Ia escrever algo hoje sobre o golpe de 64, cometido em um 31 de março que na verdade foi um verdadeiro 1º de abril, e um episódio local, que é dos Grandes Lances dos Piores Momentos, permite-me trazer a polêmica para o chão da aldeia.
Aos subterrâneos, infelizmente.
Dimas Costa (PSD), segundo colocado na eleição para a Prefeitura em 2020, postou hoje:
– Há 57 anos, um golpe de estado tirou dos brasileiros a democracia e a liberdade de votar e de se expressar. Tortura, cassações e censura nunca serão instrumentos democráticos. Que nunca nos esqueçamos desta data. Que nunca nos esqueçamos de lembrar que #DITADURANUNCAMAIS!
No hospício do Grande Tribunal das Redes Sociais, o político de 35 mil votos experimentou críticas na mesma proporção dos 7 a cada 10 votos que Jair Bolsonaro recebeu em Gravataí em 2018.
Nem falo da associação dos comentaristas à canalha que enfiava ratos nas vaginas da mãe, da irmã ou do amor de alguém, ou pendurava filhos de pobres, remediados ou ricos no pau-de-arara.
Reputo assustadora é a ira imensuravelmente maior do que aquela que não se metralha nos responsáveis pela tragédia de mais de 300 mil mortos, ao meio-dia de hoje 512 vidas apenas de nossos vizinhos de aldeia.
Gente, os militares já estão no poder! A logística do sangue está nas mãos dos generais. E sem a ameaça ou realização de nenhum ‘atentado’ praticado por, conforme a identificação de desinformados ou informados do mal, comunistas que vão de anarquistas até, vejam só, PT e PSDB!
Nesta semana temos todos os dias uma bomba de mais de 3 mil vidas perdidas incomparavelmente maior que aquela que explodiu no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário e do capitão Wilson Dias Machado.
Nesta quarta o novo ministro da Defesa, general Braga Netto, divulgou uma ordem do dia tão abjeta quanto a dos últimos 57 anos, passando graxa nos assassinos – da democracia e de pessoas – da ditadura.
É um texto nada radical, mas os milicos ainda insistem em usar como habeas corpus um suposto papel mediador das Forças Armadas, que não se sustenta nos documentos e expõe a tigrada nos anais da História.
Parece-me obvio que os militares 2.1 tentam se descolar do ‘mito’ genocida. É uma narrativa que, assistindo ao noticiário dos últimos dias, conseguiram contrabandear, mesmo que em ‘off’, para colegas e/ou seus chefes.
Como contraponto, recomendo a leitura do The Intercept, em Imprensa dá voz à farsa de que generais se descolaram de Bolsonaro, mas militares seguem afundados no governo, e do Reinaldo Azevedo, em Nota sobre 64 prova que Bolsonaro é incapaz também como golpista. Que bom!.
Ao fim, parabéns a Dimas, o ‘vilão do dia’.
Certamente tua esposa Anna e teu filho Lorenzo podem se orgulhar de não te associares a criminosos e canalhas pendurados desde sempre em diferentes cornos da ferradura ideológica.
Mas, fato é também, que, por não seres negacionista, como tantos que te odeiam ou amam, deves estar vivenciando um dilema pessoal. Acontece que tens também responsabilidade por teus ‘eleitores’. Ou são os eleitores dos outros que estão se manifestando ‘a favor’ da ditadura nas tuas redes sociais?
É como diz no livro das misses, O Pequeno Príncipe:
– Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.