Depois de derrubar todas as árvores ao redor, um carvoeiro descobriu, por acaso, no meio do mato, um lindo pé de mangas cheio de frutas e já ia metendo o machado nele para transformá-lo em carvão, quando este falou.
– Alto lá, amigo! Devagar com o andor. Nessa sua voracidade em derrubar todas as árvores e destruir a natureza, você não poupa nem mesmo a mim que estou cheio de frutas deliciosas pra alimentar os pássaros e outros bichos?
– Tenho que fazer meu eu trabalho e ganhar meu pão, respondeu o carvoeiro irritado.
–E você não tem outro trabalho e outro meio de ganhar seu pão que não seja derrubando árvores, destruindo a natureza e ajudando a aumentar o aquecimento do planeta com a fumaça dos seus fornos de carvão? E tudo pra alimentar as malditas caldeiras das siderúrgicas que produzem ferro e aço para que se construam maismilhões de máquinas e automóveis poluidores do ar? Por acaso não sabe você que somos nós, as árvores, que temos que retirar o gás carbônico do ar que todos respiram, este mesmo ar que a fumaça de seus fornos, as queimadas das matas, as chaminés das fábricas e o escapamento dos automóveis vivem poluindo?
–Trabalho pra ganhar meu pão e ajudar o desenvolvimentodo meu País. E de mais a mais, uma árvore a mais ou uma árvore a menos, não vaifazer muita diferença. E chega de papo furado. Dá licença.
E o carvoeiro já ia meter o machado no tronco do pé de manga, quando este falou novamente:
–Ah, é assim que você pensa, é? Então vamos ver…
E começou a sacudir violentamente seus galhos cheios de frutas e uma chuva de mangas começou a cair sobre a cabeça do carvoeiro, mas este foi esperto, quando viu que as frutas vinham caindo rumo a sua cabeça, saltou fora rápido. Furioso, começou a ameaçar a árvore com tudo quanto é nome feio e já se preparava para ataca-lanovamente com machadadas quando foi surpreendido por outra ideia brilhante do pé de manga.
Havia num de seus galhos, uma cachopaenorme de marimbondos, desses amarelos de ferroadas dolorosas e o pé de manga não teve dúvidas: sacudiu violentamente o galho onde estava o ninho dos marimbondos .E os marimbondos furiosos com aquilo que ameaçava derrubar seu ninho, pensaram que fora o carvoeiro que sacudira o galho e cairam em bando em cima dele, ferroando-o por todo o corpo, com mil picadas.
Desesperado, o valentão do machado se mandou a correr e a praguejar aos gritos, dando tapas no rosto, na cabeça e por todo seu corpo pra se livrar das ferroadas. E nunca mais quis passar por ali, nem mesmo pra buscar o machado que esqueceu por lá.
Moral:
Em defesa da natureza, vale qualquer esperteza.
João Carlos Pacheco é publicitário e humorista, vive em Porto Alegre. Participou da antologia de humor QI 14, de 1975. Para nosso prazer e do leitor, o Seguinte: passa a publicar uma série de suas fábulas, inéditas.