O outsider da política ficou na eleição de 2020, em terceiro lugar, com 11.295 votos. Em busca de ganhar a Prefeitura, o Delegado João Paulo (PP) já articula como um político para ter alianças na nova eleição de Cachoeirinha, ainda não marcada pelo TRE.
O jornalista André Boeira, do Sui Generis, postou dois encontros do Delegado nesta quarta-feira que, como bem descreveu, podem significar mais coisas neste momento de ebulição na política local, já que ainda não há definição de quem será vice na chapa; assim como não há confirmação de que o governo transitório terá candidato.
Antes de compromisso do senador Luis Carlos Heinze (PP) com as mulheres progressistas, na Câmara de Vereadores, o Delegado e seu vereador Marco Barbosa levaram o candidato a governador até a Prefeitura, junto também ao ex-vereador Charlante Stuart, para uma surpreendente visita ao prefeito interino Cristian Wasem (MDB).
A versão oficial, além da cortesia institucional, e de conversas sobre emendas do senador para o município, foi tratar do assunto do dia, a notificação da Corsan para que moradores regularizem poços artesianos sob pena de multa.
Inegável é que o poço é mais embaixo; entre os políticos, só se fala no pleito suplementar.
E reputo o Delegado-Político farejou que a possibilidade de ter o apoio do MDB, caso o partido que comanda a Prefeitura até a nova eleição não tenha candidatura, devido à briga entre Cristian, que quer concorrer, e o prefeito cassado, Maurício Medeiros, que não quer, mas também não pretende facilitar para indicação do colega, na crise que reportei em Maurício Medeiros não quer deixar Cristian Wasem ser candidato a prefeito em Cachoeirinha; O ’morto’ da convenção.
Logo depois o Delegado encontrou com Deoclécio Melo (Solidariedade) na Câmara, onde bateram foto ao estilo de ‘santinho’ de campanha, apertando as mãos. O veterano vereador já estaria acertado para ser seu vice.
Saído do governo após a filha, Aline, ser demitida da Prefeitura e denunciar supostas irregularidades em licitações em contratos da limpeza urbana, mesma área que levou ao afastamento do prefeito Miki Breier (PSB) pelo TJ sob suspeita de corrupção, Deoclécio tem base eleitoral na zona norte, principal reduto de votos de Dr. Rubinho (União Brasil), favorito na nova eleição após perder em 2020 por apenas 318 votos.
Fato é que o Delegado está colocando a teste a forma como era apresentado por apoiadores na eleição de 2020, como um outsider, quase antipolítica, o candidato que denunciava conchavos, venda de votos, toma-lá-dá-cá e não tinha compromisso com grupos políticos e econômicos ou facções que operavam para tomar a Prefeitura de assalto.
Antecipei o ‘novo Delegado’ na semana passada, em Apoio do PL ao Delegado na nova eleição de Cachoeirinha é ’fazer arminha’ contra Onyx.
Escrevi: “… Combinemos, “nova” ou “velha” política é uma fake news moderna. Existe a política. Um exemplo é Bolsonaro, eleito como antipolítica, antissistema e, hoje, nas pautas econômicas e na distribuição do dinheiro, um despachante do ‘Centrão’ e do 'Partido Militar' no Palácio do Planalto. O Delegado parece ter se resignado de que, sem alianças, não há votos…”.
Se uma aliança com o MDB de Cristian e Maurício é mais difícil – já que o partido tende a acertar a divisão de cargos e apresentar candidatura, cuja possibilidade de eleição cresce na mesma proporção em que o TRE demora a marcar data, e a caneta fica na mão de Cristian – a parceria com Deoclécio é quase uma certeza; admitida pelo próprio Delegado em entrevista.
Confirmando, será uma chapa até mais ‘MarxDonalds’ às avessas do que Dr. Rubinho e Jack Ritter.
É que o Delegado só não é mais bolsonarista que seus apoiadores (excluindo Marco Barbosa, que nunca foi do ‘mito’) e Deoclécio, além de ter participado dos governos dos socialistas José Stédile, Vicente Pires e Miki Breier (o qual ajudou a livrar de CPIs e impeachments), pertence ao Solidariedade, partido do Paulinho da Força e que já abriu apoio a Lula.
Ao fim, e, repito, não é uma crítica, para ganhar a eleição, o Delegado parece estar aderindo ao ‘Ser Político’, tão bem traduzido pelo Millôr:
Ser político é engolir sapo e não ter indigestão, respirar o ar do executivo e não sentir a execução, é acreditar no diálogo em que o poder fala e ele escuta, é ser ao mesmo tempo um ímã e um calidoscópio de boatos, é aprender a sofrer humilhações todos os dias, em pequenas doses, até ficar completamente imune à ofensa global, é esvaziar a tragédia atual com uma demagogia repetida de tragédia antiga, é ver o que não existe e olhar, sem ver, a miséria existente, é não ter religião e por isso mesmo cortejar a todas, é, no meio da mais degradante desonra, encontrar sempre uma saída honrosa, é nunca pisar nos amigos sem pedir desculpas, é correr logo pra bilheteria quando alguém grita que o circo pega fogo, é rir do sem-graça encontrando no antiespírito o supremo deleite desde que seu portador seja bem alto, é flexionar a espinha, a vocação e a alma em longas prostrações ante o poder como preparação do dia de exercê-lo, é recompor com estoicismo indignidades passadas projetando pra história uma biografia no mínimo improvável, é almoçar quatro vezes e jantar umas seis pra resolver definitivamente o problema da nossa subnutrição endêmica, é tentar nobremente a redistribuição dos bens sociais, começando, é natural, por acumulá-los, pois não se pode distribuir o pão disperso, e é ser probo seguindo autocritério. E assim, por conhecer profundamente a causa pública e a natureza humana, estar sempre pronto a usufruir diariamente do gozo de pequenas provações e a sofrer na própria pele insuportáveis vantagens.
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