Candidato a prefeito de Cachoeirinha pelo bolsonarista PSL, o delegado João Paulo Martins escreve artigo sobre o tão condenado fundo eleitoral para as eleições de 2020.
Percebam: é um texto SOBRE, e não CONTRA.
Siga na íntegra e, ao fim, comento.
“(…)
Recentemente (17/1) o Presidente sancionou a Lei que definiu os valores a serem utilizados pelos partidos na próxima eleição (Fundo Eleitoral) municipal. Muitas controvérsias cercam o uso de recursos públicos para fins eleitorais e chegou a ser cogitado o veto presidencial, que só não aconteceu por receio às implicações junto ao Congresso.
Não sou favorável ao gasto dos minguados recursos públicos com campanhas eleitorais. Dois bilhões de reais seriam muito mais úteis à sociedade se aplicados em hospitais e escolas, ou mesmo na construção de presídios seguros. Mas em se tratando de eleições, em cujas mãos dos eleitos é colocado o futuro de uma nação, penso que temos que fazer uma reflexão bem profunda antes de adotar uma posição.
Nos últimos governos, em nível nacional, vimos as economias de nosso povo serem saqueadas por políticos que foram eleitos sem Fundo Eleitoral, com “financiamentos” generosos patrocinados por empreiteiras ou por instituições suspeitas, todas com motivações nada republicanas.
O resultado foi o que assistimos: corrupção desenfreada, empresas públicas saqueadas, evasão de recursos com “doações” de muitos bilhões de reais aos “cumpanheiros” de países ideologicamente alinhados, tudo isto representando compromissos que obrigatoriamente devem ser honrados pelo combalido Tesouro Nacional. O preço disso foi a recessão, o desemprego o subdesenvolvimento e o comprometimento das receitas, o que afetará as próximas gerações.
Neste contexto eu sou forçado a me posicionar e o faço, como sempre, pensando no interesse público. Qual é o sistema menos prejudicial à sociedade? Partindo da premissa de que são necessários recursos para se fazer campanha, sou favorável ao sistema que for mais transparente e confiável, de modo a possibilitar a eleição de pessoas também transparentes e confiáveis, que nada tem a ver com o volume de recursos de que dispõe.
Até pelo contrário: aquele candidato que mais recursos tem ao seu dispor é também o que mais facilmente poderá se promover e lograr êxito na eleição, independentemente de sua qualificação. A utilização de recursos do “fundão” irá possibilitar que candidatos pobres e desconhecidos possam disputar as eleições com maiores chances de sucesso.
Por outro lado é utópico esperar que algum candidato se autofinancie, gastando recursos que nunca irá se ressarcir com o salário normal do cargo pretendido, apenas por altruísmo. Somos forçados a desconfiar de suas verdadeiras intenções.
Concluindo a análise, tendo que optar entre as diversas alternativas de financiamento de campanha, principalmente ao confrontar os modelos atual e antigo, sou favorável a dar mais uma chance ao Fundo Eleitoral. São recursos significativos sim, porém, se através deles for possível eleger 57.736 vereadores e 5.570 prefeitos (em todo o Brasil) mais qualificados e livres dos “compromissos” com os tradicionais patrocinadores de campanha, será um ótimo investimento no futuro.
(…)”
Analiso.
João Paulo não faz o tipo ‘tiozão do churrasco’. Já tratei sobre sua candidatura em artigos com convergências e divergências, como Bolsonarismo está vivo, diz presidente do PSL; Prefeitura de Cachoeirinha é prioridade, Moderado é candidato a prefeito do bolsonarismo em Cachoeirinha, Outsider candidato a prefeito pelo PSL já foi CC do prefeito Vicente; ’nova política’ é fake news e Razões para criticar o prefeiturável bolsonarista de Cachoeirinha.
E o delegado, diferente do estilo diário do Talkey Show da porta do Palácio do Planalto, nunca xingou a mãe de jornalista e sempre manteve uma postura democrática frente a críticas.
Sobre seu texto deste domingo, elogio e critico.
Inegável a coragem de João Paulo, já que políticos estão se escondendo do tema. É o ‘outsider’, aquele que já foi secretário municipal, mas nunca concorreu, quem apela por uma reflexão sem demagogia.
Não é fácil pedir isso. E possivelmente o delegado seja metralhado no ‘Grande Tribunal das Redes Sociais’. É óbvia a resposta se perguntar ao povo se prefere 2 bilhões para os hospitais, ou para campanha políticas. Mas é o custo da democracia. Infelizmente, com o caixa na mão dos de sempre, deputados e senadores que elaboraram a lei.
Acerta João Paulo ao alertar para a corrupção nos financiamentos de campanha, o que é uma realidade. Caixa 2 e política são siameses, sejam despercebidos, punidos com cadeia ou remidos com pedidos de desculpa e tatuagem. Certo também está ao advertir para os riscos do autofinanciamento de candidatos, invariavelmente com ‘sócios ocultos’ esperando para tomar o poder de assalto. Não há bobagem maior do que sonhar com vereadores sem salário, por exemplo. A não ser que a idéia seja segregar os pobres e os trabalhadores da política.
Só entendo que erra o delegado ao, travestindo-se de político, e usando da omissão como estratégia, ‘indiciar’ pelas relações promíscuas e tenebrosas transações apenas o outro lado da ferradura ideológica, ao escrever, entre aspas, ‘cumpanheiros’ – em uma referência ao PT. Oportunamente, esquece que, com fundo eleitoral, irregularidades na recente eleição presidencial também são investigadas, como por exemplo as fake news e disparos patrocinados de WhatsApp ‘não-contabilizados’ em prestações de contas de seu candidato, Jair Bolsonaro.
A história passada e recente mostra que a vigilância precisa ser eterna, seja com financiamento privado ou com o ‘fundão’, seja com ‘bolsominions’, ‘petralhas’ ou ‘isentões’ no poder.
Também não concordo com a narrativa whatsappiana de João Paulo de que a recessão e o desemprego são conseqüência da corrupção. É abominável o roubo do dinheiro público, mas isso é ‘troco’ no orçamento da União. Tanto é que o ‘remédio’ aplicado, Lava Jato para uns, Vaza Jato para outros, provocou um dano econômico bem maior do que o dinheiro repatriado.
São os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos. Dados do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostram que, entre 2010 e 2014 a economia brasileira cresceu 3,2% como média anual. Na segunda metade da década de 2010, já com a Lava Jato-Vaza Jato, o país regrediu em média, 1% ao ano. Com isso, o desempenho do PIB foi de apenas 1,1% como média anual nos últimos 10 anos.
Conforme o estudo, a Lava Jato-Vaza Jato impactou também nos setores metalomecânico, naval, construção civil e engenharia pesada, cujas perdas podem totalizar até R$ 142 bilhões. Essa perda fez o PIB cair 2% e 2,5%,em 2015 e 2016, respectivamente.
Neste período, a construção pesada fechou um milhão de postos de trabalho no país, o equivalente a 40% das vagas de emprego perdidas na economia.
Apresso-me a advertir que não faltarão desinformados, informados do mal ou analfabetos políticos a dizer que estou defendendo a corrupção. Apenas entendo, não por achômetro, mas empiricamente, que não se mata a doença envenenando o paciente.
Ao fim, parabéns a João Paulo por tratar de forma equilibrada de um tema tão usado como caça-cliques. O ‘fundão’ é o que temos para o momento. Quem tanto critica, poderia abrir mão. Recomenda-se à justiça eleitoral bastante atenção, caso isso aconteça. Campanha sem dinheiro é carro sem combustível.