescentes de escolas principalmente da periferia?

Motivam-me os eventos dos últimos dias, onde governantes e políticos experimentaram ‘naturalizar’ a censura, no caso dos quadrinhos da Bienal do Livro no Rio de Janeiro e na exposição gráfica ‘Independência em Risco’, na Câmara de Porto Alegre.

Já Gravataí fez seu festival e nenhuma malandragem atrapalhou.

Uso o substantivo porque há método nas ações do prefeito Marcelo Crivella, no Rio, e da presidente da Câmara Mônica Leal, em Porto Alegre. Tem sido prática eleitoreira Brasil afora, invariavelmente proveniente de políticos impopulares, ou de popularidade a qualquer custo, usar do medo e da desinformação das pessoas para espalhar fake news e difundir preconceito e obscurantismo sob o disfarce do conservadorismo – e uma coisa é uma coisa, e vice-versa.

Liberal na economia e conservador nos costumes é uma jaboticaba brasileira, ao menos entre os sapiens do Grande Tribunal das Redes Sociais algo próximo do ‘pobre, rico ou remediado preconceituso’.

“Fato gravíssimo”, disse, sobre a proibição do HQ 'Vingadores, a cruzada das crianças', da Marvel, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo. Tanto que o STF, que em junho deste ano já reconheceu homofobia como crime, levantou a censura teocrática imposta pelo prefeito do Rio em uma vergonhosa marcha da insensatez protagonizada pela ‘Secretaria da Ordem Pública’ cassando livros e evocando a lembrança asquerosa do Bücherverbrennung hitlerista.

Por que beijo hetero pode e homo não? Simples assim. Onde está a pornografia? Como bem lembra vídeo do sensacional Meteoro, que reproduzo ao fim do artigo, nas fábulas até sapo ganha beijo!

Voltando à aldeia, o Festival foi questionador e politizado como a arte deve ser. ‘Doutrinação comunista’, como chucros gostam de chamar, muito jamais espectadores de alguma peça de teatro e no máximo leitores de livros de auto-ajuda – pedir a leitura da Bíblia, por obvio, é demais.

O vencedor foi 'Nosso estado de sítio'. Teve até a montagem 'Olga', sobre a revolucionária Olga Gutmann Benário Prestes!

Ao contrário da Feira do Livro, toda bancada pela – olha o palavrão pornográfico! – Lei Rouanet, o Festival foi custeado com dinheiro público, num pacotão de R$ 45 mil com o Sesc que inclui também o Festival de Teatro Estudantil (Festil), que ocorre em novembro, o Festival de Música, realizado em agosto e o fechamento das oficinas de teatro, em dezembro próximo, incluso equipamentos, premiações e gratificações para jurados.

– A cultura tem o papel de reflexão. Não fizemos nenhuma censura. Arte é para isso, é liberdade de expressão. Se abordou bullying, desigualdade, democracia e muita História – resume Fernanda Fraga, secretária de Cultura, que testemunhou a secretária adjunta do Estado Carmem Langaro e o diretor do Instituto de Artes Cênicas do RS Rubinho Oliveira aplaudir maravilhados o festival.

E, como arte não vive só de palmas, anunciar a abertura de um edital estadual onde Gravataí pode receber Reais, além de reconhecimento, nos próximos anos.

Ao fim, escrevo com o objetivo de valorizar toda a metafísica do Festival. Nos artigos  Vereadores de Gravataí legislam até sobre conteúdo libidinoso e Agora é lei proibição de menores, mesmo com pais, em certas exposições, já critiquei quando a Câmara aprovou e o prefeito sancionou lei originária do vereador evangélico Alex Tavares, que versa sobre exposições artísticas, após a polêmica da 'Criança Viada' do Queermuseum.

Hoje, elogio.

Antes que milícias digitais gastem as teclas digitando ‘c-o-m-u-n-i-s-t-a’ ou ‘p-e-t-r-a-l-h-a’ para Marco Alba e Fernanda Fraga, o prefeito é um político do MDB, um partido de centro, e a secretária é do DEM, sigla de centro-direita. 

Em dezembro do ano passado, conclui assim o artigo Seja conservador, mas não seja burro, sobre a Feira do Livro de Gravataí.

 

“Seja punk, mas não seja burro”, dizia nos anos 80 a música dos gaúchos do Replicantes.

“Seja conservador, mas não seja burro”, daria hoje um bom refrão.

Nem a arte, nem a burrice são monopólios da esquerda ou da direita.

Pelo contrário, em muitos pontos obscuros da ferradura as milícias de um lado ou de outro se encontram”.

 

Parabéns a todos que não deixam-se ferrar.

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