RAFAEL MARTINELLI

O Bolsonaro 03 visitou Gravataí em meio a catástrofe. Com discurso politicamente malandro e perigoso; Assista

Eduardo Bolsonaro visitou ações voluntárias em Gravataí

Eduardo Bolsonaro passou por Gravataí. Diferente do pai, que durante tragédia das enchentes na Bahia, em 2021, se recusou a interromper as férias no litoral catarinense onde flanava de jet ski, o 03 navegou com sua máquina pelas inundações do ‘Grande Rio da Região Metropolitana’.

Na aldeia, visitou o Restaurante do Bem, onde voluntários já produziram cerca de 10 mil marmitas. Por chamada de vídeo, colocou o pai, então em uma cama de hospital tratando erisipela, para assistir ao convite para vir ao município comer um cordeiro assado.

Até que discreto, registre-se, em um vídeo filmado pela gravataiense Graciela Martins, o deputado federal por São Paulo se apresentou como “civil”. E cometeu discurso que reputo, além de politicamente malandro, perigoso. Que, aqui em Gravataí, constrange até barulhentos e silenciosos aliados.

Assista ao vídeo, leia o X de ontem do político e, abaixo, sigo.

“É o povo pelo povo”. “Estado grande só é pior para o cidadão, mesmo no momento de calamidade”. O ‘apito de cachorro’ foi soado pelo filho de Bolsonaro após a voluntária que gravou o vídeo dizer que nem a Prefeitura comandada por Luiz Zaffalon ou o governador Eduardo Leite apareceram por lá.

– Vou mostrar quem faz – disse, antes de apresentar a celebridade.

Terça, em Que a nossa solidariedade não seja conivente com os criminosos ambientais, escrevi, também listando no artigo o que estão fazendo governos municipal, estadual e federal, no maior programa de socorro já anunciado na história do Brasil, do tamanho da maior catástrofe climática que já tivemos:

Impopular, sei, mas preciso alertar: uma hora o “povo pelo povo” esgota as forças; ao fim deste artigo faço uma advertência sobre o “civil salva civil”.

Reputo governo – municipal, estadual e federal – é mais necessário do que nunca nas zonas de catástrofe do ‘Grande Rio da Região Metropolitana’.

Talvez por constrangimento, o Policial Evandro Coruja, o vereador bolsonarista-raiz de Gravataí, e amigo do clã Bolsonaro, não fez estardalhaço. Nem compartilhou a visita, pelo que pesquisei. Possivelmente porque a crítica restava, ao menos implícita, à suposta inoperância do governo Zaffa, que o gravataiense apóia e participa com cargos na Prefeitura.

Experimentando o sabor agridoce de ser governo em Gravataí e oposição nacional, em vídeo em seu Instagram, no qual insiste em usar a expressão “9 dedos”, usando uma deficiência física para se referir a um adversário político, e critica a politização no anúncio do pacote de auxílio por Lula (deveria o presidente convidar Bolsonaro para ser o ‘governador federal’?, questiono), o bolsonarista admite que, posto em prática – “o que duvido”, faz a ressalva – “são de extrema importância para mitigar o sofrimento do povo gaúcho”.

Quem curtiu o reels postado por Graciela Martins foi Alan Vieira (MDB), vereador que se apresenta como ‘afilhado político’ do ex-prefeito Marco Alba (MDB), Grande Eleitor de Zaffa em 2020 e hoje seu adversário político e eleitoral.

Publiquei no Seguinte: em Quando o ‘povo pelo povo’ cansar, a realidade se impõe: governos terão que manter abrigos, reconstruir e prevenir; O que Zaffa, Leite e Lula estão fazendo, artigo no qual associo-me ao jornalista Reinaldo Azevedo:

O que venho observando sobre o assunto — para além do atendimento aos desabrigados com dinheiro de emergência, medidas de crédito, providências para o adiamento do pagamento de impostos e da dívida do estado — parece anunciar que há uma disposição enorme em setores consideráveis do país para que se continue a fazer a coisa errada. Por que digo isso?

Deem uma passadinha nas redes sociais. Na seara política, sob o guarda-chuva do bolsonarismo, as mesmas forças, perfis e personagens que compuseram a frente negacionista durante a pandemia e manejaram o discurso golpista se dedicam agora a sabotar os esforços do Estado brasileiro, particularmente os do governo federal, no atendimento às vítimas das cheias. A notável mobilização da população do Estado tem sido manipulada e usada para a construção de um discurso ideológico rasteiro, sintetizado na expressão “civis salvam civis”, como se os órgãos estatais se quedassem na inércia.

Pior: em certos setores da imprensa, há uma adesão tácita a essa falácia por meio da espetacularização da tragédia, que se revela no par antitético “desastre/redenção”, tudo sempre em tom superlativo, subestimando-se, no mais das vezes, os trabalhos coordenados de assistência, inclusive os recursos federais da ordem de muitos bilhões. E olhem que essa é a versão benigna. Há a maligna: vigaristas na pele de colunistas atacam com mais afinco os que pretendem coibir as “fake news” — que prejudicam tanto os trabalhos de resgate como os de doação de dinheiro e víveres — do que aqueles que as propagam. É um lixo moral.

Ao fim, concluo como no artigo de terça: são diários os anúncios e esforços dos entes de estado. A frase “o povo pelo povo” pode ser bonita, e desinteressada, para a grande maioria dos voluntários, como Graciela, mas há uma realidade que se impõe.

Reduzir a importância dos governos só serve a aproveitadores políticos, que torcem pelo caos e o criam, com fake news, com objetivo de tirar a credibilidade das instituições democráticas e bagunçar ainda mais o país.

Por vezes, ainda mais em ambientes de convulsão social e em determinados territórios, “o povo pelo povo” pode ser uma senha para um faroeste, onde se rasga o contrato social e aí impera o “salve-se quem puder!” – invariavelmente, o mais forte, mesmo que por meios escusos.

Fato é que, além de ser o futuro executor das obras estruturais necessárias, de reconstrução e prevenção para que a catástrofe não se repita, é o ‘estado’ que será o responsável pelos flagelados quando voluntários cansarem, esgotarem seus recursos ou mesmo tiverem que reconstruir suas casas, negócios, ou cuidar de familiares atingidos.

A cobrança tem que ser feita sobre o ‘estado’, não a decretação de sua inexistência.

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